#MANOEL FERREIRA# - (ORIGEM CIRCENSE) Édson Gandra (Membro da Academia Municipalista de Letras, de Curvelo, Minas Gerais).




POST-SCRIPTUM:

Por ocasião da publicação de minha novela ÓPERA DO SILÊNCIO, agosto de 2000, o poeta Edson Gandra, Academia Municipalista de Letras de Curvelo, escrevera este texto para figurar como orelha do livro, mas por interferência de ex-amigo, escritor, doutor em Letras não figurou no livro.

Acabo de encontrar este texto no meu Acervo e publico por relatar um pouco das minhas origens circenses. Édson Gandra conviveu com a minha progenitora Maria Elba Lacerda, já falecida, na cidade de Gouveia, Minas Gerais.

Manoel Ferreira Neto

Manoel Ferreira, curvelano, tem uma personalidade muito filosófica e o seu “ego imperativo” demonstra a sua impetuosidade que o faz vencer os obstáculos de sua vida intelectual consistente, fazendo-o superar as dificuldades que o escritor encontra quando quer e precisa projetar-se no cenário cultural, para que a avidez das letras trace o seu caminho definitivo no cenário dos bons escritores contemporâneos.

Seus avós, de origem circense, talvez tenham legado a acrobacia genética que o faz lançar-se no picadeiro da vida com a fertilidade do artista que arranca do público os aplausos pela magia literária de sua obra na fecundidade de sua linguagem e imagens.

Conhecendo-o a mais de trinta e cinco anos, posso garantir que ele, além de escritor, é um ser humano capaz de gerar tanta amizade, que o seu coração se dilata para escrever com a sua generosidade a poesia da vida (embora não goste de poesia) que ele a vive e nos faz viver pela sua palavra.

Em janeiro de 1937, uma procissão de S. Sebastião circulava a antiga Igreja do Rosário, em Gouveia, que fora construída no meio da avenida principal, hoje denominada Juscelino Kubitschek.

As linhas irregulares da avenida formavam, ali no fundo da igreja, uma praça que às vezes era utilizada para a montagem de circos ou touradas, únicas atrações possíveis naquela época.
Nessa praça, foi naquela ocasião armado um circo, cuja denominação não mais me recordo, para uma temporada de espetáculos.

Na minha idade de doze anos, aquelas atrações circenses tinham o belo do impossível e as sensações do misterioso, e o esplendor da arte se manifestava em todos aqueles artistas que se exibiam com o rigor exigido pelo espetáculo.

Mas o circo se silenciou de um dia para outro e o largo se tornou um vasto proscênio que se estendia a um futuro incerto e interrogativo.

No casarão envidraçado, que até hoje existe, naquele local, e que serviu de pousada àquela trupe, ficaram esquecidas duas crianças: uma de três anos, a Tuca, em verdade, Maria Elba Lacerda; outra de cinco anos, o Napoleão.

A procissão passava e uma jovem conhecida por Diu, Clautilde Winders de Almeida, de família gouveiana, filha de Vicente de Almeida e Alzira Winders de Almeida, acolhia as duas crianças, carregando a menor, de cabelos encaracolados, e dando mão ao esperto garotinho.

Os meninos choravam! Para a minha idade, tudo aquilo parecia natural.

A Tuca, acolhida pela Diu, serviu de encantamento à família generosa, pois teve uma infância gloriosa pelos dotes que recebeu de seus pais e, no Grupo Escolar, e em tudo que tomava parte, exibia nos auditórios e nas apresentações, toda a graça artística de que era possuída, frutos genéticos herdados de artistas circenses, seus pais e seus avós.

Estava fadada a versátil criança, a constituir, no futuro, uma família e a legar a um de seus filhos a versatilidade artística da magia circense, expressada na arte da palavra escrita, a que chamamos prosa, e também que podemos exprimir em literatura.

O vasto proscênio que naquele dia se iniciou, como já disse, se estendeu vida afora, depois de fechadas as cortinas do palco que se extinguiu, para reabri-las mais tarde, como acontece agora ao filho da Tuca, o escritor-filósofo Manoel Ferreira, que reaparece no cenário do mundo literário, como o artista das palavras, da imagem e da poesia, que é o seu frasear tão singular, nos monólogos, diálogos e descrições de seus personagens fantásticos e misteriosos.

A feliz ilustração da capa de seu livro “Ópera do Silêncio” nos convida a sentir que as cortinas do proscênio estão agora a se abrir para a encenação do presente, onde o autor se apresenta, alegoricamente: “Sou um homem-desequilibrado. Sou um homem-desequilíbrio”, quem sabe, um palhaço que ri para si mesmo, que faz os outros rirem, ou um equilibrista que flutua sobre a prancha que se desliza através das moendas da vida, e na impetuosidade desses movimentos, se estabiliza na plataforma do saber, com rumos à imortalidade, que diz pertencer às três cidades Curvelo-Diamantina-Gouveia.

#riodejaneiro#, 19 de junho de 2019#

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