A VIRTUDE DEVE ESTAR NO CENTRO José Paulo da Cruz (Historiador Curralinhense)




Post-Scriptum:


José Paulo da Cruz é nascido no pequeno Distrito de Diamantina, Curralinho. Reside em Diamantina. Escrevera ele inúmeros artigos sobre a História de sua terra-natal. Tinha o projeto de publicar um livro - não me é sabido se já o fez. Há cinco anos não tenho nem notícias dele. Contratou-me ele para realizar o Copy-desk destes artigos. Às vezes, passava até dia inteiro fazendo as revisões.


Algumas vezes adquiriu ele o meu RAZÃO-IN-VERSA - SUPLEMENTO-CADERNO LITERÁRIO-FILOSÓFICO, e este texto figura num dos volumes. Fora a única crítica por ele realizada sobre uma obra de minha autoria.


Manoel Ferreira Neto


Critica de “Afago de Adágios e Águas”, Manoel Ferreira


Na visão de suas palavras, é bem possível que tudo isso esteja acontecendo, com a praga desse mundo globalizado que massificou ao invés de humanizar as pessoas. O coração bate com muito anseio carregado de incertezas. Nos diz Alex Carreal: “Homem que teima em construir conceitos, certamente a virtude deve estar no centro”.


Para alguém ser livre, antes de tudo tem que ser sábio, avançar com o fluxo de pensamentos e idéias para harmonizar a paz interior, oferecendo a cada dia o fundamento do Adágio correspondente a polaridade constante com a vida, que tem primavera, música e a conjugação do verbo, não só no tempo, mas em total refluxo no amor.


Não é transformação e nem limite fechado, é uma forma primária onde as cadeias de idéias e ações são visíveis na linguagem aberta e comum no ser humano que são úteis às necessidades da sobrevivência da vida.


Com respeito, mas prefiro não pensar em Schopenhauer, na questão da matéria, silêncio? Lágrima? Medo? Algema?, não são respostas, são subterfúgios. Pois o conhecimento e o controle das forças psicológicas são os ingredientes substanciais como o caminho dos Magos da Legenda Cristã.


Há uma grande capacidade, porém, se manifestada no impulso das forças psicológicas, não podendo perder a intuição e o desejo de descobrir que naqueles subterfúgios são as formas desapegadas de opiniões que constroem, dando sentido à beleza, à magia dos efeitos em saber usar da literatura, nas nuances da vida.


Como um capítulo que a humanidade filosoficamente não amputou, mas deu uma evolução comprovada nesta arte das palavras.


Equilibrada, e eqüitativa, independente, os conceitos andam em grandes conquistas, no contexto humanístico, é assim que o homem alcança a felicidade, pois não vivemos em um mundo de sonho, mas daquilo que escolhemos, pois despertamos a potencialidade intrínseca na essência do entendimento do “psicotônico”, que nos mostra o caminho e nos dá a mão para segui-lo. MANOEL FERREIRA, você é o Mestre!...


AFAGO DE ADÁGIOS E ÁGUAS
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA
Sem me pré-ocupar com o silêncio e um suave murmúrio, quer entre risos, quer entre prantos, espalho-me por todo canto, ao pensar que cessa o conflito que por ínfimos segundos me alegrava e por momentos longos me doía.


Engano-me, pois a música que ouço é o silêncio que deixa pingos de lágrimas descer a face, feliz por saber entoar o mais belo canto que jamais se ouvira, o canto dos adágios e águas, interminável confronto entre a doce música, advinda de algum lugar distante, num enorme vazio, eu, tão pequeno, assistindo às imagens que, espontâneas e brevemente, se anunciam, revelam-se, escondem-se... se eu soubesse, entenderia melhor o caminho a ser percorrido.


Sei da saudade de primavera o verbo conjugado no tempo, é um alívio para o meu sentir humano. O que mais poderia dizer sobre o sentimento que, de vivo, tornou-se a semente que, tornada planta, irá sempre apresentar os seus frutos deliciosos? Dizendo algo mais, não iria prejudicar a idéias e as emoções que, em sintonia com a dor e a alegria, perpassam o íntimo?


As paredes frias, há alguns dias consecutivos que vem chovendo, acolhem tinta e pó, lugares sujos e arranhados... O olhar sobre elas não intimida nem retorce. Solidão amiga de encontro e pura saudade, não preciso de asas para chegar ao céu.


No proscênio desta cidade, no canto de minha canção, que, inda no início do outono, reclama o inverno, contando e cortando o tempo, eu, num gosto, de luz e de graça, deixo para a noite, ao brindar de taças e, quem sabe, um pouquinho, para o sol que há de vir amanhar, assistir aos projetos superpostos no tempo, tencionados a preencher o vazio da resposta às perguntas que solenemente atravessam a História: O que é o ser? O que pode ser conhecido? Sou livre?


Em verdade, não faço questão alguma da matéria de meu canto, se afago de adágios e águas, se consolo de esquecimentos ou falta de ritmo e melodia. Quem sabe importa mais o ramo de flores absurdas enviadas por via postal ao semeador de suas sementes.


Não serei o canto do Cruzeiro no alto da montanha, a paisagem e o cenário vistos de minha janela. As águas são a minha matéria, o tempo presente, a humanidade presente, a vida presente.


Cantarei a soberania do “si-mesmo” e do outro, não cantarei a liberdade porque ela não existe aqui, existe apenas o medo da escravidão, das correntes e algemas, o medo grande dos vales, dos abismos. Cantarei o medo da autenticidade, a insegurança da soberania.


Se perguntas sem respostas devam ser alteradas, adulteradas, que faço, então, com as interrogações que persistem em ecoar? Ouso na resposta, mesmo sabendo do erro, do engano, o fácil de entendimento e de vida nem sempre convence por não deixar questionamentos complexos e herméticos. Apesar da ironia do erro e da angustiante certeza desse estágio de limitações, distribuo um segredo como quem ama ou deseja o verbo amar, aprendendo novas palavras e tornando outras mais profundas.


Impõe-se egoísta o mistério das palavras não ditas e da não-palavra inexpressa. Deveria, então, mesmo para me divertir um pouco, buscar esquecer o que não desejo lembrar, louvar a ressurreição de um quotidiano sem asco; renovar o sorriso indiferente, amarelo, e ignorar a humanidade além da forma em vida?


Por que iria responder a esse questionamento, a esse sentimento que, tomando-me por inteiro, deixou-me seu passo e traço, sua felicidade e sua dor? Sonhar com sonho, sonhar em sonho, sonhar sem sonho. A lei é sonhar.
O medo de responder viu só um fio de luz entre a vaidade arraigada e o cheiro de flores cujos nomes não me é dado saber. Não faço sucumbir a palavra ao fosso onde enterraram a carne.


O que gostaria de sublinhar é a circunstância de que essa nova nuance nasce do próprio espírito dos adágios, afetos propriamente ativos, como a sede de conhecimento, a fome de sabedoria, que, desde milênios e séculos, acompanham o homem, e outros nesta linha de pensamento, nesta imagem das águas.


Que adianta dizer? Que adianta pensar estas coisas? Nenhum outro ser existe mais intensamente ligado às águas que seguem o rio sem margens, sem pressa, e seu sorriso, como sua fala, como sua presença inteira, é uma continuidade destinada ao encontro, ao que lhe é vocacionado.


Confesso que tenho medo de que as palavras me faltem, e não possa mergulhar um pouco mais. Ah, é verdade que me acho muito longe do que fora, mas para mim ainda existe o mesmo secreto desejo de saciar a sede de conhecimento.


Debato-me, o coração me vem aos lábios: que é válido, que é invulnerável às águas do tempo, qual o sentimento que não se esgota e não se ultraja? Refaço todos estes questionamentos, repiso em vão essas todas teclas. Sinto-me mudo, difícil, o olhar desviado para águas que vão longe. O longe é apenas sentir-me como se fosse apenas um nome, soprado há muito na vastidão de um jardim que não existe mais. Um nome, como a folha que cai, sem o eco de minhas palavras.


Ah, e isto é o que me abala e me consome: imaginar-me distanciado, sem um olhar de piedade para o que me constitui; imaginar-me no meu silêncio, completamente esquecido de sonhos e utopias, dos caminhos do verbo amar.


#riodejaneiro#, 11 de junho de 2019#

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