#AFORISMO 591/PÓSTUMO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #PÓSTUMO#)//ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Póstumo.
Nada de imortal, nada de eterno,
Nada de perene, nada de perpétuo.


A morte é-nos, somos vida e morte,
Somos silêncio e algazarra,
Somos solidão e presença de presentes quimeras...


{Efêmero, nostalgias, melancolias,
Vazios, náuseas, tristezas,
Falhas, faltas, equívocos...
Habitam-nos...}
Póstumo
É o nada de ventos
Soprando as brisas leve e suave,
Na {in}-sustentável leveza do ser,
Sibilando nos abismos os sons poéticos
Do espaço, as claves versáteis do in-audito,
Há-de re-versar as antíteses da síntese,
Há-de in-versar as teses da antítese,
Para com-preender as melodias da luz
Em cujas interstícios perpassam na maciota...


Desejo de estar dizendo algo que ultrapasse as letras, desconhecendo as entrelinhas, além das linhas, onde me encontro em verdade, nada havendo que me liberte das teias que, desde há muito, tomou-me inteiro, não pude desvencilhar-me, entreguei-me por completo... Ordinário mundo, vejo, enxergo dentro dessas miríades que a sensibilidade concebe, gera, pare...


Con-templamos as esperanças, sonhos,
Desejamos-lhes, são a vida,
Entregamos-nos, doamos-nos,
Afagamos-nos nos braços da entrega.
Seguimos a estrada, alguém, algo
Espera-nos nalguma estação, casebre,
Nalguma choupana, nalguma vendinha,
Esquecida de poeiras,
E se nada, ninguém estiverem esperando
Horizontes, uni-versos estão de braços abertos,
Arredondando os lábios para o ósculo sereno.


Existe algo superior à Liberdade?
Até o Amor necessita da Liberdade,
A Liberdade escolhe, re-colhe, a-colhe
Quem é o Amor que pulsa no seu corpo, alma,
Qual é a sua Esperança, a que lateja em seu peito,
Melodia do Silêncio,
Ritmo do In-visível,
Qual é o Sonho que lhe corre nas veias,
Qual é a sua Morte, a que está dis-posto a lutar,
Qual é a sua Imortalidade, a por que anseia,
Tremor, temor...


A bomba do tempo explodindo, aeiou, féretro, feto, preciso de amor, de carinho, de poder entender o porquê desta música agora poder revelar sentimentos outros próximos do que sinto e penso, dos verbos e regências de que servir para conjugar os tempos levados nos alvoreceres e crepúsculos, do que penso em sentir, sinto pensar em mim, dos sentimentos de amor que borbulham de prazer e alegria, felicidade nos âmagos da alma, e tudo o mais se me apresenta difícil, impossível, senão em outras situações ad-versas ao quotidiano das fantasias e quimeras...


Póstumo.
Quimeras, fantasias, sorrelfas
No alforge, algibeira, mochila
Desejo de ser inteiro,
Vontade de ser tese de antíteses e sínteses,
Volos de ser antíteses de teses sintéticas,
Requer ser inteiro nas contingências
Neuroses, psicoses, escalafobeticismos,
Pitis, mazelas,
Néctar dos deuses,
Prazeres e risos da própria condição
Quê gargalhada esplendorosa!


Póstumas
São as idéias... pensamentos, ideais, utopias
Que o vento re-colhe, a-colhe, leva consigo
São a sensibilidade, a alma, o espírito
Que re-versam os questionamentos, indagações,
Que de re-vezes de re-flexões tecem com linhas
Trans-versais a solidão de idéias...


Nada havendo de mais prazeroso senão isto de brincar de nada, de nada dizer com a engenhosidade e arte de seguir o fluxo da consciência, às vezes contrariando em absoluto os princípios da linguagem e estilo eruditos, criando imagens que só com muita intuição se pode in-vestigar o que porventura possa significar, se é que signifiquem alguma coisa, mas que dizem!...


Póstumas
São a percepção, intuição, imaginação
Que fecundam e febundam os volos...
Modos de olhar o mundo,
Os céus estrelados lá no alto,
A magnífica tensão do espírito,
O impulso de verdade.


Postumas
As palavras seguindo o fluxo de algumas emoções
Que se mostram leves,
De uma leveza sem frios
Nem invernos
Que a(s) cubra(m) de desejos de poesias,
Flores que a(s) ornamente(m),
Dando-lhes um caráter ingênuo e inocente,
E toda a busca fosse primeiro entender
Esta imagem que se me apresentou ao espírito,
E, ouvindo música sendo executada e interpretada, cantarolada
Por um vocalista,
Podendo imaginar os seus gestos e atitudes
Em dança com os desejos e vontades
Que habitam o íntimo,
E só a liberdade irá tornar possível o encontro e o desencontro,
Outro passo distante do longínquo imaginado...


E diz Machado de Assis:
"Há homens que já nascem póstumos"


(**RIO DE JANEIRO**, 20 DE FEVEREIRO DE 2018)


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