#AFORISMO 364/SER VERBO DE VIDA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
A vida é vida porque na vida a vida é; se na vida a vida não fosse, a
vida nada seria. E, pensando no não-fosse a vida na vida que é, o nada seria o
nada do nada no nada.
A vida na vida do nada é vida porque o nada não seria movimento para o
ser que se faz na continuidade do tempo, na contramão das contradições, nas
contradições de antemãos dos sonhos e esperanças, nas dialéticas de corrimãos
das utopias e sorrelfas; e na eternitude do nada que é o nada eterno, o nada
não seria impulso para o não ser ludicamente seduzir a carne da eternitude a
ser o verbo da eternidade, comer sensualmente o verbo da eternidade para se
tornar a carne do eterno.
Vida, ser verbo de sonhos, esperanças, águas cristalinas versejando
travessias de nonadas, versificando de efêmeras ilusões os absolutos do vazio.
Vida, ser subjuntivo de desejos, vontades, chamas ardentes na lareira do
universo lúdico de sentido das carências de amor, plenitude da alma aquecida de
sentimentos puros, serenos, suaves, leves, performando o espírito de luzes
adjacentes à soleira do infinito, amando amar a beleza da plenitude, amar
amando a plenitude da beleza, o tempo a fora os arco-íris revelados de confins
a arribas, ainda que eu nada fosse, a língua de meus sentimentos poetizaria o
amor espiritual, pleno de miríades de luz.
Vida, não ser poemas de amor, porque todo poema de amor é ridículo, não
seria poema de amor não fosse ridículo, não se des-cobre, não se alcança, não
se atinge o sentimento amor com poemas de amor. Desde o Romantismo enchafurdou-se
que poema é amor, escrever poema é escrever amor, e o inconsciente coletivo
inspira poema de amor, e o amor não se mostra, e os poetas de amor seguem
frustrados e fracassados pela eternidade, jamais conhecerão o amor ou terão
parca noção dele. E se a vida é amor, com poemas de amor mergulha-se na morte
do amor, morre o amor e a vida se vai arrastando pelas estradas. Hoje as minhas
memórias de poemas de amor escritos são ridículas. A vida na vida do nada é
vida, a vida na vida de poemas de amor coisa alguma é; a vida na vida do nada
inspirou-me o amor, o amor fez-me em mim na caminhada do nada, nos tropeços do
nada.
O eterno no nada da vida, a vida no nada do eterno, a vida no eterno
nada, o nada na eterna vida. O nada no nada da vida é o ser do não ser às
sorrelfas da esperança, con-templando a eternitude do pleno à busca, nas
soleiras do tempo vazio, do verbo de ser a luz do ser travessia da
trans-cendência às contingências das ilusões do eterno.
Simplesmente simplesmente é a vida que é vida na vida que é.
Simplesmente simplesmente é o nada que é nada no nada que é nada na
continuidade do tempo que torna o nada do verbo no nada do ser, que
trans-litteriza o nada do ser no sonho, esperança da perenitude do perene.
Cantar as esperanças
Cantar os sonhos
Cantar os desejos
Somos todos cantores solitários
Violões imaginários trazemos no peito dentro
Ritmos, melodias deixamos no tempo
Até o vento executa a dança, fá-la ópera,
Fá-la sinfonia, fá-la orquestra
E a nossa voz ressoa por cantos e recantos
Por florestas, por mares distantes,
Pelo desconhecido,
Pelo inaudito,
Até pela morte
E cantamos por toda nossa vida.
Recitamos versos,
Recitamos estrofes,
Declamamos sonetos,
Compomos poesias
Somos todos poetas, somos todos poetisas
Somos todos amor pela paz, pela felicidade
Somos todos os rouxinóis do universo
Somos todos os pintassilgos da vida
Trazemos em nós dentro o espírito
Trazemos em nós a vida antes de quaisquer vidas
Seguimos solitários por todas as estradas, campos
Voamos a nossa águia dos sonhos
Voamos o nosso condor da espiritualidade.
Amamos a vida,
Amamos o ente amado
Amamos o tempo de nosso ser,
Amamos o absoluto, amamos o pleno
Seguimos as sendas, veredas solitários,
Cantando,
Compondo as nossas ilusões, fantasias, quimeras
Porque vida não é viver.
Vida é ser vida.
(**RIO DE JANEIRO**, 13 DE DEZEMBRO DE 2017)
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