SONIA GONÇALVES ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA A PROSA POÉTICA FILOSÓFICA



Boa noite, Ferreira Manoel Ferreira Neto! Quê crônica linda! Fato, a morte pode não ser assim tão feia como se pinta, ou o além existir muitas coisas além da nossa imaginação, coisas tantas como canta e conta o poeta em sua crônica sensacional. Estou aqui aplaudindo ainda sua destreza em descrever com palavras lindas a morte dançarina, numa rima de fogo, num jogo poético muito interessante, na sintonia das águas uma crônica não liquida, sólida e sob medida para esses tempos malucos que vivemos e essa loucura que é sempre final de ano.Muito reflexivo também, nos envereda os caminhos poetizados pelo poeta Manu. Bjos parabéns! A Pintura linda como sempre.


Sonia Gonçalves


Jamais, em toda a vida, pude compreender a razão de a morte transtornar-me tanto, deixar-me sorumbático. E creio que não a compreenderei nunca. Então, nestes já vividos sessenta e dois anos, venho pensando e refletindo sobre a Morte mais do que o fiz. Se me serve de consolação para o fato de que nada restará de mim daqui a alguns anos, posso hoje entender isto: amaria viver mais e mais, pelo menos mais uns vinte e cinco anos, é que aprendi a amar a existência como não o tinha feito nestes todos anos. Assim, procurei escrever este prosa com a alma, nela inscrita sentimentos, desejos, vontades, esperanças, sonhos, dores e sofrimentos, angústias e tristezas. "... a morte dançarina, numa rima de fogo...", como tão de excelência percebe e sente. A rima de fogo é o des-afio de viver e ir artificiando a sabedoria da vida.
Beijos nossos, querida.


Manoel Ferreira Neto


#ONDE... A MORTE...?#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: PROSA POÉTICA FILOSÓFICA


Onde estavam os homens que traziam, enviavam a morte?
Dentro das barcaças, contando mercadorias.
Nas construções, onde trabalhavam dezenas de pessoas.
Nos batuques clandestinos, onde corpos se roçagavam com corpos.
Nos hotéis miseráveis, onde reinava a mais absoluta promiscuidade.
No mato, procurando cortiços de abelhas.
No barranco, misturados aos embarcadiços.
E encerrados, sobretudo no medo. Medo de se denunciarem E serem atirados ao isolamento,
Condenados a serem eternamente sós,
Lugar onde ninguém os poderia encontrar,
Pelo menos ver através de uma certa distância.


Onde estava a morte que levava os homens?
Algures e nenhures,
Perscrutando o deslizar do tempo suave e serenamente.
Alhures e em caverna e montanha alguma, perquirindo a Escuridão e o descampado sombrio.
Nas praças públicas e nos lotes vagos,
Observando os transeuntes no instante de lazer, as plantas Daninhas, o capim, os objetos nele espalhados
Em sua extensão.
Nos hospitais e manicômios, indagando a dor e o sofrimento, Os devaneios... desvarios.
No campo santo, questionando-se, ansiando tres-Loucadamente entender e compreender com lucidez e Consciência o porquê de ser o fim da vida.
Nos orfanatos e seminários, de olhos abertos e introspectivos, Linceando a fé, a entrega à espiritualidade
Omnisciente. Omnipresente.


A noite corria serena. As árvores, impassíveis. Adivinhava-se a presença do Rio das Pulgas. O batuque prosseguia com loucura. Uma só massa a girar em torno ao fogo que morria, um só corpo embriagado uivando com arremessos desordenados.


Onde o sorriso, a alegria, a satisfação da morte por haver o seu instante, instante-limite, instante absurdo, quem o sabe?, sua luz de vida, e com o de-correr do tempo, a sua indagação suprema, por que ser ela quem traz no âmago de todos os medos, hesitações, pavores, tristezas, angústias, tremores e temores? Mistérios, enigmas, mitos, rituais, ritos... E quem morre não retorna para dizer o que existe além, o que é ela?


Pode ninguém acreditar as coisas estarem se dando deste modo, neste estilo, pois, de que ponto de vista for interpretado, haver coerência de sentimentos e emoções, a língua é erudita, culta, a linguagem filosófica e poética, se é possível haver alguma neles: quem sabe seja “harmonia”?!..., quiçá a sin-cronia, sin-tonia com as dores mais profundas, as angústias sofridas, da alma, de onde nasce o sabor das vozes que sussurram, murmuram a melodia da verdade das contingências - creio a imagem se atrapalhara no comenos da perspectiva, saindo sem algum tempero, sal nenhum.


Onde a morte da morte, um tanto estranha esta perquirição, mas mergulhando um pouco mais, ela carrega o dom de ser eterna e ser mistério, não haver a morte da morte e sendo enigma, seria que não tenha em si mesma o dom de desejar a vida, a luz? Como pode ser ela a luz suprema do além, se ela permanece por sempre a treva?


Onde ser plausível de ser sentido que ela está presente numa doença, numa guerra, num assassinato, num suicídio, numa tragédia, na velhice, o que chamam de "morte morrida", dor inconsolável, e ninguém sabe de sua sina, sua saga, seu destino, esta dor imensa, e há até quem tenha a misericórdia de considerá-la insensível, as suas lágrimas ninguém as sente em todos os momentos, não se lhes veem descendo a face.


Ser ela dançarina, ser da mímeses, capaz de modelar-se e trans-formar-se em quaisquer circunstâncias e situações, de modo que podia imitar mesmo a liquidez da água e a rapidez do fogo na agilidade de seu aparecimento, de sua atitude, de seu movimento de levar a vida embora.


É isto a magia da palavra, deixando-a dizer ao longo da criação, da imaginação, da intuição, da poesia no tato de cada dedo, em especial, aí ninguém sabe qual delineia a linguagem; e saber que se me não fora vocacionado conhecer emoções e sentimentos que percorrem todo o corpo, acreditei nela, sabendo agradecê-la alegrias e satisfações, hoje me orgulhar dizer ir “aquém de qualquer além”, - de qualquer além? Algum além há!... - e com esta resposta deixo as pessoas de tabernas e tabernáculos, bares e botequins, esquinas e portas de igrejas, buscando saber o que desejei dizer com isto.


Sem sentido. Eu quero ir embora, quero dar o fora, desaparecer, escafeder-me, e quero que ninguém me siga.


#RIODEJANEIRO#, 06 DE NOVEMBRO DE 2018)

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