#AFORISMO 593/ESCOPO DA INTIMIDADE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA(TÍTULO: #FORUM ÍNTIMO#)//ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: Aforismo



Natural o ciscar a terra por tempo, pequenas esvoaçadas, até o voo profundo. Quê delícia o estar no ar, sob o contato do vento, vislumbrando serras, montanhas, abismos, rios, mares, a liberdade plena!... Mas, no momento do voo, temos de ter consciência de que nos servimos e bem no tempo de ciscar a terra, as pequenas esvoaçadas, por qualquer trajeto estarão presente, deixarão seus vôos e traços. Sem esta consciência, o voo não tem qualquer sentido, valor algum. No voo, vamos nos servindo mais e mais em toda a trajetória que jamais terá fim, voaremos por sempre.


Alguma coisa em mim
sucede a doer em surpresa
e o meu corpo
arde numa volúpia eufórica,
propulsa,
queima-se
num desejo estonteante
de polidez, nobreza,
de finesse, notoriedade.
Alguma coisa em mim
continua a latejar em expectativa
e a minha carne
ferve numa intenção
de
amor,
compreensão,
carinho,
afeição.


Alguma coisa em mim na continuidade
Dos verbos e das declinações latinas
Põe-se a ruminar as conjugações
Nos simbolos e signos de seus tempos,
A inspiração ascende-se à extensão do espaço,
A neurose de perfeição afia as suas lâminas.


Horizontes, universos são inúmeros, vamos passando por eles, conhecendo-lhes, sentindo-lhes, vivendo-lhes, e vamos seguindo, cumpre sermos sempre jovens de ideais, utopias, sonhos, esperanças. Os horizontes, universos não tem limites. Para nossas asas não há limites, estarão sempre flanando, seguindo os caminhos do espaço. Sonhos dentro de outros sonhos, dentro de outros sonhos. E vamos voando, voando, voando, voando. Asas de prata brilhando aos raios de sol da manhã. Toda a sabedoria do voo ninguém irá contar, mas habitará a nossa memória, sensibilidade, espiritualidade.


A fumaça do cigarro
habita o escopo da intimidade,
Nela a presença da vontade
de trans-parência, verdade
Inda que efêmera.


As imagens retornam a encenar
frente aos meus olhos,
As luzes e contraluzes re-inicializam
a re-presentar a sensibilidade, criatividade.
Levantei com o sentimento
de estar sendo consciente.


Não há
senão uma atitude sincera.
Em verdade,
só eu participo de sua orgulhosa liberdade.
A necessidade de doar-me
vem ligeira à minha consciência.


Não basta ser sensível
para permitir a autenticidade,
para con-sentir a originalidade.


Desejo sentir o amor,
transformar-me,
transmudar-me,
modificar-me...


Como um estilo,
emergir das profundezas tumultuosas...


Vou iniciar-me
à beira do limiar do infinito,
onde também começam
os horizontes,
Vou re-inicializar numa
Ponte para nenhum lugar,
Re-costado ao parapeito,
Observando as águas passando,
Onde também são concebidos
O "eu".


As vaidades deliciam-se
com a intimidade,
burilando os olhos nus.


Élans de última inspiração, derradeiro artifício - genesis de re-viver outras poéticas versais das querências, desejâncias do ser, plen-itudes da esperança mais íntima e profunda, a fé na cintilância do In-finito que re-vela o nascer do sublime, re-novando o tempo, in-ovando as fin-itudes, paradisíacas as imagens das flores des-abrochando nos instantes de con-templação do que há-de ser, edênicas águas dos rios que seguem os caminhos do tempo em direção ao além, ao fora do mundo haverá além?, sempre conjugando o verbo travessia do in-audito ao perfeitamente audível de sons do eterno, do belo, da beleza, da estesia, extasiando o ouvido para os sons, ritmos, melodias, acordes do Amor-Silêncio.


Élans de última inspiração, derradeiro artíficio - além de ser-me, ser em mim, re-vivência do outro, orvalho do que trans-cende, neblina do que trans-eleva, garoa do que trans-diviniza, espiritualidade in-fin-itiva da poesia, primevo aforismo de élans do puro, da pureza, magia plena do sonho uni-versal da perfeição, magias orvalhadas do pleno, do perpétuo, do perene, magias de sutilezas reincidentes, coincidentes.


Quem sou eu no instante
em que negligencio
a consciência,
com o desejo
límpido de instalar-me
unicamente
em nível
da subjetividade?


A alma silenciosa,
Circuns-pecta, intros-pectiva.
Ouve as vozes da tristeza,
Ouve-lhes os lamentos,
Ouve-lhes as lamúrias,
Sussurros de ressentimentos,
Murmúrios de mágoas,
Cochichos de frustrações,
Gargalhadas de alegrias,
Felicidade, de hipocrisias e falsidades,
Ouve, ouve, ouve...


Ontem, enquanto deambulava,
Entre os canteiros do jardim,
Ouvi trino de pássaro
Não ouvira antes,
Estava pousado na grimpa
Da palmeira,
- De onde me vem esta id-ent-ificação
tão sensível e subjetiva com a palmeira? -
Não me vem de Gonçalves Dias.
Tampouco o cemitério ser apresentado
Aos homens, circundado por palmeiras -,
Sem óculos, não o vira direito
Havia um nublado que o circundava.
Esfreguei os olhos com a palma da mão.
Voara... Átimo de segundo.


Alço voo profundo aos auspícios do In-finito
Sobrevoo este átimo de segundo
Que me perpassa súbito,
Sentado no degrau da escadaria,
Perscrutando o campus,
Raios de sol incidem nas flores, nas folhas
O professor diz ao discípulo,
Subindo os degraus:
- O eu é um verso desejando a arte do soneto.


Penso com os botões, sinto um sorriso nos lábios, aquele sorriso desenxavido, longe daquilo de dois quartetos, dois tercetos, quatorze versos, o último constituindo a "chave de ouro", mas soneto que mostra os ases de seus jogos, os verbos de sua regência... Assim penso e sinto "eu": uma nota caída da melodia dos volos dos segundos antes do sono do ritmo de sonhos que desmancha todos as ondas do mar e une as terras mais longínquas.


(**RIO DE JANEIRO**, 21 DE FEVEREIRO DE 2018)


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