VERSO UNO, ENCONTRO DO NÓS - IN '"UNICIDADES", DE GRAÇA FONTIS Manoel Ferreira Neto: CRÍTICA




Sobremodo complexo isto de tecer comentário, crítica de uma obra que fora dedicada ao crítico, isto por in-correr no sério risco de análise e interpretação subjetivas, esquecendo da essência, eidos da obra, o que traz no inter-dito. Aliás, em qualquer circunstância, a análise e interpretação do crítico devem exclusivamente fundamentar-se na obra em si, a objetividade da crítica deve estar presente.


Contudo, há dimensões nesta obra que devem ser avaliadas, deixando a dedicatória em suspenso, estar ela em nível do dito.


O poema revela as mãos entrelaçadas de sentimentos e emoções, de desejos e utopias do Amor, o que une dois seres, dois amantes, o que fundamenta o verso-uno, encontro do "eu" e do "tu", o "nós", de duas vidas que se entregam à busca de realizar a espiritualidade. Esta realização carece de perpassar "... fronteiras/E refazer com simples movimentos..." o campo de pouso, o encontro com as esperanças e sonhos mais íntimos do Ser, o que nele habita a conduzir à Koinonia, "comunhão", compõe e produz a felicidade, a alegria, o Amor em sua dimensão mais profunda, e com algo além, pois o Amor é bem mais que tudo isto, além-do-amor, amor livre do amor, circulando, projectando. Gestos sensíveis passam a ser, "na largueza das seduções", atitudes espirituais e espiritualidade das atitudes do mesmo modo que são os sonhos do verbo amar tatuados de toques. Amor e sonho do verbo amar, através das seduções, "eu" e "tu", "nós", plantam, regam sentimentos e emoções, sensações no "denso jardim suspenso" das utopias e esperanças toques, retoques do vivido e experienciado, do realizado e do inda semente do porvir das realizações "símbolos" e "enigmas" da verbalização da vida e espacialização do Ser onde coração e alma, alma e espírito pulsam unidos e quentes de desejos, vontades, aspirações, o florescer da semente alarga as dimensões do espírito, creator de novos projectos, de nova sensibilidade de o verbo do amor se fazer substância, criar-se e re-criar-se a si mesmo, "esculpir verdades e segredos", "velhas e novas histórias", dilatando os uni-versos, os amantes se inaugurarem sobre as querenças do verso-uno, da "unicidade" pela vida, pelo tempo da vida a dois. A sensibilidade e o sensível do Amor são os ecos da Vida em suas dimensões mais profundas e abissais, abismáticas, eco à espera do "sopro dos lábios", o gerir o mundo no "reflexo reluzente" do "jardim da vida", ressuscitando o "Sol-riso", ou seja, estirarem-se os amantes ao sol feliz. O sol-riso é trazer para dentro do Ser, da Alma; o sentimento desse sol-riso passa a ser o Espírito da Felicidade e da Alegria, fornecendo novas direções para o há-de ser do Amor, a continuidade das esperanças que se fazem no realçar o Ser, atribuindo aos sentimentos a paisagem, o panorama das "aprendizagens e reconhecimentos" da entrega e da vivência.


"UNICIDADE", poema de Graça Fontis, é o fogo de uma emoção, de um sentimento de amor entre dois amantes, dois seres à busca da completude do Amor em sua dimensão profunda e abissal, nascido da esperança da Espiritualidade e do Espírito de estabelecer a essência da Vida, que é o encontro do Amor e as perspectivas existenciais do Verbo UNIÇONO da Felicidade dos Seres-Amantes.


Manoel Ferreira Neto


UNICIDADES
GRAÇA FONTIS: POEMA PROSAICO/PINTURA


Ao meu amadíssimo marido, Manoel Ferreira Neto!


POEMA PROSAICO


Ao contemplar-te redescobri o Sol-riso
Você que perpassou fronteiras
E refez com simples movimentos
Nosso campo de pouso
Sob o vislumbre de meus olhos
Impactados e arrebatadores
Dos gestos mais sensíveis
Na largueza das seduções.
Em unicidades plantamos, regamos
Um denso jardim suspenso
Delator dos sonhos
Em nossos rostos sequiosos de amor.
Cumplicidades, tempos, palavras
Toques, retoques, deslizam, dançantes
Vai-e-véns tangenciados
Libidadas loucuras, símbolos e enigmas
Extraímos... desvelamos
Nos sopros de nossos lábios mordidos
Flexíveis aos possíveis e impossíveis
Risíveis pela sapiência irônica
Da vida onde coração e terra pulsam
Unidos e quentes em nossos corpos.
Gritos surdos ensandescidos
Aprendizagens e reconhecimentos
Uníssonos fluem emergentes
Do mais excitante reflexo luzente
Esculpimos verdades e segredos
Velhas e novas histórias
Dilatando esse pequeno universo
Únicos habitantes... somos
Superfície diluída por devaneios
Quimeras oceânicas e incontida
Neste casulo... resguardados
Neste jardim da vida!


GRAÇA FONTIS
Rio de Janeiro, 12/06/2019

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