#AFORISMO 500/A ARTE DE SORRIR...# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Caos na metafísica do inferno. Inferno na metafísica do caos. Metafísica no inferno do caos.


Inferno de dialécticas
Das chamas,
Da fumaça,
Inferno de contra-dicções
Do nonsense,
Do saber,
Inferno de medos
Da morte,
Do absurdo,
Todas as auroras raiam no mesmo
Lugar: In-finito
A divina comédia, em cujos
Interstícios
O vazio se espreguiça, Macunaíma
Indiferente à ampulheta,
O nada se refestela no seu canto,
Bacamarte no seu desvario:
Olhos fixos no buraco
Da fechadura da janela,
Itaguaí esvaecida


Caos?... Metafísica?... Inferno?... Que imagem aprazível na superfície lisa do espelho por onde olho estas “cositas” e balizo os instantes? A face da alma sensível que se aborrece com estas verdades da vida e do mundo? O rosto da consciência irrepreensível que se contenta por saber a vida é o que é? O coração mais longínquo, a alma menos minha? Perquirições... perquirições... perquirições... Desejo dizer algo; terei de arrancar-lhe de dentro, à força, assim necessário. Não me sinto incapaz, mas algo a faltar-me para este empreendimento. Elejo a odisséia sublime da roda-viva da sina e do tempo, meditando seriamente as circunstâncias de exercer a liberdade que compensa as imanências da história, e a história não tem fim. Antes isso que ser o que atravessa a vida olhando para trás e sentindo tripudiado, enganado por mim próprio, por indiferença às noções de sofrimentos e dores, não me esmagariam os ombros do pensamento.


O silêncio retirou-se, re-colheu-se, não me é sensível compreender e entender a poesia das palavras e sentimentos, acredito que elas não se esgotam, precisam ser expressas, mesmo sem quaisquer significados, significantes, metafísicas, estesias, só palavras. Eu que necessito deles recorro ao caos, à metafísica, ao inferno, não lhes são inerentes quando o travo gélido gargalho. Por que a euforia, a volúpia, a exultação do patentear o que de profundo emerge do inconsciente e mistérios, fui abandonado sem saber o palavrear dos recônditos do silêncio? Se é efetivamente silêncio, pode ser apenas um vazio que trans-cende o vazio do mundo e da terra, nesta conjuntura as palavras fluem a cântaros, aspiram a esgotar, e nascem outras, re-nascem novas, adquirem outras luzes de sentidos.


Só, solidão, sozinho andando por entre os homens, deambulando por entre as coisas do mundo, perambulando por entre os animais. Por um lado, isto é o que é, por outro é a terra. Terra de vazios, terra de nadas, terra de ossos, terra de cinzas, terra de nonadas e travessias.


Inverno, templo nublado, frio à luz do espírito, o além re-vestido de sonhos, utopias do trans-cendente pre-figurando os lírios do campo, os cactus do deserto, os lobos da colina, re-presentando o éden de sorrelfas - inspiração, sensibilidade, verbo da plen-ítude compondo desejos do ad-vir - na alma perpassam angústias, tristezas, desconsolo, desolação. Nem onde essa paisagem é sob eterna luz eterna descobrirei os enigmas profundos da natureza. A arte de sorrir todas as vezes que a alma alaga-se de caminhos nas trevas. Que vai além da alegação apenas descritiva de que a vida implica sofrimento e obriga à implicação normativa de que é indesejável viver e desejável morrer? Os remos vão perdidos, o barco vai não sei para onde. Que é do sorriso dos ideais magnificentes, das idéias exímias?


Inter-ditos da morte
E o des-conhecido de morrer
Náuseas da verdade absoluta
Perspectiva que é continuidade no tempo
Verbo da plen-itude, compondo desejos do ad-vir.
Luzes... palavras, velas uni-versais. Desde que possa sentir os verbos que compõem a sabedoria que goteja o orvalho, as madeixas do ocaso, voltejando o vento de degelo.


Amanhã será o ontem de hoje, ontem será o hoje de amanhã, hoje será o amanhã de ontem? Nada. Nonada, Instante-limite. Travessia. A revelação do porvir é impossível porque a alma vagueia na lua cheia, pervaga nas trevas, quiçá medievais, de pretéritos ad-jacentes, ad-stringentes às contingências, náuseas da verdade absoluta, a mente devaneia nas cavernas, grutas, idéias e pensamentos, sei lá que coisas divagam inconscientes. Quem fui ontem o presente diz haver sido único e apenas o olhar as perspectivas da vida que é continuidade no tempo, o verbo do ser se compõe na esperança do eterno e o eterno se compõe na esperança do verbo.


Dos pensamentos e idéias os ideais e utopias da tagarelice da virtude com a tagarelice da fama na última hesitante aventura da derradeira felicidade, última boêmia que recita e declama versos à luz do sol, nuvens azuis e brancas do meio dia, nada mais explica ou justifica estrelas e lua serem testemunhas das dores e sofrimentos do amor não cor-res-pondido, á-gonias das frissuras do eterno não realizado.


A alma vagueia na lua cheia,
Os sentimentos bailam à beira da lagoa da gruta,
As emoções dançam ao redor das chamas
Do fogão a lenha,
O eterno se compõe
Trans-cendentes pre-figurando os lírios do campo
Além re-vestido de sonhos, utopias.
Idílios sorrelfam as magn-itudes do uni-verso
Gerundiando os partícipios de trevas e cosmos
Metafísica da des-plen-itude, poeira de ads-emeritudes.


Se é que se possa acreditar, inda que se entregando às fantasias do limite, o eterno se compõe, quais versos, estrofes, ritmos, sinfonias, óperas, serestas, serenatas, acordes e musicalidade, na esperança do verbo, tudo são medos da vida que são infinitivos do tempo. E quem tem medo do sonho de amar o verbo verbaliza o absurdo de viver unicamente os inter-ditos da morte e o desconhecido de morrer, tudo são justificativas, explicações de um orgulho da espécie e da raça, estirpe e laia.


Mas não é o fim...


(**RIO DE JANEIRO**, 26 DE DEZEMBRO DE 2017)


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