#LÁGRIMAS DE MINHAS QUIMERAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA POÉTICA



Com a vista no céu per-corro os astros. Vagueia-me a mente além das nuvens, vagueia-me o pensar, vagabundeia-me o filosofar... Nostalgia!... Essa re-versão de minha quimera, esta in-versão de minhas fantasias, esta con-versão de minhas razões, a liberdade de minha personalidade não constituem aventura prazerosa e confortável, di-vertida, mas, ao contrário, é com frequência difícil e complicada e, não raro, quase ininteligível, com o sentimento de vagarosa caminhada, sensibilidade solerte, a vida é tropa viajada lentamente...


Prantos de meu pensar
agitam-me como diamantes
as mãos,
iluminam-me a luz de cristais
expostos ao sol,
como pedrinhas redondas
quando lhes piso
descalço
que elevadas ao céu de toda a terra
enxugam rindo os prantos que caem na terra,
molhando a poeira ressequida,
Não faço parte daqueles que pensam
com a pena molhada de tinta na mão,
ainda menos daqueles que se abandonam
às paixões sentados na cadeira,
diante do tinteiro aberto,
olhando fixamente, perscrutando
o papel.


Quiça lágrimas de minhas quimeras
De idéias conduzirem a jornada da humanidade,
De pensamentos esclarecerem as intuições, inspirações,
Percepções, sensações,
Que re-fletidos à luz e sombra dos desejos e interesses
Senão aquele sentimento de alegria introspectiva,
Circunspecta, alfim são considerados pensamentos, idéias,
Lavem a fisionomia, semblante,
A alma apaziguou-se, são lágrimas
Reconheço-as,
Inda saberei definir e conceituar o que são elas,
Se de alegrias, de danças como resultado,
Até então, ad-virto-me de deixar as coisas acontecerem,
Seguirei a via percuciente com o estilo e conduta,
Postura à parte porque significa apenas
A vaidade de etiquetas diplomáticas,
Que diferença faz
Cortar à faca o frango com todas as etiquetas de importância,
O perigo é sair com as mãos etiquetando o frango
Cortado à faca,
Não importando em que lugar, em que ambiente,
Ou segurá-lo nas pontas dos dedos e degustá-lo livremente?
Assim, não gesticulará, habita-lhe esta cultura,
É a própria identidade sem tirar nem pôr.


De dimensões da náusea do nada
Pervagando no cata-vento das contingências
Da dúvida e do medo de o eidos
Da esperança ser apenas movimento
serem exclusivamente gestos e toques,
serem de excelência palavras,
(se acreditasse em metáfora, diria,
com toda razão,
ser isto metáfora - mas não acredito)
Inerente ao ser-para-a-morte,
De lâminas afiadas do vazio das utopias
Do sublime, da pureza,
Perpassarem de leve a superfície
Dos desejos e volúpias.


Quando vejo as noites belas, onde voa a poeira das estrelas e das constelações di-versas, fito o abismo que a meus pés se encontra, sem poder esmagar a iniqüidade que tenho na língua sempre, a liberdade, nada no coração.


Res-ponder por mim mesmo
E res-ponder com orgulho
que prantos agitam-me as mãos,
dizer sim a mim mesmo,
eis um fruto maduro,
eis uma polpa saborosa,
eis uma delícia de deuses,
eis um fruto tardio;
quanto tempo houve de estar este fruto,
ácido e verde,
pendurado na árvore?
Ontem pela manhã,
Andei pelo quintal,
catando manga no chão,
perscrutando o pé de mamão
carregado,
há pouquíssimos dias comi
mamão com carne de sol,
apanhado por mim,
as duas primeiras maçãs do pé,
prefiro mais as peras
Jana e Paloma ao redor,
dormindo na grama.


Nasci em contacto com a natureza
Convivemos por longos anos,
Dois cães, Bolinha e Museu,
Passarinhos, papagaio, galináceos,
coelhos,
Jovem, homem,
Ausentes por longos anos,
Não mais subir na jabucatibeira,
Chupar-lhe os frutos até enfastiar,
Ruas, avenidas, subir nos andares
de prédios por elevadores...


E no crepúsculo o retorno à natureza,
Não ao mesmo quintal, não existe mais,
Outro inda mais aconchegante,
sereno e tranquila,
Habitado numa ilha,
floresta, mangues,
montanhas,
Não são mais ilusões, fantasias a vida
São sonhos, esperanças, querenças
Amor no ar,
Amor no tempo,
Amor nos instantes...
Por sempre!
Inda para completar
A dádiva da presença do mar
Quotidianamente.
Existe a Terra a ser descoberta
- e mais de uma!
Subam no barco,
Senhores filósofos!


#RIODEJANEIRO#, 02 DE DEZEMBRO DE 2018)

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