ASES VELAM O PÔQUER: Graça Fontis, Ana Júlia Machado, Sonia Gonçalves E Maria Isabel Cunha Manoel Ferreira Neto: TEXTO GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA



Atitude inédita de minha parte. Convidei através do "Bate-papo" as minhas críticas literárias Graça Fontis, Ana Júlia Machado, Sonia Gonçalves, Maria Isabel Cunha para um jogo de pôquer com o Aforismo 580  /**ASES VELAM O PÔQUER**/, tecendo as suas críticas, com o projecto de "quem mais se aproxima do eidos do texto". Não houve qualquer intenção de colocar as quatro num jogo de superioridade, mostrar dentre as quatro quem interpreta com excelência, excelsitude - nas letras, como nas coisas da vida, ninguém é superior ou inferior. A intenção era quem se aproxima do eidos da obra.

Se penetrarmos, mergulharmos, afundarmos na questão da Leitura de uma Obra, compreendê-la, entendê-la, temos obrigatoriamente de assumir que a grande maioria das pessoas não sabem ler, passam os olhos nas palavras da obra, nada compreendem, nada entendem, o que dizem sobre o "passar os olhos nas letras" são subjetividades, sorrelfas e quimeras do "eu", diante do vivido, experienciado, o que subverte, adultera a obra na sua integridade. Para compreender, entender uma obra faz-se mister, é condição sine qua non saber ler, ter critérios, princípios, métodos de análise, em qualquer perspectiva, intuição, percepção, imaginação devem se conciliar ao intelecto, à razão.  Assim, vem à tona a interpretação, o ensaio, o comentário, assim nasce o crítico, e a obra não sofre qualquer desvio, abre-se inda mais para outras análises, interpretações, um jogo sem fim.

Certa vez, no curso de Contabilidade - fazia eu dois cursos, Contabilidade e Magistério em Escolas diferentes -, a professora do curso de Contabilidade chamou a atenção para a interpretação de uma obra de Guimarães Rosa, Hora e Vez de Augusto Matraga. Disse-lhe eu com a língua em riste: "A senhora não sabe ler uma obra literária e quer que nós os alunos o saibam, interpretem. Aliás, a senhora sempre decorou os manuais de Literatura para lecionar. Nada entende de Literatura." Óbvio, a professora do curso de Magistério estava nos ensinando a ler uma obra literária. A professora do Curso de Contabilidade deu-me um esculacho daqueles, dizendo de minha pernosticidade, estava eu me "achando", e, após a repreenda, mandou-me retirar da sala.

E isso acontece sempre. Quando se apresenta uma realidade, uma consciência das coisas, todas as vozes se levantam para a questão de a pessoa achar-se superior, sentir-se no topo das coisas e do mundo. Mas não refletem, meditam no que está sendo dito, revelado. Aqui mesmo a grande maioria dirá que quero mesmo é aparecer, só eu sei ler e interpretar. Não retiro as minhas considerações, é a minha consciência, e dela não abro mão. Tomo em mãos uma questão: hoje a função primordial da Filosofia, da Estética, da Linguística, da Semântica é ensinar os leitores a lerem uma obra poética, literária, com método, critério, princípios, para que os leitores degustem o sabor das mudanças e transformações da Existência a partir da Literatura, Poesia. O Magistério, seja em qualquer nível, não ensina ninguém a ler; na Universidade, os professores entupigaitam os estudantes de metodologias de análise e interpretação, elas são apenas um princípio, a pessoa mesma deve procurar o prisma de sua metodologia, conciliada às dimensões sensíveis, culturais, intelectuais, racionais, ec-sistenciais.

Acima trata-se de um preâmbulo do jogo entre o leitor e a obra, e nas condições apresentadas a obra sempre ganha a partida, pois que possui a inteligência, a sensibilidade, sabe as tramóias, os trambiques. Jogo de pôquer requer a imaginação e a criatividade. Sabendo ler, o leitor des-cobre sua imaginação e criatividade.

Até o presente instante, as críticas Maria Isabel Cunha e Ana Júlia Machado já se apresentaram no jogo, com as suas visões, interpretações e análise do Aforismo. Não é momento ainda de minha avaliação, quem mais se aproximou do eidos da obra, restam as análises de Sonia Gonçalves e Graça Fontis.

Aguardem estas análises e minha particular avaliação. Quero que os leitores assimilem que não colocarei nenhuma delas no topo, considerarei os ângulos, os prismas de análise.

(**RIO DE JANEIRO**, 11 DE FEVEREIRO DE 2018)  

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