#O EU LIVRE - POESIA - ANA JÚLIA MACHADO# REVISÃO: Ana Júlia Machado ARTE CAPA: Carlos Margarido
Vem à luz a Antologia de Poemas, de Ana Júlia Machado - cabe-nos a nós,
seus amigos e leitores, degustarmos os seus versos, desfrutarmos de sua
poética, visão-{de}-mundo, visão-{de}-vida, suas contingências, sonhos,
esperanças, utopias.
Em primeira instância, há-de se id-ent-ificar duas dimensões, O
EU-POÉTICO, O EU LIVRE(TÍTULO DA ANTOLOGIA). Tal id-ent-ificação é sine qua non
para o mergulho profundo na arte poética da poetisa, o desguste, o desfrute do
espírito, da alma, o eidos da Existência, a eterna busca da Esperança, do
Sonho.
O EU-POÉTICO, na dimensão que visualizamos, intuímos, trans-cendemos, é
a criação, que não se apresenta senão no CRER nela, como o poema CRER patenteia
com excelência, no tangente à "claridade nas trevas" que pode ser
con-templada: "Ela verbaliza-te onde mover-se". Con-templar a
minúscula claridade que as trevas re-velam a-presenta os caminhos por onde a
criação empreende os seus passos para a arte, mas isto só possível a partir da
consciência do efêmero, das contradições, dialécticas, das dores e sofrimentos,
angústias, náuseas, a própria vida nas suas verdades, o Crer no que habita os
recônditos da alma move a sensibilidade, o espírito, a intuição, todas as
dimensões sensíveis para o EU-POÉTICO re-presentar-se, apresentar-se, mostrar
de que o poeta é feito, construído, constituído, só o Eu é capaz de poetizar,
artificiar o vir-a-ser, o porvir, o há-de vir, o há-de ser. "Nenhuma
vereda coareta é tão extensa/Que não consiga-se perfilhar."
E o EU LIVRE? Há-de se ressaltar e sublinhar é o mov-ente do Eu-Poético,
é a liberdade da criação, da criatividade, dos desejos, vontades, utopias da
Arte. O Eu Livre é o espírito da Arte Poética, pois "Que idealiza sem
quimera...", "Ser independente que adeja sem rédea...", como
id-ent-ifica a poetisa e escritora Ana Júlia Machado no poema "SOMENTE O
ESPÍRITO" O Eu-Poético precede o Eu Livre. Apesar da alma sem alento, o Eu
Livre acende todas as luzes, concebe as sendas para o re-fazimento da vida,
criá-la à luz do Eu vivido, vivenciado. Nestes dizeres, pode-se considerar uma
obra existencialista, a existência precede a essência, é na existência que se
faz a vida, que se faz a liberdade, que se faz a consciência, mas no
Existencialismo não há a dimensão da espiritualidade, não há o espírito, e na
obra poética da poetisa o espírito está presente, pres-ent-ifica-se em cada
verso, em cada estrofe, "Sou meramente espírito..." Isto é necessário
frisar, pois que leitores aproximam sua obra de mim, Manoel Ferreira Neto,
tendo afirmado ela inúmeras vezes ser eu o seu mestre. A obra de Ana Júlia
Machado vai muito além do Existencialismo. Enquadrá-la num doutrina filosófica,
literária é adulterar ipsis verbis a profundidade da obra. O Eu da poetisa é
LIVRE, ela não perambula, deambula por princípios filosóficos, literários, cria
a sua obra a partir de sua vida, de suas contingências, conforme no poema A
VIDA É UMA MELOPÉIA: "... todos desenleamos nossa história sobre o nosso
transacto, o nosso contemporâneo e ainda lavramos todos os nossos porvires".
A Antologia o EU LIVRE desenleia a história sobre o transacto,
sobre as náuseas, facticidades, ipseidades, solipsismos, o
con-temporâneo nas suas di-versas e ad-versas dimensões históricas, sociais,
políticas, e através desta liberdade do Eu o poeta lavra os porvires, o
futural, o vivente voa por horizontes e universos in-auditos, inter-ditos,
desconhecidos, "Onde um indizível tênue ostenta o planeta/A existência
pode ser composta por verbos infindos..." A liberdade que habita os
interstícios mais recônditos da poetisa é que compõe os verbos infindos,
in-finitos, eternos, verbos da "angélia", verbos conjugados com notas
melódicas. Neste poema, o cerne fenomenológico da Antologia, isto é, a síntese
do EU-POÉTICO e o EU LIVRE; tal síntese é a responsável, a luz da arte
machadiana, Arte de Ana Júlia Machado, isto é, o Eu-Poético e Eu Livre
contemplam o planeta em toda a sua excelência, con-templam a existência/vida em
toda a sua complexidade, hermeticidade, e de dentro re-colhem-se, a-colhem-se
os sonhos, colhem-se as esperanças, as utopias, e a poetisa sabe arrancar estas
dimensões espirituais com Arte e Sensibilidade, tornando-lhes Verbos,
"melopéia amável da palavra", e com, por inter-médio, através deles
"a alma alaga-se de harmonia e claridade." Esta síntese ilumina a
"faculdade de exercer em nós a suavidade dos Verbos."
O EU LIVRE ultrapassa, trans-eleva os limites de obra poética, composta
de versos e estrofes, no seu eidos a presença do espírito da poetisa,
tornando-se obra do espírito, obra da Vida, uma obra-luz para despertar nos que
aspiram a Arte Poética, só possível com a consciência da verdade dos limites,
da natureza humana, das dificuldades, angústias, náuseas, a Arte Poética só se
alcança com a Autenticidade, a verdadeira imagem refletida no espelho. Livro
que deve ser lido sensivelmente por sempre, re-colhendo e a-colhendo as suas
mensagens.
O EU LIVRE é o Verbo do Eu-Poético.
Caríssima, digníssima poetisa e escritora Ana Júlia Machado, meus
sinceros cumprimentos por obra de EXCELÊNCIA sem precedentes.
Manoel Ferreira Neto
(Escritor, Poeta, Crítico Literário, Filósofo, Ensaísta)
(**RIO DE JANEIRO**, 12 DE DEZEMBRO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário