#SUBLIME ESPÍRITO DO SUBTERRÂNEO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA




"Inusitado campo de batalha
Entre o "eu e o "si".
Círculo humanístico
Feito jogos sem ganhadores
Perdedores",
Fabricando dias plenos,
Segundos e minutos sublimes,
Criando fantasias e ilusões
Que me encaminham e orientam
Nas veredas dos desejos e vontades
De encontro comigo,
Nas veredas da razão
De ser-me, de viver-me;


Ventos de leste. Sibilos de sul. Galhos das palmeiras na extensão da praça balouçando-se. Porque seria pergunta mais que percuciente no trans-curso, percurso dos ventos a esperança é sempre a música idílica da perfeição que ad-mira as imperfeições por ser ela o verbo "in", por ser ela o sorumbático das melancolias, nostalgias e saudades das meiguices insolentes do inferno.


Se a etern-idade nadificasse angústias, náuseas, se nadificação houvesse na etern-idade, habitasse-lhe as pre-fundas, simplesmente simples a simplicidade de conjugar os verbos defectivamente para o ser preceder o não-ser, para a morte preceder a vida.


Praça da Liberdade. Oito e meia da manhã. Observando, captando os acontecimentos do novo dia, indivíduos e cidadãos, andando às pressas, a labuta começa.


Esquizofrenia, psicopatia, alienação mental. Menino louro, olhos azuis, rosto magro, quatro anos de idade, pouco mais, pouco menos. Olhos de sobrenatural demência. Aspecto de quem observa as coisas e não as vê. Lugar vazio. Mostram ali terem estado várias coisas. Tiradas e nunca devolvidas, arrancadas e jamais restituídas. Acusando-se por sinais visíveis, feitos à custa do tempo. Perdeu o contato direto com o mundo, este empreende viagem, além das retinas. Assistem a mulheres, encostadas à porta das lojas, esperando a vez de se entregarem. Defendem a sobrevivência – cama nua e crua. Fingem gozo. Não sentem o momento de tudo ter qualquer revelação e voltar ao normal. Se o tempo houvesse sido outro e não o que foi. Instantes sucedem-se e, sucedendo-se, param segundos.


O menino não grita. Não chora. Chama por alguém. Ali, parado, olhando as coisas sem nada enxergar. Limita-se à posição estática, chupando o dedo. Não tem consciência de tudo estar emergindo e dando espaço a outras coisas que vão imergir até que nada haja. Ali, sozinho. Nada surge. Os acontecimentos estão diante dele a exigirem participação. Mostrando-lhe tudo. Atitude instantânea. Embora não o seja tanto. A demência não lhe permite. Levanta-se. Dirige-se à beira da lagoa. Próximo ao banco em que estava sentado. Tira a calcinha. Segura o sexo. Jorra água aos poucos. Tudo, parado. Observa a ação. A mãe olha. Pasmo e terror. Somos os únicos que presenciam. Nada diz.


Saio. Caminho. Nada para fazer. Avenida João Pinheiro. Súbito salto para trás e uma risada


Recitando a lírica da vida,
Declamando os versos dos sonhos e utopias,
De sim e de não,
Nas experiências e vivências,
Decepções e frustrações
Do verbo e da carne, do sujeito e dos ossos
Que buscam a essência
Do ser e da verdade,
De olhos fechados,
Ambas as mãos tocando a face direita,
Sentado no parapeito da janela fechada,
A lua, o brilho incindindo-se no espelho,
Sou em mim dentro êxtases e volúpias,
Sensações e sentimentos ávidos,
Mergulhando-me por completo à procura de
Minhas esperanças, de minha fé,
Certeza de que agora
Estou registrando estas letras
Que se me a-nunciam nas ad-jacências
Do futuro e do presente,
Passado e do que ainda não
Fora pensado nestes interstícios
do tempo,
À beira do abismo,
Bem próximo da decadência;


Sou a hora que chega e se perde, fardo colorido, lembranças do raio de luz, sopro com que apaga na noite o lume que acendo; sou ruminâncias, à “luz da estrela guia,/ a lua clara,/ noite vadia”, olhando a vida com olhos inflexíveis e resplandecentes, em que volto a re-conhecer, na musicalidade de noites seresteiras, de forrós, de outros arrasta-pés um destino e, nas ruínas de minha vida, fragmentos espirituais, miríades de outras solidões e medos, à luz do presente que, no seu crepúsculo, a manhã ainda irradia um doce resplendor, o homem cheio de fé e de alegria, radiante de outros princípios e valores, sempre no encalço do grande e do eterno, do absoluto e divino no misticismo de outras utopias de entregas e espiritualidades, de outras lendas e mitos da história de conhecimentos e sabedorias, de outras fábulas e mentiras das buscas incansáveis do eterno.


Seria virtude, quando uma dimensão normal da demência se transforma e assume a função de uma dimensão mais forte?


Sou a utopia que na passagem do tempo e da história encontrou o berço das regências das in-verdades, verdades, para iluminá-la de desejo, vontade e razão “... de experimentar o belo, e vermos para além da visão habitual que nos é imposta.”


A ninguém a-nuncia o porvir da felicidade que acalma o intimo, re-vela a redenção dos pecados e pecadilhos, remorsos, culpas, o coração segue pulsando livre, nele a brisa suave e sublime do Espírito do Subterrâneo.


Praça da Escola de Direito. Ando às pressas. Pegar o ônibus na Avenida Amazonas. Muito chão a ser palmilhado. O tempo será suficiente. CAPRICHOS DA CONSCIÊNCIA PESADA. Elizabeth e eu deixamos de nos divertir no domingo - teríamos assistido à película cinematográfica "Z", de Costa Gavras, para que eu preparasse esta aula.


#RIODEJANEIRO#, 17 DE DEZEMBRO DE 2018#

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