#ITAGUAÍ ESVAECIDA# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA


Epígrafe:

"Ah... meus pensares, deambulo brilhantes ficções a iludirem a mente, julgando-as reais e quedo-me na vencibilidade da insegurança, para emergir num combate verbal descomedido, audaz e seduzente do ápice da minha sabedoria!"(Graça Fontis)

A alma vagueia na lua cheia,
Os sentimentos bailam à beira da lagoa da gruta,
Maquiné... Maquiné...
"Viver é muito perigoso"...

As emoções dançam ao redor das chamas
Do fogão a lenha, a cisterna aberta,
Galinhas ciscando no terreiro,
Vozes no "quartinho de costura",
Músicas na eletrola, máquina de escrever,
Papéis e Vazios...

Per-curso, de-curso as estradas da praia,
Consciente, elaboro, delineio perspectivas,
Romântico, delineio ósculos, toques e palavras ternas,
Livre, artificio voos pelos desertos, oceanos,
Portos e ruas, templos,
O eterno se compõe
Trans-cendentes pre-figurando os lírios do campo,
Con-figurando as montanhas de vegetação rasteira,
Além re-vestido de sonhos, utopias.
Idílios sorrelfam as magn-itudes do uni-verso
Gerundiando os partícipios de trevas e cosmos
Metafísica da des-plen-itude, poeira de ads-emeritudes.

Que vai além da alegação apenas des-critiva de que a vida implica sofrimento e obriga à implicação normativa de que é indesejável viver e desejável morrer, a fantasia é proibida e o fracasso con-sentido? Os remos vão perdidos, o barco vai não sei para onde, sem quaisquer noções e direções, a esmo. Marinheiros mareados vagam no porto, cambaleantes. Que é do sorriso dos ideais magnificentes, das idéias exímias? Que é da seriedade dos planos inenarráveis, em demasia radicais? Que é das diversões no crepúsculo, só prazeres? Que é das indagações e perquirições dos insucessos e tristezas de agora?

O coração mais longínquo, a alma menos minha?

Caos?... Metafísica?... Inferno?... Que imagem aprazível na superfície lisa do espelho por onde olho estas “cositas” e balizo os instantes, corroboro os desvarios da imaginação fértil? E se um olho manda o outro catar coquinhos nas constelações? E se o outro responde não haver coquinho nas constelações? Porventura algum engenho para traçá-la a palavras e pintá-la a metafísicas, desenhá-la a metáforas, pintá-la a dialécticas das sombras e da luz! Todos nós... Ninguém! A face da alma sensível que se aborrece com estas verdades da vida e do mundo? O rosto da consciência irrepreensível que se contenta por saber a vida é o que é? Por que esta habilidade tão grande em fazer tramóia com a realidade, com o real?

Perquirições... perquirições... perquirições... Desejo dizer algo, algo que de-finit-ive a dor maior de minh´alma; terei de arrancar-lhe de dentro, à força, assim necessário. Não me sinto incapaz, mas algo a faltar-me para este empreendimento.

Elejo a odisséia sublime da roda-viva da sina e do tempo, meditando seriamente as circunstâncias de exercer a liberdade que compensa as imanências da história, e a história não tem fim, só possui meio. Raios e trovões inestimáveis precisam de tempo, carece de tempo a luz das estrelas, as ações precisam de tempo para serem vistas e ouvidas, depois de patenteadas. Antes isso que ser o que atravessa a vida olhando para trás e sentindo tripudiado, enganado por mim próprio, magoado com o destino que traçara, apesar de que inda possa traçar noutros ângulos; por indiferença às noções de sofrimentos e dores, não me esmagariam os ombros do pensamento. Se o mundo é algo houvesse sido melhor, se não existisse, então o intelecto do filósofo, que faz parte desse mundo, habita-o, é também um intelecto que seria melhor não pensasse. È mister a filosofia ser otimista, caso contrário, negaria seu direito à existência. Seria que não houvesse dado atenção aos caminhos que deveria projectar, sabendo-os? Nada entendo, nada compreendo. Há respostas só no crepúsculo se esclarecem e se realizam. Quantas realizadas, saboreadas, degustadas, duas taças de tim-tim. Inda outras tantas a serem! A exiguidade do tempo no relógio do pensamento: não dizem que o pensamento é a conversa do homem consigo mesmo?

O silêncio retirou-se, re-colheu-se - o silêncio é considerado, reconhecido, laureado profundo, profundésimo, a menina dos olhos de todos os artistas e filósofos, mas inda nem visualizado na superfície, apenas algumas gotículas de seu conhecimento, o tempo mostrará o sublime de sua audição -, não me é sensível compreender e entender a poesia das palavras e sentimentos, enredo dos sentidos, acredito que eles não se esgotam, precisam ser expressas, verbalizadas, mesmo sem quaisquer significados, significantes, metafísicas, estesias, só palavras. Eu que necessito deles recorro ao caos, à metafísica, às metáforas, ontologia, ao purgatório, ao inferno, a Dante Alighieri, não lhes são inerentes quando o travo gélido gargalho. Por que a euforia, a volúpia, a exultação do patentear o que de profundo emerge do inconsciente e mistérios, misticismos e lendas, "causos", estes só os mineiros trazem em si os seus caracteres e sentidos envelados, insinuados, suas mensagens e verbos: fui abandonado sem saber o palavrear dos recônditos do silêncio? Se é efetivamente silêncio, pode ser apenas um vazio que trans-cende o vazio do mundo e da terra, nesta conjuntura as palavras fluem a cântaros, aspiram a esgotar, e nascem outras, re-nascem novas, adquirem outras luzes de sentidos.

Inverno, tempo nublado, frio à luz do espírito, o além re-vestido de sonhos, utopias do trans-cendente pre-figurando os lírios do campo, os cactus do deserto, as veredas do sertão, os lobos da colina, re-presentando o éden de sorrelfas - inspiração, sensibilidade, verbo da plen-ítude compondo desejos do ad-vir - na alma perpassam angústias, tristezas, desconsolo, desolação, medos indescritíveis, tremor e temor. Nem onde essa paisagem é sob eterna luz perene descobrirei os enigmas profundos da natureza, da condição humana. A arte de sorrir todas as vezes que a alma alaga-se de caminhos nas trevas, afoga-se em angústia, enchafurda-se na depressão.

Só, solidão, sozinho andando por entre os homens, deambulando por entre as coisas do mundo, perambulando por entre os animais, sorumbático. Por um lado, isto é o que é, por outro é a terra. Terra de vazios, terra de nadas, terra de ossos, terra de cinzas, terra de nonadas e travessias, terra de algazarras fúteis e medíocres.

Inter-ditos da morte
A-e-i-o-u...
Auscultar o murmúrio de vozes
Enveladas de tristezas e agonias,
Introspectivos as alegrias e prazeres,
Ou musicalizar o cântico das travessias,
Seria que não estivesse
Vagando por aí através
De um nada infinito?
Devaneando acolá por intermédio
De um vazio sem limites e fronteiras,
E o des-conhecido de morrer
A-b-c-d-e,
Além dos caracteres visíveis e invisíveis,
Bem aquém deslizam lágrimas pujantes, en-si-mesmadas,
O espaço vazio,
Seria que não estivesse me bafejando?
Ou seria que estivesse blefando com os
Pretéritos sonhos do conhecimento, utopias da sabedoria,
Ou seria que estivesse trafulhando
Com os naipes das cartas de pôquer?
Ou... Ou...
Náuseas da verdade absoluta
Perspectiva que é continuidade no tempo
Verbo da plen-itude, compondo desejos do ad-vir
A existência não é um argumento;
Dentre as condições da existência,
Poderia existir o engano.

Luzes... palavras, velas uni-versais. Desde que possa sentir os verbos que compõem a sabedoria que goteja o orvalho, as madeixas do ocaso, voltejando o vento de degelo, sarapalhas no cume das serras. Além de gerenciar as pronúncias e conjugações, cuja intenção é o auscultar, escutar, ouvir as cadências dos pensamentos e emoções, sensações.

Nada. Nonada, Instante-limite. Travessia. A revelação do porvir é impossível porque a alma vagueia na lua cheia, pervaga nas trevas, quiçá medievais, de pretéritos ad-jacentes, ad-stringentes às contingências, náuseas da verdade absoluta, a mente devaneia nas cavernas, grutas, idéias e pensamentos, sei lá que coisas divagam inconscientes. Quem fui ontem o presente diz haver sido único e apenas o olhar as perspectivas da vida que é continuidade no tempo, o verbo do ser se compõe na esperança do eterno e o eterno se compõe na esperança do verbo.

Dos pensamentos e idéias, os ideais e utopias da tagarelice da virtude com a tagarelice da fama na última hesitante aventura da derradeira felicidade, última bohêmia que recita e declama versos à luz do sol, nuvens azuis e brancas do meio dia, nada mais explica ou justifica estrelas e lua serem testemunhas das dores e sofrimentos do amor não cor-res-pondido, á-gonias das frissuras do eterno não realizado.

Se é que se possa acreditar, inda que se entregando às fantasias do limite, o eterno se compõe, quais versos, estrofes, ritmos, sinfonias, óperas, serestas, serenatas, acordes e musicalidade, na esperança do verbo, no sonho do sublime, tudo são medos da vida que são infinitivos do tempo. E quem tem medo do sonho de amar o verbo verbaliza o absurdo de viver unicamente os inter-ditos da morte e o desconhecido de morrer, tudo são justificativas, explicações de um orgulho da espécie e da raça, estirpe e laia.

Caos na metafísica do inferno. Inferno na exegese do vazio. Metafísica no inferno do nada.

Inferno de dialécticas.
Das chamas,
O que mais surpreende é a maneira como se requer o mais difícil, o mais complexo, o mais hermético, o melhor, sem o retorno dos encômios e das distinções; fazer bem feito é a regra, a falha é a exceção, a ordem astral em que vivo é uma exceção, essa ordem e a reelativa durabilidade por ela condicionada, possibilitou novamente a exceção das exceções, excepcionei contramãos e regrei as contradições. Falhei em tudo.
Da fumaça,
Muitas cositas vagas, quiçá devaneios e desvarios, ad-versas à modelagem, foram poupadas e aproveitadas para uma visão à distância: - para acenar ao longe e na direção do imensurável.
Inferno de contra-dicções.
Do nonsense,
Nenhum vencedor acredita no acaso.
Do saber,
Nada há de sol sob o novo.
Inferno de medos
Da morte,
O próprio Deus não consegue
Sobreviver sem pessoas sábias.
Do absurdo,
Todas as auroras raiam no mesmo
Lugar: In-finito
Ao meu lado está o mar, é de verdade,
Não ruge sempre,
De quando em vez fica ali, como se
Fosse de ouro e seda,
Sonhando com as coisas esplendorosas,
Idealizando sabedorias,
A divina comédia, em cujos
Interstícios
O vazio se espreguiça, Macunaíma
Indiferente à ampulheta,
O nada suspira, Brás Cubas
Narrando o seu último instante no mundo,
O absurdo se refestela no seu canto,
Bacamarte no seu desvario
Antoine de Roquentin, ouvindo,
Some of these days
Raskolnikov anda pelas ruas
San Petersburg, o crime presente
Na mente...
Olhos fixos no buraco
Da fechadura da porta,
Itaguaí esvaecida...

Mas não é o fim...

#RIODEJANEIRO#, 27 DE DEZEMBRO DE 2018

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