#AFORISMO 442/EFÊMERO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Só, sozinho, solitário
Noite de sábado
O Natal se foi
Nadificado por contingências
À busca de verbos, mesmo a-fectivos, mesmo de-fectivos,
À busca de confins, ser sendo,
Estando a ser, ec-sistindo
A balada toca, lenta, melancólica, nostálgica.


Só, sozinho, solitário
Noite de sábado
O Natal se foi
Telos de esperanças, telos de sonos
Mimetikon, coisas tantas, as portas que se abrem
E a razão porque elas se abrem
Anthropon, por que toda razão, toda palavra
Vale nada quando o verbo chega,
Mimeisthai, a impossibilidade de exprimir todos os sentimentos,
as ondas do mar na lua cheia, escolhi melhor, abraçando o mar
Entre horizontes e universos, con-templando
Resquícios, vestígios de luz, sons, palavras,
Re-velando desejos do sublime, outras dimensões
Além fronteiras, além cultura, além sabedorias
Ser outro de mim, de mim outro sendo.


Luz, raios numinosos de utopias resplandecendo,
Útero de outros silvestres do campo, além-mar
Sozinho, letras na algibeira, longa viagem para outro alvorecer
Inspirações, imaginações, interstícios do pleno,
Travessia de nonadas ao esplendor milenar,
Às Évora, Barcelos, Coimbra
Nalgum recôndito de outros versos, estrofes
Alcanço a genesis de início outro,
Sobrevoo o mar, deuses marítimos
Só, sozinho, solitário
Noite de sábado
O Natal se foi.


Só, sozinho, solitário
Noite de sábado
O Natal se foi
A rua deserta
Ocaso
Universo-facio de outros sonetos
Travessia de prefácio a pós-facio do saber
Re-verso, inverso, adverso
Outridade da poiésis, outridade do verbo "ser.


Só, sozinho, solitário
Noite de sábado
O Natal se foi
A balada toca lenta, nostálgica, melancólica.


Amanhã será outro dia,
Versos e estrofes de outros tempos
Do efêmero, con-templando a eternidade.


(*RIO DE JANEIRO*, 06 de novembro de 2017)


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