#O EU LIVRE E O BUDISMO À LUZ DO DESEJO DO SER# - Manoel Ferreira Neto: ENSAIO GRAÇA FONTIS: FOTO DE CAPA


No ensaio precedente, A SÍNTESE DO INTELECTO E DO ETERNO RETORNO EM Ana Júlia Machado E FRIEDRICH NIETZSCHE, o fundamento do que intuímos e percebemos das idéias e pensamentos não significa que a poetisa tenha escrito o poema, a obra, sob dimensões literárias/filosóficas destes poetas, escritores, filósofos, a internação das idéias, pensamentos, utopias e daqueles, mas este entre-laçamento que faz-nos refletir, meditar, in-vestigar, avaliar, con-templar, saciar a sede de conhecimento, e a sensibilidade de visualização e verbalização que nos traz de contribuição para o desejo do ser.


Noutro poema de O EU LIVRE, #CONVICÇÃO#, de Ana Júlia Machado, outro verso se re-vela de sine qua non importância re-fletir: "O sinal transporta o curso". Ter a ilusão do eu não é um simples estado ou uma condição a que me submeto de forma passiva. É, na verdade, na verdade, algo sustentado com vigor. E o sinal que intuímos, percebemos, perpassou-nos no instante da leitura do poema foi o budismo a partir desta metáfora, categoria. Sob que lince de olhar buscamos a aproximação deste verso com o budismo observamos, perscrutamos? Isto está de acordo com a visão de mundo da filosofia budista, o qual a considera um jogo de processos e eventos dinâmicos.


A ilusão do eu não está lá, pura e simplesmente. É resultado de uma atividade específica, de uma atitude determinada, de uma ação consciente, da liberdade, de elaboração do eu, realizada quando se reclama eventos físicos e mentais e a construção de um horizonte autorreferencial, no que tange aos versos deste poema: "Soltamos as trevas e com nobreza, apropriamos os andares". O "apropriar os andares" traz em seu bojo linguístico e semântico, uma questão: o eu não é uma ilusão in-ofensiva, "inculcamos o júbilo, e a existência auscultamos, o saber e o conhecimento de que as ilusões podem ser perigosas uma vez que representam de maneira errada as situações.


Quando aprendo a ler um poema, prosa, aprendo a ver que a ficção traz a luz de in-vestigações abissais e abismais, segundo o princípio do vazio, há apenas processos e eventos surgidos de modo codependente, e não coisas, estas atrações e aversões debilitantes são cortadas pela raiz. A ausência do eu, a ausência de substância e o surgimento codependente implicam a impermanência universal.


Perscrutando de viés, é que despertamos para o verso do poema que escolhemos como fundamento de nossas idéias, do que trouxe de contribuição para o pensar do eu, à luz da ausência da doutrina do eu e de substância, "todas as coisas carecem de substância" é, em si mesma, vazia de substância. De modo alternativo, se a alegação é substantiva, então ela se contradiz, pois não será o caso de todas as coisas serem vazias de substância e apenas con-tingentes. O vazio, explica Nägärjuna, é ensinado como um "remédio para nos livrarmos de todas as visões reificadoras. Aqueles que o enxergam como uma visão são declarados incuráveis."


O remédio que a poetisa e escritora patenteia: "Libertando nossas quimeras cedemo-nos arrebatar por esta inspiração, que compõe desta baila, floresço, fascínio e encaminha para a idade o impulso do domínio inalterável". Neste sentido, a liberdade esplende a inspiração do eu, não existe um eu é apenas um ensino provisório, uma verdade convencional.


E neste verso, inter-ditamente, em relação ao O EU LIVRE, é preciso uma transformação completa da maneira como pensamos o eu e o mundo, mas também como os sentimos e vivenciamos. Prazeroso a consciência, a convicção independente, o verdadeiro eu, vivê-lo, é "sumptuosa esta pujança", "essa gentileza volátil que abraça-nos e delineia-os". O "sinal", o saber da liberdade, é a travessia para o "eu", e o saber do verbo que habita o eu, a "síntese" do eu e o "verbo" são a harmonia e a suavidade do curso ec-sistencial.


(**RIO DE JANEIRO**, 22 DE DEZEMBRO DE 2017)


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