#GERÚNDIVOS DE GRADIVAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA




O céu escureceu por completo.
As árvores balançam-se levemente
Sob o efeito do vento,
Chuva não virá. Será para alhures levada.
Tempos longínquos trazem-me os anátemas do silêncio
– “Sou feliz por me esquecer das horas todas” -,
Rapaz sonhador,
Sentado numa mesinha de quarto de pensão,
A Poética do Espaço,
Gaston Bachelard,
Sobre a cama des-arrumada,
O anoitecer se a-nunciando,
Escrevendo prosa poética,
Clave das líricas epistêmicas,
Mergulhando no “eu profundo”
À busca das luzes do ser,
À cata dos resplendores
Das declinações latinas do verbo.
Hoje, no crepúsculo,
Sentado numa mesa de restaurante,
À beira-mar, buscando enovelar a gradiva
E o neologismo "gerúndivo", que se me anunciara,
Minutos antes ao olhar o anoitecer no longínquo do mar,
Pós atravessar a avenida beira-mar.


Pelas ruas, berbidos, bêbados, messalinas, mendigos dormindo nas calçadas, transeuntes às pressas para pegar o ônibus rumo ao trabalho, às escolas e universidades, começava mais um dia. A pena deslizava nas linhas brancas da página de uma agenda sem eiras e beiras, cinzeiro cheio de tocos de cigarro, assim começava outro tempo de uma trajetória que jamais teria fim.


Os tempos mudaram. No calçadão, pessoas fazendo caminhadas, sentadas à mesa na praia, saboreando porções, tomando cerveja, jogando conversa fora, e eu garatujando palavras numa agenda, no restaurante, bebendo cerveja, hábito desde tempos imemoriais, reduto de prazeres e alegrias, à espera da missa de sétimo dia terminar, não entro em igrejas, a companheira apanhar-me de carro para irmos embora para casa.


Gerúndivos de gradivas reverberam lembranças e instantes do tempo à mercê das águas que trazem frescas utopias.


#RIODEJANEIRO#, 25 DE FEVEREIRO DE 2019#

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