ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ENSAIA A PROSA #DO SILÊNCIO PURO ÀS CONTINGÊNCIAS DA ALGAZARRA





No que concerne ao texto do escritor Manoel Ferreira Neto, DO SILÊNCIO PURO ÀS CONTINGÊNCIAS DA ALGAZARRA, vou analisá-lo à luz do que penso e baseada em algumas leituras. Linguísticas, sagacidades sugam e aniquilam a ganância da separação e proximidade do Verbo e do Ser.


E não vou deixar de frisar S Tomás de Aquino, como já frisou Graça Fontis, em que ele adopta como alicerce a hipótese da erudição para poder abordar o crescimento do dialeto no indivíduo. De forma genérica, do modo pelo qual o saber se incrementa no homem, já que é neste progresso que sucedem as chamas do espírito. No campo de acção sensível do espírito humano, quando as realidades extrínsecas ao indivíduo, obram sobre seus vividos, permitindo a constituição dos espectros; no campo de acção intelectiva do espírito humano, quando, por um método de ação de cogitar em algo isoladamente do restante a ‘índole inteligível’ do espectro é imprimida, pelo entendimento ativo, no entendimento exequível, que, depois auferi-la, ingressa em ato e motiva juízos ecuménicos, os quais, na dimensão em que são pormenorizados, convertem-se términos premeditados – a diferença entre a palavra divina e a humana – que podem ser expostas pela fala.. A paixão exprime-se pela ação direta das realidades susceptíveis na alma delicada humana; ou pode surgir na dimensão em que o entendimento exequível arrecada a sensação da ‘índole inteligível’ sobrevinda de um método abstrativo dos espectros. Tomás concentra-se no segundo género de paixão – que é aquela em que o entendimento exequível é afligido –, porque tal paixão está mais diretamente aliada com o senso e a criação do ‘verbum mentis’, que são fundamentais para enunciação da fala humana. Para Tomás, os sons nada mais são do que resultados desse procedimento intelectivo, cuja intuito é facultar a correspondência entre os homens – pois o homem é presumivelmente um bicho social.


Embora, as linguagens expressivas, que compõem porção desse método, hão alguns componentes elementares, quais sejam: os nomes e os verbos. Tais sons podem se exteriorizar de jeito incomplexo, como quando se verbaliza, por exemplo, ‘homem’ ou ‘Sócrates’, ou, então, de jeito um pouco mais intrincado, como quando se diz ‘Sócrates é um homem virtuoso’. As vozes expressivas nada mais são do que convénios humanos. Porém, permanecem igualmente, segundo Tomás, sons que hão sentidos inatos, tais como o pranto das crianças, o berro dos pacientes e as clamores dos grosseiros É a erudição deíctica que alicia o entendimento a aquiescer o real. As manifestações das proposições expressivas designam às realidades no cômputo em que a realidade delas encontra-se na alma por conta dum procedimento de dedução que é concluído pela sentença do raciocínio. O verboso e o vate, em compensação, aliciam o audiente para a aquiescência do que ambicionam, ou seja, forjar as ideias dos auditores, por isso não hão imprescindível acordo com a realidade. O verboso e o vate fortificam -separa exortar alguns encarniçamentos nos auditores, ou seja, suas proposições tendem à disposição do intuito do colocutor para aquilo que lhes importa. Na ciência deíctica, em compensação, existe a aspiração de se arquitectar, por juízos de realidade e aldrabice, as proposições expressivas, as quais facultam a correspondência douta, ou seja, a correspondência que origina erudição, sentido restrito, entre os indivíduos. Posto isso, exercer verbalizar tem como objetivo o de intentar exibir como as partes, constituidores da proposição expressiva, relacionam-se entre si, facultando, dessa forma, as adjectivações.


O ser humano se vê em diferentes condições de pressão, na qual percebe-se a carência da demanda de um posicionamento contrabalançado. Uma destas condições é o caso de que o instante que é a actualidade, é aquele que está "através do pretérito e o porvir", entre o que foi e o que será, que conclui visando como resultado a intelecção humana das distintas imputações que lhe compete. Existe a imputação para com o pretérito, mas não desconhece o peso com a actualidade que o circunda e o porvir que o aguarda. Estas imputações estão dissimuladas no ser humano, vibrando na sua essência conhecida e sociável. É precisamente por isso que dos dez mandamentos os seis últimos são em relação ao próximo (Ex 20,12-17), quanto à família (Ex 20,12) e à sociedade (Ex 20,13-17). A Bíblia noticia a fantasia de um apreço grupal que compete à humanidade e que se concede para com o pai (pretérito), o irmão (atualidade) e o fruto (porvir).


Outra condição que produz a excitação no indivíduo, encontra-se na insegurança tão patente, é a sua essência duvidosa. Disto, é lógico a intelecção de Arnold Gehlen de que o ser humano deve diligenciar entender a si inerente e que esta contenda expressa sua própria humanidade: o ser humano é o animal que busca sua natureza e seu âmago encontra-se precisamente nesta demanda. Existe que se possuir a escrúpulo da carência de demanda sobre a inerente verdade humana, cuja essência em geral é entendida como, no ínfimo, em pressão, já que em tantos factos se acha em posições de incoerências, que abrangem a vida humana em todas suas medidas.


Sobre essa pressão, sabedoria e doutrina se encarregaram e, ainda perduram, com a finalidade de inculcar elucidações defensáveis na cena desse "cunho trágico"1, e acomodáveis na verdade essencial. Em quê, cada uma delas, pode ou não, ajudar para a vantagem da pressão ambivalente da essência humana? No mesmo sentido, em que, cada uma delas, dialogalmente auxilia ou até mesmo doma a diferente? Na óptica conveniente qual domínio ser o enuncia que sucede por várias ocasiões em uma obra literária, que faculta a partir de sua particularidade a harmonia ainda no ser de pressão?


A óptica da doutrina religiosa da essência humana não se opõe à veracidade da pressão, mas a abarca e labora sobre ela, aceitando e edificando sua organização sobre o componente de pressão que encontra-se incessantemente existente no "cunho teatral" da existência humana. Naturalmente, os sentidos opostos da essência humana não é escassamente fundamental para o entendimento de si próprio por parte do religioso, mas igualmente para a intelecção do apto Redentor que, sendo Divo, se fez indivíduo.


A acção de encarnar não só demonstra a criatura de Divo, como igualmente comprova o inerente ser humano para si próprio. De forma relacional o operar de Divo através de Redentor abasta remição em trâmites nauseabundos que se alteia a partir da colocação do ser humano e no seu cumprimento de formas de conduta dentro do desígnio remidor. Essencialmente a remição nauseabunda por seu cunho vindouro poderia limitar-se a simples esperança intocável na actualidade. Porém a reflexão cristã antecipa esse vindouro e o enaltece simbolicamente na prática cristã sobre o motivo da crença em Cristo pela qual os cristãos "auferiram a perfeição"


Essa grandeza conseguida pelos cristãos através da crença em cristo pode ser lida aqui como a anulação do cunho trágico, ou de sentimento de medo existencialista. Não traduz a exclusão da ambivalência, nem mesmo a sua intelecção, antes a sua compreensão numa renovada existência em concordância.
Enquanto isso a duplicidade tétrade que se incrementou com a escassez da alegoria de modo algum pode realizar a função elucidativa que a ambivalência alegórica passa sobre a existência do leigo e do imortal, precisamente por licenciar de lado o componente do divino/desonro, que é ao mesmo tempo a estrutura diferenciadora e aproximadora entre o indivíduo e Divo, ou seja, a natureza da oportuna crença.


Tal sentido pode tanto mergulhar a doutrina como revigorá-la. Como bem comunicou C. G. Jung, "o protestantismo foi e ainda é um enorme perigo e, ao mesmo tempo, uma enorme oportunidade". Deve-se retorquir a tal inquietação socorrendo-se do saber lendário da forma precisa aceitar-se que o divino excede qualquer dimensão do que se baseia na razão não é de jeito algum um interrogatório à legitimidade da doutrina, mas a oportuna intelecção de seus términos.
E assim concluo uma análise ao texto, correta ou não… transcendências ingerem e satisfazem a avidez da distância e contiguidade do Verbo e do Ser.


Ana Júlia Machado
23/12/2018


#DO SILÊNCIO PURO ÀS CONTINGÊNCIAS DA ALGAZARRA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA


EPÍGRAFE:


"É nesta distorção a desembocarem caricaturadas de sombras e ilusões no plano realístico tantas emoções diferidas na captação pelos sentidos, ditos inteligíveis pela supra sensibilidade neste campo inconsciente, largo e irregular, mais específico ao acesso às grandes investigações e conceituação das andanças e danças que a existência nos propõe."(Graça Fontis)


Ás vezes, penso que o desejo do SILÊNCIO só vive de doações ao mundo íntimo das palavras e das expressões,
suas metalinguísticas e metafísicas, com saudades, inaudíveis sons das realidades e das fugas, das imaginações férteis e forclusions, são estas o rosto da eternidade refletido no rio do tempo, com ternura, e sou eu quem desperto o infinito e o profundo, desejando a Vida.


Águas re-fletindo imagens,
Sob raios numinosos do sol,
Lírios brancos à mercê de vento suave,
Orquídeas lilases a indicarem as serras
Montanhas a serem atravessadas,
Belga pousado no arame farpado
Da cerca, trinando seu canto,
Forasteiro cortando pedaço de cáctus
Com o canivete afiado,
Caipira mineiro, sertão, sentado no toco de árvore
À soleira do casebre,
A contar causos com a companheira ao lado,
Crepúsculo de verão, janeiro de calor incandescente,
Jovem escritor e poeta, recostado ao parapeito
Da janela, ouvindo o barulho do trem passar
Próximo, muito próximo, uma grade os separa,
Urubuservando lugarejo à distância,
Onde descansará as labutas da travessia
Do deserto,
Chupar-lhe o néctar do saciar a sede,
Nuvens brancas deslizando no azul celeste
Pétala perdida de rosa vermelha sendo
Levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada.


Por vezes, nestes lapsos do tempo e ausências do ser, perscruto as atitudes e ações de minha companheira, seus gestos e toques de idéias, pensamentos, ideais, sonhos, esperanças, utopias da Imagem e do Ser, é-me ela a luz e a música de minha existência, e sinto estar ela sempre indagando a nossa Entrega, em nível de seu espírito e coração, sou-lhe a mão que segura a sua e seguem passos e traços, dizendo-lhe sempre comungados, sintetizados, conciliados, o nosso destino construído com as artes de nossas mãos e sentimentos, Humanidade do Ser. Ternamente e eternamente juntos.


Travessia do dia e noite, o sono que me vem revelar o desejo de sonhos que se manifestam em imagens, que me vem despertar os linces do olhar as coisas, captando-as, re-colhendo-as, a-colhendo-as com perspicácia e habilidade, deixando-as livres de se a-nunciarem, sem razões, intelectos, interesses, unicamente o projeto da sensibilidade nas palavras, mesmo que a intelecção delas seja abismática, abissal, quiçá mister outro vê-la e des-vendá-la, des-nudá-la...


As janelas de guilhotina, de todas as casas, mesmo aquelas em que ninguém mais habita, estão fechadas, e aquelas que, desabitadas, pela ação do tempo, estão caindo, restam apenas escombros, por dentro conduzem inerente à vontade à Cruz do Cruzeiro, Cristo Redentor, que mostram às cidades a redenção e ressurreição, o perdão, e isto é alcançado com o retorno ao amor que fecunda e gera a compaixão e misericórdia, e por que só atitudes de não, hipocrisia, falsidade, farsa, trafulhas, tramóias? Patrimônios Históricos e Culturais, das Artes só frutificam por intermédio das transformações e mudanças ao longo das perspectivas do tempo e história, in-vestigando-lhes as idéias que se conciliam, comungam, aderem, embora as ad-versidades.


As coisas, sejam de que nível e elevação, origem e decadência, podem chegar ao ponto em que não é dada a dádiva ou unicamente privilégio em não poder mais entregar-se à tendência contemplativa,
(Sic), ir passear com os pensamentos, divertir com as idéias,
aprazer nas quimeras de companheiros de mesa, de conversas elevadas, sem sensação de culpa e uma consciência pesada.
Em mim sentindo íntimo, a alegria conjuga versos
A felicidade recita de rimas as fantasias do amor Correspondido,
Do amor
Sentido profundo,
Do amor Saboreado,
Do amor
Entre-laçado de corpos
À procura do clímax absoluto e pleno
No que em mim deseja de Verdades
As regências verbais tecem de erudição
A estética do estilo sensível, espiritual,
As dialécticas da contingência e psique,
As metáforas conjugam de imagens
A linguística do eterno,
As regências nominais desenham
No horizonte as perspectivas
Da linguagem do Ser e Tempo,
Não se pensa o Ser e Tempo sem
Os verbos que lhes habitam,
Mesmo que os verbos se localizem
Além do Tempo e do Ser,
Não se sente profundo o Ser e o Nada,
Sem conjugar a liberdade e as consequências,
Gerenciar as escolhas e as utopias da consciência-estética,


Seco fotográfico, paisagens e personagens,
Semblante, drama e tragédias,
Fisionomia, algozes e vítimas,
O Diabo e o Bom Deus,
Dentro de uma mesma perspectiva existencial,
Os dados d´A Náusea lançados, projectados,
D´O Vazio solapado nas bordas da palavra e língua,
E nos interstícios da alma de verbos alucinados,
Esperanças delineiam de perspectivas
Cânticos solenes em uni-versos líricos
Plen-itude de êxtases compõem de estesias
Alhures de sentimentos à busca
De subjetivas verdades
Algures de desejos de felicidade à busca
Do espírito de con-templar o absoluto
Sentido efêmero,
Sentido volátil,
Sentido nítido nulo,
Sentido estrela cadente,
Sentido vazio
Sonhos do belo, beleza de re-fazendas conjugam
Imagens e intuições,
Perspectivas e inspirações,
Criatividade e percepções,
Re-criando da memória o movimento,
Literalizando da recordação os instantes,
No poema do espírito a presença viva
Do eterno feito amor,
Do efêmero feito desejo,
Das Serpentes de Zinco, o presente do Espírito nas
Línguas divididas, não se reúnam, o veneno não
Será injectado....


Alguém que permaneceu demasiado tempo no seu canto e foi levado ao desespero por ela, e contrariamente a essa permanência, agora desfruta entusiasmado do ilimitado, da "liberdade em si."


A síntese faz o veneno da tese e da antítese, compreendam ou não, entendam ou não o que ad-vém de por trás destas palavras e metáforas, eis
O mais profundo que tenho que viver
E investigar.


A palavra é o espírito da vida. Deus, Iluminação, Amor, Misericórdia, Ágape, Nous, Theos, Inner, Numinoso, Assunção. Creio que diante de tantas dimensões divinas e humanas, o homem está cheio do Amor de Deus, entupigaitado de utopias nascidas e re-nascidas sob o ângulo inverso, e por isso mesmo é um povo humano, hospitaleiro, gentil, em demasia cínico, irônico e sarcástico, mas isto devido ao fato de que é um povo que busca, que deseja, tem vontade do Sublime e do Sagrado.


Há procissão de águas na moldura da vidraça. Encontro o sentido do Silêncio e da Humanidade do Ser. Numa refração de ouro claro, de cristal inda nos sacos a ser trabalhado, surge o momento em que palpitam as asas de uma águia, recolhendo a sin-fonia de águas revestidas de silêncio, ópera de ventos sibilando as solidões do mundo e do homem. Surpreendo a sombra e o deserto sob a ambigüidade. Pré-sinto outras alamedas e becos por onde traçar os passos e marcas.


Do há-de ser feito querência
Do simples feito grandeza
Do nada feito travessia para o além...


Sentimentos leves perpassando o íntimo,
Carinho,
Ternura,
Afeição,


A face dos ventos arrasta e dispersa as nuvens, agora tudo se amassa em encantamento ou em indiferença ou em absurdo, e faz sair um brilho nos olhos, que experimenta a vereda, que evoca com as asas ensopadas, o horizonte em que me encontro é a distância verdadeira, sigo-o como cumpre fazê-lo. A idéia de presença se confunde com o presente, enquanto a idéia de distância indica passado. Mais longe, mais profundo sinto um quadro de menino à janela de guilhotina, a lua resplandecendo. Impossível re-conhecer o meu rosto, mas sei quem sou nestes devaneios e metafísicas do tempo e do espaço verbal entre os sentidos e as perquirições.


Poucochito escuto música romântica,
Re-cordações de, às seis da tarde,
Passava na praça do fórum,
Ouvia a música italiana Silenzio,
Sereno, tranquilo, parecia flutuar,
Alguns estudantes sentados revendo as lições,
Escrevendo, quiçá terminando redação,
Escrever o Som - como poderia alguém realizar isto?
Fantasias perpassavam,
Retornava aos pensamentos normais,
Aproximando-me de casa, esvaeciam-se,
Silêncio.
O que há comigo para ninguém nem mesmo
Acreditar nos meus maus argumentos?


O sol deita-se e as nuvens azuis colorem os terraços brancos. Afigura-se-me haver distendido uma mola no interior. Parece-me, em princípio, haver sentido uma eclosão, por haver dito com o mais singular, manifestando-me para além do inteligível, larvas daquele vulcão lá na Itália em plena manifestação, fase de erupção, lenhas da fogueira a cremarem as lenhas das razões, intelectos, ideias, utopias de todas as coisas, apenas deixe as cinzas que se esplenderão pelos ventos e sibilos, outros sentires e pensares.


Ouço o pulsar do coração, extasiado de emoção,
No que em mim trago dentro, as volúpias da alma
Transcendem as elegias do instante de sonho,
No que fora de mim, trago sob investigações
Avaliações, considerações,
Ad-moestam as perspectivas das bem-aventuranças,
Momentos de justificativas e explicações
Do reverso destino das in-versas utopias do Ser.


Na límpida transparência das águas, a luz segue o itinerário sem limites, sem pressa, sou eu quem aspira e ins-pira a vida, à procura da fonte originária que a busca do mar alcança, as ondas sonoras, linguísticas, metafísicas bebem e saciam a sede da longitude e proximidade do Verbo e do Ser.


#RIODEJANEIRO# 17 DE DEZEMBRO DE 2018)






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