#AFORISMO 602/TABERNÁCULO DO ETERNO - ELEGIA AO NADA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #O EU E O OUTRO#)//ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



O espírito do nada per-vagando solícito a estrada de acesso a outros sítios, a outras realidades, per-seguindo as abóbodas do tempo, poeira deixando nos pretéritos da distância, subjuntivos da proximidade, pisando outras poeiras, sentindo-as presentes na sola dos pés, companheiras de peregrinação as margens.


Sendas, veredas, trilhas...


Nada solitário, nada silencioso, nada introspectivo, nada circunspecto, nada sorumbático, nada de macambúzio. Nada que se projecta além da ponte partida, além do mata-burro, além do abismo, aquém da caverna onde Mefistófeles e eu perscrutamos as chamas eternas brilhante, e que poesia na imagem que imagino nós dois, poética do fogo gastônico ou chelardiano.


Lúdicos dogmas da verdade pre-escritos sob as trevas medievas e medievais do nada secularizado, a ressurreição nadificada de místicos mistérios do verbo tornado carne, míticas sinas da regência tornado cinzas que re-nascem dos ossos, a redenção cristalizada de luciféricas ganâncias do poder e da glória, de míticos enigmas dos pecados capitais contra a honradez e dignidade, em prol das maledicências e viperinidades, vaidades, volúpias dos bens materiais, evangelizam forclusions e manque-d´êtres da sensibilidade e espiritualidade, refletidas atrás do espelho do não ser, os deuses do Olimpo re-leem a Sagrada Escritura, circundados de imperadores, Mefistófeles dança forró ao som do Cântico dos Cânticos executado no cavaquinho, projetando as sombras divinizando as gnoses metafísicas da vacuidade, os adeptos, alíbis, capachos, prosélitos naquela correria de discursos e mais discursos na Tribuna do Senado, do Congresso Nacional, da Câmara dos Vereadores, para emendas e cláusulas outras que beneficiem mais e mais a corrupção deslavada, homérica.


Além das águas do rio, trans-cender as con-ting-ências, trans-cender o campo que é de queimada, câmaras de gás, guilhotinas, forcas, injeção letal, fuzilamento, choque elétrico, envolver-se na colheita do trigo, do arroz, do feijão, das frutas que saciam a fome, a sede, o seu eidos não tem limites, o seu "it" é o in-finito, onde entregar nas mãos feitas concha do silêncio in-fin-itivo o húmus para a luz do verbo, para o som rítmico e melodioso do ser, para a iríase do espírito.


Nada que re-nasce do encontro com o In-finito, encontro de volúpias e ex-tases do que é o eterno. O nada traz em seu alforje a consciência-de si, em sua mochila as utopias da liberdade, em sua algibeira a esperança do pleno, no alforje inda a consciência-de desejos, vontades, sonhos, da liberdade em questão. Por que percorreria as con-ting-ências do não-ser não fosse o projeto de re-nascimento, re-fazimento? A vida não lhe estenderia suas mãos para caminharem juntos não, se não comungassem, no In-finito, serem uno-verso do verbo eterno do absoluto que é a dialética do trans-cendente que trans-cende a trans-cendência do eterno, a trans-cendência e eterno.


Com certeza, há instantes que sinto bem
presente e forte
uma necessidade cada vez maior
de explodir a bomba do tempo
- bum, explodiu a bomba do tempo! -,
rasgar todos os verbos,
todas as sedas da metafísica da
Ilha de Itacetim...
"sem colocar os advérbios entre vírgulas,
sem pôr as reticências... além, as intenções",
mas não encontro engenho e arte;
sinto-me insatisfeito,
sempre pronto a inovar,
a ultrapassar-me,
Ruminante de particípios e genitivos.
Aquela velha estória/história
Já antiga:
A instigação concebe inspiração
Inda mais sem precedentes.


Nada silêncio, nada solidão, nada in-finitivo do tempo, nada pretérito das imperfeições e indicativo do vir-a-ser, nada-genitivo da ampulheta do presente e do pretérito... no deserto, não me sabido dizer com/sem percuciência, a re-versão, na colina do vazio os lobos a uivarem às estrelas e planetas, pretérito e presente, quiçá por inscripto na Tábua da Verdade, comunhão que concebe o que há-de vir.


O homem é tão efêmero que,
mesmo onde está
verdadeiramente seguro da sua existência,
cônscio de sua liberdade e utopias,
sapiente de seus mistérios e evidências,
sabedor de suas sinas e transparências,
ciente de seus volos,
no único lugar em que sua presença produz
uma impressão real,
uma visão verdade,
ou seja na melancolia, na nostalgia,
na macambuzia, na sorumbatia,
no coração daqueles que lhe são caros,
na alma daqueles que lhe sensibiliza,
mesmo aí deve apagar-se
e sumir o mais depressa possível!...


Nada herege à luz dos dogmas e preceitos, nada proscrito à mercê dos preconceitos e discriminações, mas nada que: eiva o coração de dimensões de sentimentos outros do inter-dito da sensibilidade, inter-dito que são visão-do-espírito, visão-do-ser. Nada que re-conhece o coração ser o templo da espiritualidade, ser a efígie dos ideais da perfeição, o sangue que corre nas veias a gruta do ser.


Quanto mais o nada peregrina na metafísica das poeiras da estrada mais sente a presença do vale florido do In-finito. Quanto mais a vida, sendeira da luz, trilha a gnose do há-de ser mais sente o desejo, o volo de no In-finito uni-versar o pleno.


Pelas análises
mais zelosas do intelecto,
acuidades do logus, logos e cógito,
as mais pacientes
e minuciosas intros-pecções
circuns-pecções,
pros-peccões;
desta forma,
o espírito do homem,
no de-curso destas análises,
não pode impedir-se de ver
a si próprio,
podendo até fantasiar o si-mesmo,
conforme a sua perspectiva
e somente nela.
Enxerga-se um palmo
além da ponta do nariz,
a existência dobra as curvas de confins.


Confins...
Isento de distância,
Destituído de longitude,
Sorrelfas, quimeras de tempos
Que não voltam mais,
Seria que a Maria Fumaça
Que levou Glória,
A eterna e imortal Glória do poeta,
Soubesse os trilhos para confins?
Dobrando as curvas de confins,
Resvalando-se nas pedras da montanha,
Do abismo, os sibilos de vento,
Segue a Glória do "Café-com-pão-manteiga-não,
Café-com-pão-manteiga-não",
Pão-nosso dos devaneios poéticos,
Pão-nosso dos desvarios estéticos,
Pão-nosso das loucuras primas da obra,
Pão-nosso das contingências
Na roda-viva das utopias e esperanças,
No redemoinho das quimeras e in-verdades da verdade,
No catavento da liberdade livre de questões e perquirições,
A Maria-Fumaça desbravando vales,
Sertões, Bosques,
O poeta com a sua Glória
Seguindo os caminhos...


Quanto mais o nada e a vida entrelaçam as mãos na jornada verbo-do-ser-adentro mais evangelizam as sendas silvestres da esperança do "Ser", essa dimensão trans-cendental que inscreve a ec-sistência no TABERNÁCULO DO ETERNO.


(**RIO DE JANEIRO**, 25 DE FEVEREIRO DE 2018)


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