#PREFÁCIO# CRÍTICO LITERÁRIO: Manoel Ferreira Neto/FOTO: GRAÇA FONTIS
O CASO DE MEUS OCASOS, MARIA ISABEL CUNHA(MARIA
FERNANDES)
Tarefa árdua esta: prefaciar O CASO DE MEUS OCASOS,
de Maria Fernandes. Digo-o por ser ela europeia, natural de Portugal, em
Barcelos, o que significa ser outra cultura, embora a Língua Portuguesa que nos
une.
Conhecendo-a virtualmente a mais de um ano, a nossa
grande amizade, e sempre o intercâmbio de comentários a respeito de nossas
obras, análises e interpretações de nossos poemas, sinto-me um pouco
credenciado para tecer algumas considerações sobre a Poesia da poetisa.
Em primeira instância, no poema Dissertação, com
que inicia o livro, encontramos como ela constrói a sua Estética, Ideal da
Beleza, o Belo. Constrói com “Sentimentos de amor, amizade, fraternidade e
perdão”, mergulho profundo em sua alma à busca de sua Subjetividade.
Sensibilidade, à busca de si mesma , mostrar-se, identificar-se, ser a artista
origem da obra, ser a obra a origem da artista, a comunhão perfeita na Poesia,
aliás imprescindível. Caráter e personalidade incisivos, verdadeira no que
sente e pensa, frontal com a vida. Nesta frontalidade reside o cerne do livro,
sendo antítese de seu versejar sublime, singelo, suave, uma viagem pelo
espírito da alma, pela alma do espírito.
Nestes versos de “As Flores”, Adoro o belo, adoro
as flores/elas me fascinam, me encantam/
são uma maravilha da natureza/ que me preenche a
alma.”, encontramos cristalina e límpida a seiva de seu estilo poético, o húmus
de sua espiritualidade, que , sem dúvida, é uma característica dos poetas e
escritores portugueses, identificam-se com a natureza, são a natureza no seu
aspecto lúdico, a linguagem simples acessa o leitor nas profundidades de uma
alma voltada para os questionamentos da vida, sempre a procura da verdade,
sempre a busca do belo, do eterno. Esta linguagem simples lembra-me Guerra
Junqueiro, um dos grandes poetas portugueses, em sua obra-prima OS SIMPLES.
Linguagem e estilo simples, mas os questionamentos se revelam complexos.
A contundência dos questionamentos estão nestes
versos, Agora navego no nada/Da minha existência/Em prece recolhida/Oro a Deus
e à Vida/Conforto e guarida/Até à despedida…” O mergulho na alma à busca da
verdade, do amor, da fraternidade, amizade e perdão, as experiências e
vivências, o observar o mundo, trouxe-lhe o “nada” à superfície. Questionamento
da efemeridade das coisas, de todas as coisas, sentimentos, emoções, buscas, a
efemeridade da vida. Em todos os poemas, temas e temáticas diferentes,
linguagem e estilo contracenando com eles, seja nos poemas que versejam a
poesia, a querência do saber poético, há vários nesta perspectiva, a efêmero, a
efemeridade estão presentes com toda a pujança. E com a efemeridade o nada.
Embrenha-se Maria Fernandes pela dimensão do nada, e o nada na obra e na vida
não fosse o sentido, o eidos, o cerne do movimento poético, cada poema é o
“ocaso do nada”, e em cada poema ele renasce para tecer as respostas e para
deixar outros questionamentos, e este movimento desemboca sempre no amor, a
respostas aos efêmeros, às efemeridades são a poesia e o amor, temas presentes
em toda a obra, ora como metapoesia, metapoética, ora como o amor à poesia, a
vida da poetisa, como podemos reconhecer nestes versos de “A POESIA”, “Amo a
poesia porque faz parte de mim/da minha essência, da minha existência./Flui no
meu ser como o sangue em minhas veias/me cerca, me rodeia, me anima, me
estimula.”. Amar a poesia é amar a vida, é amar os sonhos, é amar as
esperanças, é amar a fé, é amar as buscas, porque para Maria Fernandes a poesia
é amor e amor é poesia.
Difícil abarcar num Prefácio todas as
características poéticas e prosaicas-poéticas de Maria Fernandes, mas já
sabendo o leitor da sua linguagem simples, seu estilo sobremodo subjetivo, que
revela a fragilidade da poetisa, mesmo sendo de caráter e personalidade fortes,
o ocaso que é título da obra, significando cada poema ser o efêmero, a
efemeridade, a morte do nada do poema anterior e o seu renascimento no próximo,
a poética de Maria Fernandes é movimento, é andança pelas sendas e veredas da
vida em todas as dimensões, isto encanta o leitor, fá-lo pensar, mas um
pensamento suave, singelo, sublime, pois que a “poesia” é uma viagem pelo
espírito, pelo transcendente, pela sensibilidade. O leitor pensa, mas pensa
sentindo prazer, êxtase com a leitura.
O CASO DE MEUS OCASOS, de Maria Fernandes, é uma
viagem pelo espírito da alma, pela alma do espírito, à busca da poética da
vida, querença poiética do ser, vontade do absoluto, do eterno.
(**RIO DE JANEIRO**, 07 DE DEZEMBRO DE 2017)
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