#AFORISMO 480/OLHOS INFLEXÍVEIS E RESPLANDECENTES# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Fabricando dias plenos,
segundos e minutos sublimes,
criando fantasias e ilusões
que me encaminham e orientam
nas veredas dos desejos e vontades
de encontro comigo,
nas veredas da razão
de ser-me, de viver-me;


Ventos de leste. Sibilos de sul. Porque seria pergunta mais que percuciente no trans-curso, percurso dos ventos a esperança é sempre a música idílica da perfeição que ad-mira as imperfeições por ser ela o verbo "in", por ser ela o sorumbático das melancolias, nostalgias e saudades das meiguices insolentes do inferno.


Se a etern-idade nadificasse angústias, náuseas, se nadificação houvesse na etern-idade , habitasse-lhe as pre-fundas, simplesmente simples a simplicidade de conjugar os verbos defectivamente para o ser preceder o não-ser, para a morte preceder a vida.


Praça da Liberdade. Oito e meia da manhã.


Esquizofrenia, psicopatia, alienação mental. Menino louro, olhos azuis, rosto magro, quatro anos de idade, pouco mais, pouco menos. Olhos de sobrenatural demência. Aspecto de quem observa as coisas e não as vê. Lugar vazio. Mostram ali terem estado várias coisas. Tiradas e nunca devolvidas. Acusando-se por sinais visíveis, feitos à custa do tempo. Perdeu o contato direto com o mundo, este empreende viagem, além das retinas. Assistem a mulheres, encostadas à porta das lojas, esperando a vez de se entregarem. Defendem a sobrevivência – cama nua e crua. Fingem gozo. Não sentem o momento de tudo ter qualquer revelação e voltar ao normal. Se o tempo houvesse sido outro e não o que foi. Instantes sucedem-se e, sucedendo-se, param segundos.


O menino não grita. Não chora. Chama por alguém. Ali, parado, olhando as coisas sem nada enxergar. Limita-se à posição estática, chupando o dedo. Não tem consciência de tudo estar emergindo e dando espaço a outras coisas que vão imergir até que nada haja. Ali, sozinho. Nada surge. Os acontecimentos estão diante dele a exigirem participação. Mostrando-lhe tudo. Atitude instantânea. Embora não o seja tanto. A demência não lhe permite. Levanta-se. Dirige-se à beira da lagoa. Próximo ao banco em que estava sentado. Tira a calcinha. Segura o sexo. Jorra água aos poucos. Tudo, parado. Observa a ação. A mãe olha. Pasmo e terror. Somos os únicos que presenciam. Nada diz.


Saio. Caminho. Nada para fazer. Avenida João Pinheiro.


Recitando a lírica da vida,
declamando os versos dos sonhos e utopias,
de sim e de não,
nas experiências e vivências,
do verbo e da carne, do sujeito e dos ossos
que buscam a essência
do ser e da verdade,
De olhos fechados,
Ambas as mãos tocando a face direita,
Sentado no parapeito da janela fechada,
A lua, o brilho incindindo-se no espelho,
sou em mim dentro êxtases e volúpias,
sensações e sentimentos ávidos,
mergulhando-me inteiro em busca de
minhas esperanças, de minha fé,
de minha certeza de que agora
estou registrando estas letras
que se me a-nunciam nas ad-jacências
do futuro e do presente,
do passado e do que ainda não
fora pensado nestes interstícios
do tempo;


Sou a hora que chega e se perde, fardo colorido, lembranças do raio de luz,
sopro com que apaga na noite o lume que acendo; sou ruminâncias, à “luz da estrela guia,/ a lua clara,/ noite vadia”, olhando a vida com olhos inflexíveis e resplandecentes, em que volto a re-conhecer, na musicalidade de noites seresteiras, de forrós, de outros arrasta-pés um destino e, nas ruínas de minha vida, fragmentos espirituais, miríades de outras solidões e medos, à luz do presente que, no seu crepúsculo, a manhã ainda irradia um doce resplendor, o homem cheio de fé e de alegria, radiante de outros princípios e valores, sempre no encalço do grande e do eterno, do absoluto e divino no misticismo de outras utopias de entregas e espiritualidades, de outras lendas e mitos da história de conhecimentos e sabedorias, de outras fábulas e mentiras das buscas incansáveis do eterno.


Sou a utopia que na passagem do tempo e da história encontrou o berço das regências das in-verdades, verdades, para iluminá-la de desejo, vontade e razão “... de experimentar o belo, e vermos para além da visão habitual que nos é imposta.”


A ninguém a-nuncia o porvir da felicidade que acalma o intimo, re-vela a redenção dos pecados e pecadilhos, remorsos, culpas, o coração segue pulsando livre,nele a brisa suave e sublime do Espírito do Subterrâneo.


(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE DEZEMBRO DE 2017)


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