#REGÊNCIAS DE PROSCÊNIO VAZIO DE NADA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




O proscênio absolutamente vazio. O tablado nu.


Pequena estiagem que disfarça o olhar fixo numa alegoria ou num pó. Única vela que retoma santos num símbolo nu, num signo despido. O país prende a respiração. Salmos na igreja de Cristo estendem os braços... Desejo recente, forte, definitivo.


Há-de o nada circunscrever nos limites do mundo, sob as brumas da noite a descerem no crepúsculo, perspectivas e prismas de pensamentos e ideias outros que preambulem o que há de mais profundo, segredos da alma, sigilos dos instintos de rebeldia e insolência no que tange aos princípios da verdade, dogmas do saber, preceitos do sublime que, ao invés de numinarem os desejos da liberdade, algemam as conjugações dos sentimentos, acorrentam a regência das visões futurais re-versas às in-vers-itudes do encontro e da glória do Ser.


Luz, sentidos e palavra... Ruas imersas em sombra progridem da arte a consciência humana.


Há-de as sorrelfas do bem e do mal devanearem respostas a todas as perquirições, questionamentos de por vezes o mal servir divinamente aos anseios do bem, o bem servir de maledicência para as circunstâncias da consciência; serem desvarios seguindo as trilhas que levam à extasia das coisas visíveis e invisíveis.


Solidão. Delito inconsciente. Correntes internas. Tudo. Vento. Mudo vestígio do caos. Silêncio, silêncio, silêncio... Muros mitológicos de sonhos.


Há-de o vazio con-substanciar o efêmero dos valores de caráter e o eterno das virtudes dos juízos que, alternados em seus ângulos de percepção das utopias, cristalizam de modo irreverente os volos da felicidade e saltitância com o des-abrochar das pétalas de rosas, flores das orquídeas no amanhecer das quimeras da consciência, e muito apesar das circunstâncias das náuseas sentidas ao longo da vida.


Perscrutando folhas e flores primaveris, orvalhadas da alma, pressinto em mim miudezas de sensações que de pers em pers, iríadas em iriadas, éresis em éresis do não-ser nasce o in-verso precedendo o verso, surge o re-verso antecipando a verdade às sara-palhas do vai-e-vem que é concebido de gerúndios, particípios, in-finitivos das ilusões e idílios a-temporais, a perfeita leveza do ser.


Há-de os nonsenses dos pensamentos exclusivamente voltados para o delineamento do que há de ad-verso e contro-verso nos conhecimentos da essência das coisas mundanas, das sabedorias terrestres a tergiversarem os linces do que nutre, alimenta as profundezas da fome, das carências, estruturarem as vias por onde palmilhar as ilusões e fantasias de outras concepções e categorias da nobreza.


Quê sujeiras o vazio deixou - vento-bordas do perpétuo! Inimaginável!... Indescritível!... Inconcebível!!! Vento algum vindo de algures leste digna-se a soprá-las aos confins dos horizontes. É entregar-me solene e solícito nos braços parnasianos das insolências de saber-me desprovido, destituído de essências. Entrega que não tem fin-itude.


Há-de as náuseas verbalizarem todas as trafulhas do bem e do mal no jogo poquerizado das perspicácias do olhar as dimensões inauditas do perene, da engenhosidade e arte da língua que sonoriza os vernáculos da querença de linguísticas que esclareçam os mistérios existenciais de sofrimentos e dores.


Ergo-me para uma nova manhã – o meu caminho é feito de caminhar -, docemente viva. Minha felicidade é pura, transparente, como o reflexo do sol na água do lago. Cada acontecimento vibra em meu corpo, como pequenas agulhas de cristal que se estilhaçassem inteiras. Depois dos instantes curtos e profundos, vivo com serenidade durante largo tempo, compreendendo, recebendo, resignando-me a tudo. Meu rosto é leve e impreciso, meu olhar é sereno e indiferente, a respiração encontra-se lenta e comedida, boiando entre os outros rostos, olhares, respirações entre os outros rostos vazios e opacos, seguros, como se eu ainda não pudesse adquirir amparo e conforto em qualquer expressão, mas quem sabe diga com prepotência e orgulho tratar-se de não conhecer o que de novo, inusitado, inédito habita-me os interstícios do sensível e do espírito, e são tantas as indagações que reconheço ânsia por sentir-lhe presente e forte. Todo o corpo e alma perdem os limites, perdem as estribeiras, matizes e enredos, misturam-se, fundem-se num só caos, suave e amorfo, lento e de movimentos vagos como matérias simplesmente viva. É a renovação perfeita, a anunciação pura e a criação solene.


Há-de o caos dos pensamentos e emoções corroborar as ausências e faltas de entendimento da razão das imperfeições que correm nas veias do homem, conduzindo-lhe por vezes a negligenciar-se e discriminar-se tanto que re-versa as condutas e posturas, criando e inventando etiquetas que disfarçam suas angústias e tristezas, queria-se, desejava-se tão perfeito e divino, mergulham na desfaçatez, na mentira.


Seria que o defeito perfeito alucinasse, fascinasse, extasiasse por a virtude ser fruto de imaginação fértil?


(#RIODEJANEIRO**, 24 DE JUNHO DE 2019)

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