#VENENO DOS INSURRECTOS E PROSCRITOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA



Dôo-me às quimeras gélidas! 

Serpentes cujos venenos alucinam perdidas desilusões... desejos são outros. Tempos dispersos encontram-se, alinham-se no percurso das contingências. Pretéritos são pretéritos, ensombrecem sítios e lugares onde se estabelecem, condenados à inércia. Venenos cujos efeitos inestimáveis e irreversíveis correm nas veias, sem destino, seria que se importassem? Não é dado sabê-lo.


Sinto-me em um oco imutável, sub-merso em um tanque gélido in-subordinado de cerrações. Meu espírito sumido sob a maciça série de in-diferença que resgata o tanque do bosque faz-me apregoar a devoção da querença da bonita sereia que um dia esse ânimo viveu. Barcos de pesca jazem na areia, próximo dos viscosos blocos de pedra arremessados desordenadamente na base do molhe, para protegê-los das ondas, e que deixam entre si barcos borbulhantes. Na entrada do anteporto, contra o céu embranquecido pelo sol, recorta-se a sombra de uma draga.


Parvo crocitar tateia do mundo a realidade da língua. O som existe no coaxar ab-surdo, no gralhar des-coordenado e in-forme, no cricrilar altissonante e des-afinado. Toda a gralhada alheia passa por mim – a claridade turba-se, certa im-potência atinge a pronúncia, labirinto de caminho im-previsível.


Verbo-filosófico - a selvagem sabedoria da perene angústia da verdade e hipocrisias, da solene náusea das cretinices e nesciedades fica prenhe em solitários cupins, em ásperas pedras dá à luz o mais novo de seus rebentos, a leoa sabedoria que ruge com delicadeza e ternura, e não há ginete que não troteie à mercê da marcha cadenciada das regências e concordâncias da perquirição e utopias do sublime.


Entra-me uma revoada de memória na alma. A imagem vem postar-se ante mim, acompanhando-a eu em todas as perspectivas, em todas as suas visões, em todos os seus ângulos, sem perder o ar de riso sublime, sem perder a fisionomia de alegria solene, a face resplandecente de revelações mágicas do absoluto. Às vezes, enquanto a contemplo, vejo-a inclinar-se, revelando alguns sonhos que, porventura, desejara realizar e me tornassem diferente de quem sou, diferença esta que, em princípio, sugere a de sentir dimensões da alma e do espírito que alguns homens sentiram presentes em suas vidas, registraram-lhes, mas, ao longo dos anos, outros homens também sentiram, mas não registraram, e, de repente, surjo eu em cena quem também as sente, revelo-as, mas sendo sincero com a diferença existente entre mim e o verbo perfeccionante do tempo.


Entrego-me às sorrelfas de res-soar tanto no presente quanto no passado o suspiro dos in-surrectos, proscritos, hereges. Poesia da filosofia - e a coruja canta no silêncio da noite a linguística das querenças do belo sublime, da suave beleza da sabedoria que sacia a sede do pleno plen-ificado de outros uni-versos do verbo que à lareira verseja as chamas dos idílios do silvestre porvir da floresta de místicos mistérios do eterno.


Filosofia da poesia - no alvorecer, o canto dos pássaros saudando os raios numinosos do sol, a natureza que diviniza o panorama de estesia simples e inocente, a estética do sublime, que gerundia de éritos do tempo os abissais sonhos de sabedoria e sapiência, a consciência-estética-ética, Ser e Verbos...


Na amplidão de longínquos pret-éritos presentes na memória, o prazer de re-versos desejos, o clímax de in-versas vontades, a extasia de ad-versas visões-do-espírito, de re-vezes às antemãos...


Poesia-pensante - a idiossincrasia do eterno esquecida no tempo, a flor de cactus presenciada nos alvores de outro ser do verbo, que me alimente de outros sub-juntivos e gerúndios do saber-verbo-uno, do verbo-uno-saber, uno-saber-verbo das buscas e querências, a miríade de luz de minh´alma res-plende de nonadas a luz das travessias, assim vou per-filando ou per-formando as poeiras das estradas à luz do picadeiro de gargalhadas, os pós que cobrem os móveis de casa velha, do palco de desejâncias da leveza do ser, da choupana de dia-lécticas e contra-dicções, precisamente na porta de trás, de onde se ad-mira a lua enamorada das estrelas.


Num compasso de des-lumbramento, igualmente, ad-vogo a luminosidade argêntea re-flectindo sobre as linfas! Como gratular à claridade que nos legam os coriscos para alumiar o que se acha nas obscuridades ou na opacidade? Como ser fidedigno às linfas que nos extinguem a sofreguidão, percebendo, desde entretantos e até entre tantas comoções, sensibilidades, padecimentos e mágoas, exultações e enaltecimentos?


#riodejaneiro#, 14 de junho de 2019#

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