MARIA ISABEL CUNHA ESCRITORA, CRÍTICA LITERÁRIA, POETISA COMENTA A DIALÉCTICA DA VULGARIDADE E A ELOQUÊNCIA NO AFORISMO 607 /**ANJOS DO SENHOR, OUVI OS SINOS DA CATEDRAL**



O autor deste texto reflete sobre a vulgaridade e a eloquência, sendo esta comparada aos sinos da catedral e a vulgaridade aos « anjos do senhor » . Só uma pessoa que tenha o pleno conhecimento do sofrimento sabe reconhecê-lo na face e até na escrita do outro. O autor conhece a alma das pessoas através dos seus atos e publicações escritas e não pelas aparências do rosto ou gentilezas de ocasião que nada representam, a não ser uma simples vénia de conveniência ou hipocrisia. O autor identifica-se com os sinos da catedral que se ouvem bem distante, mas a que as pessoas pouca importância dão, aliás nem compreendem o seu apelo. Quando apela para a nobreza de alma, apontando a negritude do Ser Humano a fim de que se apercebam da sua atrocidade. É quase como pregar no deserto , a sua missão, mas ele não esmorece e continua de pena na mão, empurrando o carrilhão da catedral. Magnífico texto que adorei ler. Quanto à pintura fenomenal deste busto deixou-me extasiada com a perfeição e simbolismo : pensativa, absolutamente mergulhada no seu interior, o olhar absorto e longínquo dá-nos a perfeita mensagem de querer distância, sempre em consonância com o texto. Parabéns aos dois amantes das artes que admiro.


Maria Isabel Cunha


Há-de se apresentar o nível de diálogo e con-versa que você, Maria Isabel Cunha, estabelece e segue descrevendo as suas críticas, comentários, mini-ensaios sintéticos acerca de minhas "cositas", um diálogo e conversa, autor identifica-se com os sinos da catedral que se ouvem bem distantes, mas a que as pessoas pouca importância dão, aliás nem compreendem o seu apelo. Quando apela para a nobreza de alma, apontando a negritude do Ser Humano a fim de que se apercebam da sua atrocidade. É quase como pregar no deserto , a sua missão, mas ele não esmorece e continua de pena na mão, empurrando o carrilhão da catedral. Magnífico texto que adorei ler. Diálogo que abarca o silêncio de inúmeras dimensões da alma e do ser, que numa linguagem e estilo diferentes se re-velam e assumem a responsabilidade da inter-pretação e a in-vestigação. A pena continua na mão, empurrando o carrilhão da Catedral, aqui re-conhecendo eu as trilhas que a crítica literária Maria Isabel Cunha tece na tessitura e tecitura da obra as suas idéias que comungam, conciliam-se nos caminhos de luz nas trevas.


O sino da igreja são a metáfora, o objeto das inspirações e intensões de uma entrega aos Verbos do Ser, em consonância com as con-tingências da ec-sistência, em ressonância com as regências e concordâncias do estilo e da linguagem, das utopias e dos simplesmente frutos da imaginação fértil. Se antes os sinos da igreja, ao re-conhecer-lhes eu audivelmente, significavam o som da dor e do sofrimento devido a algum sentimento de culpa, de responsabilidade, das rebeldias e teimosias que me habitam os instintos, e desejo tornar-lhes o intelecto das in-verdades olhadas através do rosto das efêmeras verdades, a duras penas fora condenado eu por estas reversões e ad-versões e ad-versidades, mas conforme a visão e contemplação da crítica literária, empurrando o carrilhão da catedral, encontro-me eu em paz com os badalos do sino, hoje me são a lírica da música e o destino dos sons que busco realizar, a poesia do som, que, no meu ponto de con-templar a obra que delineio e componho, o músico, cantor, compositor Bob Dylan sabe com arte e engenho tornar "lírica", "letra" de uma música em "poesia musical da alma e das circunstâncias de ouvir os sinos da igreja. Não esmoreço e continuo de pena na mão nesta instância tão sensível e trans-cendente da auto-crítica e auto-investigação de uma liberdade posta em questão: O ENCONTRO DO SER.


O mais importante, seguindo verbis litteris o eidos da crítica literária na/sob a visão do ser, a/o EX-TASE, o olhar absorto e longínquo dá-me a perfeita mensagem de querer distância, sempre em consonância com os ideais, projetos, sonhos, utopias.
Manoel Ferreira Neto


#AFORISMO 607/ANJOS DO SENHOR, OUVI OS SINOS DA CATEDRAL#
GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #CÂNDIDO ANGÉLICO#0//ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Anjos do Senhor, ouvi o Sinos da Catedral!...


As maneiras nobres, finas, delicadas, diplomáticas, as etiquetas das falas e con-versas – características, aliás, em absoluto difíceis de serem encontradas e re-conhecidas em nosso mundo; disseram-me, um antropólogo, ter havido tempo em que a porca "terra" torcia o rabo do lado diferente, nada entendi do diferente, conheço o comportamento da porca de torcer o rabo do lado contrário – têm um tom conveniente e colorido, o que agrada sobremodo aos olhos, à sensibilidade, causando satisfação e prazer à alma e espírito, e, embora demonstrem, de quando em vez, de por vezes, os sensíveis efeitos que podem exercer sobre os homens, sobre os indivíduos, encontram um sem-número de ocasiões para amenizar e temperar as situações e circunstâncias através de atos de delicado assentimento e condescendência, embora estes termos sejam sinônimos, mas o desejo explícito é de enfatizar bem a idéia, ornamentar as cositas do sarcasmo, ativá-las.


Um homem que não tenha tido sofrimentos, não tenha passado nenhuma desgraça, não tenha tido as mais variadas dificuldades, pode passar pela vida sem conhecer, pelo menos em si mesmo, qualquer coisa da possível compaixão, solidariedade, bondade do coração humano ou um suspiro da sua possível maleficência, arbitrariedade, gratuidade, enfim, de sua possível maldade.


Muitas pessoas pensam que alguns modos de me expressar são carregados de uma óbvia ironia, ademais tendo elas descoberto que tenho o hábito de negar para afirmar e afirmar para negar - a companheira num instante e momento de representação dissera que está ficando enlouquecida com os in-versos e reversos, as re-vezes dos ad-versos, como entender e com-preender tudo isso, está pensando em torcer os miolos do lado contrário, os resultados serão outros, evidentemente -, muitas vezes não sabendo se posicionarem e interpretarem o que há de por trás deste hábito, e se recusam as mais das vezes conversar comigo, dirigir-me as atenções, olhar-me no rosto.


Anjos do Senhor, ouvi os Sinos da Catedral!...


Não me é dado re-cusar, refutar algo de mim, acontece a todos os instantes: pergunto-me se posso falar de um olhar voltado para o rosto, porque o olhar é conhecimento, percepção. Penso antes que o acesso ao rosto é, num primeiro momento, ético. Quando se vê um nariz, os olhos, uma testa, um queixo e se podem descrever, é que nos voltamos para outrem como para um objecto. A relação com o rosto pode, sem dúvida, ser denominada pela percepção, mas o que é especificamente rosto é o que não se reduz a ele Aliás, pensam que deveria eu assumir, enfim, o que penso e sinto, dizendo com todas as letras, ao invés de ficar encarapitado em cima do muro, uma expressão muito usada por elas, assim podendo elas endossar minhas opiniões ou simplesmente recusa-las como, além do mais, está bem visível nos bons costumes, nos figurinos mais sofisticados da sociedade e dos indivíduos em particular.


Interessante é que, se digo o que penso e sinto, há uma completa e absoluta insatisfação, os esgares faciais mais estranhos e evidentes, e, de imediato, os comentários atravessam a cidade de norte a sul, de leste a oeste, ser eu um indivíduo irreverente, intransigente, alguém que se pensa e se julga de nobres e finos conhecimentos, não passando de um retardado, bem este termo é muito forte, nem mesmo elas assim o dizem, mas um inconseqüente. Interessante porque demonstram nos olhares e nas faces o desejo de descer eu do muro, de definir os meus termos, e, se o faço, logo demonstram insatisfação, coisa que não entendo.


Bem provável que o desejo delas seja não que eu desça do muro, defina os termos, mas seja de maneiras nobres e finas com as atitudes de ironias e cinismos, com as atitudes de observação das mazelas, achaques, pitis, e outras cositas mais, dos homens. Continuo não entendendo por não ser eu quem use de uma linguagem chinfrim e reles, não demonstre vulgaridade, aliás, se o fizesse, deixaria de ser ironia e cinismo para ser um ataque ou agressividade.
Outras ainda, se não muito poucas, poucas, além disso, pensam que a seriedade de minha linguagem, de meus questionamentos, até mesmo dos meus olhares, são devidos a motivos e razões que as fazem sorrir, às vezes gargalhar, às vezes insinuarem um sorriso muito mal esboçado nos rostos, ou darem pouca importância ao que digo, ao que desejo conhecer e saber, ao que penso e sinto.


O engano da maioria das pessoas é pensar que é através dos ouvidos que há a comunicação com as verdadeiras intenções, com os mais profundos interesses da alma, com os abismos do espírito, e que, portanto, com algumas poucas palavras é já possível saber o que alguém está realmente desejando dizer. A verdade não é bem essa: é sob a reação da mente às informações apreendidas pelos ouvidos que o prazer ou o desprazer são construídos, e assim é que as pessoas diferem tanto em seus pontos de vista.


Digo-lhes sem medos de ferir as susceptibilidades, que a mim concederam um Diploma de Colaborador em tablóides, escrevendo sobre as figuras folclóricas da cidade, e no instante do agradecimento sobre os interesses da alma humana, recebia o diploma por cortesia, mas não tive interesse de diploma por escrever sobre os loucos, os ensandecidos, os mendigos que foram fazendo o folk-lore do munícipio. No outro dia, não se falava noutra coisa senão a minha desfeita ao recebimento do diploma.


Anjos do Senhor, ouvi os Sinos da Catedral!...


Parece-me que pela primeira vez me coloco à distância destas pessoas, cujo único interesse, no meu parco ponto de vista, lembrando-me que o ponto de vista é visto de um ponto, é que não as observe, deixe-as agir conforme lhes aprouver, use da língua e da linguagem como bem lhes apetece, com erros os mais crassos possíveis, com a nobreza de conhecimentos a mais sofisticada possível, com os comportamentos e ações mais inconseqüentes e arbitrários, com os hábitos e manias mais esplendorosos, coisas que os homens todos somos e representamos. Como se os tumultos, insatisfações, bochichos, a observação e a perspicácia dos olhares fossem suspensos, um prêmio para as imensidades do infinito, uma lembrancinha para as secretas chamas da alma, um descanso dos enigmas humanos. Não fossem as pessoas presentes, tomando os seus drinques, degustando porções disto e naquilo, a matraca da língua ativada em todas as linguagens, vendo-me a observá-las, diriam que estou simplesmente criando e fantasiando as coisas, atitude de um homem ridículo. Olham-me de frente, fazem seus esgares faciais, não lhes res-pondo a nada, não sabem o que penso e analiso, se me indagarem, respondo a estilo, mesmo que não agradem; não indagam, não querem ouvir o que não desejam.


No lugar de todas as ansiedades, de todas as angústias, desolações, frustrações, fracassos, uma calma reparadora, uma tranqüilidade que não parece fruto da inépcia e da inércia, mas do equilíbrio entre os paradoxos, entre os antagonismos; atividades infinitas, repousos infinitos.


Anjos do Senhor, ouvi os Sinos da Catedral!...


Creio que com esta atitude de me colocar á distância destas pessoas, apenas olhá-las de soslaio e esguelha, olhá-las no rosto, convoco as falsas testemunhas ao tribunal dos sonhos e das quimeras, para triunfo da inocência imolada. Confundo o perjúrio e revogo as sentenças dos juízes iníquos. Construo no caminho de luz nas trevas, com os materiais imaginários do cérebro, templos e tabernáculos que superam o esplendor de Babilônia. Evoco à luz do sol os rostos de belezas sepultadas há milênios, purificadas dos ultrajes da tumba.


Até mesmo com o sino da Catedral estou agora em paz: ele soa, badala, badala, badala, suponho, da mesma maneira, nas horas de missa aos domingos, por ocasião da viagem de alguém para a eternidade, para o enlace matrimonial de um casal...


(**RIO DE JANEIRO**, 27 DE FEVEREIRO DE 2018)


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