#AFORISMO 596/A VIDA QUEM SOU# - GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #ALMA POÉTICA#//ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



O melhor da liberdade por vir e os bons tempos ainda não terminaram.


Antes dos Beatles e ontem,
Ontem de vinho, ontem de flores,
Envelhecendo no tempo,
Des-abrochando no vento,
Quando o homem não podia inda
Sussurrar palavras de sabedoria,
Ritmos e melodias da liberdade
E os bons tempos realmente acabaram?
Percorro as alamedas blues do tempo e do ser,
Dos verbos e ventos,
Asas de prata...


Obtenha eu a cor-agem e a pers-picácia de des-crever o que me perpassa a alma, o que me traspassa os verbos do não-ser, a vida quem sou, o sou que a vida é-me, deixando-me, às vezes, ensimesmado e taciturno, circunspecto e sorriso esboçado no semblante, buscando algo em que possa apoiar-me, em que possa sentir-me seguro para o que há-de ser, desejando alguém com quem trilhar os passos, com quem entre-laçar a mão, sentindo haver mútuo sentimento de amor, mútua entrega de corpo, alma e espírito, sem que sucumba a mim, enfie-me por um buraco sem fim, e imediatamente deixo de ter necessidade desta cor-agem, deixo de ter necessidade do outro, amo a solidão, silêncio, a vida quem sou, o sou que a vida é-me. Que me importaria ter de andar aos encontrões pelos passeios, ou atravessar as ruas, patinando na lama, para me acautelar dos carros? Alegrar-me-ia a consciência de quem sou e represento alguém no mundo, sou cidadão do mundo, sou porta-voz da cultura de minha nação. Sabendo que me seria possível construir os caminhos do campo, esburgaria voluptuosamente um osso de presunto.


É preciso viver à deriva em plena consciência. É preciso ser consciente pervagando no tempo que se esplende infinitamente. Em direção à morte ou à vida? Avançar para a morte é viver ainda; a morte, supremo enigma, procurando reduzir a parte des-conhecida de meu destino, o in-audito do ser que me habita, mistérios, enigmas de minha condição humana.


Seria um nunca acabar o dobrar do destino às avessas. As Parcas são mito simplificador. Atalham até onde? Será possível, vivendo, não o sentirmos correr através de nós, não nos sentirmos suspensos nele. Alguns tentam-no. Procedem “como se o mundo tivesse principiado com eles, segregado por eles como a teia pela aranha”. Sem razão de censura esta atitude aos jovens. É a oportunidade que têm para avançar. Aos mais lúcidos pouco importa que saibam que a teia que tecem é frágil. Aos mais sábios nada importa que a teia seja apenas fruto da imaginação fértil ou desejo de sublimar o incompreensível. Continuam a estendê-la.


Talvez possa des-lizar nas águas baixas do sono onde os fantasmas acabariam por afogarem-se. Detesto encontrar-me com essas estratificações do ser que são as lembranças, recordações. Desejaria esgotar toda a sensação no mesmo instante para que não tivesse a mínima oportunidade de voltarem a surgir.


O riso nunca dirá adeus, se o disser os sonhos hão de estrangular as volúpias inebriando a consciência, as utopias hão de esganar os êxtases seduzindo as vontades do eterno. Conjugar viver no infinito da primeira pessoa. Talvez o nada podendo ser tudo e o tudo jamais será nada.


Tenho profundo amor e ad-miração pelo cheiro e pela flor. A flor tem pétalas lindíssimas, um caule forte, dona da raiz. O cheiro, o melhor sentido, exala, sublime, o doce perfume da compaixão e da solidariedade entre os homens. Nasci num hospital cercado de rosas brancas e amarelas no jardim. Pergunto a mim onde nascerão as flores, frutos e, sem resposta, dou um trago no cigarro, expelindo a fumaça levemente, onde se ouve o silêncio e o sibilo de vento, escrevo, faço sonhos na condição de semente, faço esperança na condição de raios do sol a numinarem os caminhos de trevas.


Reconheço o tempo, não como justificativa, explicação, mas tão somente porque intenciono ser conhecido de mim, de conhecer-me nos outros, a quem dedico amor, e mesmo pelo ideal de humanismo e humanidade, de transformação e metamorfose.


Indico as íntimas possibilidades. Não devolvo as coisas, não as modifico: de as esquecer seria o caso. Se busco des-vendar os acontecimentos, surge-me verificar a dúvida, de conhecer o sentido das atitudes, com o fundo do pensamento deparar-me. É no cérebro do homem que todo o esparso assume número. O que o indivíduo re-clama deixo impresso. Sinto algo dizendo: “Você irá conseguir saber a sua estranheza!...” O estranho é de outra ordem. Os frêmitos das ondas - iévski de docas e dosto de soleiras da montanha tocadas pelas águas, com as águas na alma, nada são senão quando recuperadas e enquanto os significados disso não fizerem harmonia. Outras coisas vão nascendo, surgindo no mundo. O enorme sentimento de carinho e afeição levam-me às alamedas tombadas no litoral, às veredas cobertas de neve em Londres, Lisboa, Paris, e mesmo em Pasárgada, Pitibiriba É sobre este sensível espelho que a criação in-fletida se cobre e se comove. E, no silêncio, a esplêndida manhã afigura-se alargar em redor, mais suave e mais calma. O longínquo horizonte resplandece, finalmente recordado na luz, com dourados de sol, brilho de rio cristal, fundindo-se na névoa luminosa, onde as vertentes, em tons esverdeados, têm quase transparência, como feitas de substância nobre, como criadas de inspiração sublime.


É para poder mirar-me no seio que a alma protege nela a pureza. Em situações passadas, vislumbro as presentes, busco síntese. Ã espera de um escrever altivo, sigo-me no mundo, única circunstância faz-me desligar de tudo. Empreendo verdadeira Ode à Alma, conhecendo os labirintos. No fundo, amo-a, sem a saber. Há muita verdade nisto.


Estivera silencioso, nada há que me faça negligenciar a perfídia, esquecer a infâmia, menosprezar o apelo. Alimento-me, inda, de valores encontrados no céu límpido e nítido. Que me importa o que dizem a respeito de não sei que montanhas e serras que se seguem no meio do mar?


Quando o mundo decide virar vulgar e hipócrita, deixa-se dilacerar e engole o que há de fútil e faminto, saciar as fomes e sedes seculares e milenares. Prolongar-me deste modo é a escolha. Sinto o silêncio da noite, olhando a claridade da luz das estrelas, da lua.


As imagens re-tornam a en-cenar frente aos olhos. Assisto ao processo através da intuição e percepção. Estou em outro lugar in-conectado desta missão, desta dimensão, que ora engole as ondas. Olhar mais simples são as emoções mais livres. Vislumbrar mais humilde é a fisionomia mais lúcida e transparente. A respiração menos densa e forte é o corpo mais desenvolto? Um andar mesmo de adolescente na fase de suas grandes conquistas sentimentais e amorosas.


O que deveria acrescentar no concernente às descrições de acontecimentos da vida, às imagens e símbolos que empreendo ao longo da escrita, que muito estão a surpreender-me, e até agora não sou capaz ainda de des-cobrir o que seja, não sei o que me impede de perceber? Creio que não sou homem tenso, como em algumas cositas minhas, busquei de estilo e modo identificar. Também não vou dizer que seja homem calmo, tranqüilo, o que não seria verdade.


(**RIO DE JANEIRO**, 23 DE FEVEREIRO DE 2018)


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