#IPSIS CINZAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA POÉTICO-FILOSÓFICO DO NADA VAZIO DE TUDO

 
EPÍGRAFE:

#No TEMPO não se revelam SEGREDOS; os SEGREDOS revelam-se com o TEMPO#(GRAÇA FONTIS)

Tudo...
Nada...

NADA...
TUDO...

NADA DE TUDO
Tudo de nada....

Nada de tudo efemeriza as nostalgias do pretérito,
Nostalgias do gerúndio, nostalgias do subjuntivo,
Nostalgias do genitivo, nostalgias das declinações
De todos os tempos; aclives na transcendência,
Tudo de nada nadifica as saudades de outrora,
Saudades da genesis, saudades dos princípios,
Saudades das origens, saudades das raízes;

De nada os universos oníricos refazem
As náuseas milenares do paraíso perdido
Perdido na redenção dos pecados capitais
Perdido na ressurreição dos dogmas
Perdido na salvação dos preceitos
Do verbo trans-literalizado carne, ipsis literalizado cinzas;

De tudo os horizontes do mistério
Do eterno habitando a luz da efemeridade
Do eterno sendo eidos da ponte partida do passageiro
Do fugaz sendo a essência do absoluto
Que se estiola nas bordas do absurdo;

De nada os in-fin-itivos con-tingenciais artificiam
Os vômitos seculares das bem-aventuranças
Bem-aventuranças das virtudes espirituais,
Bem-aventuranças das viperinidades imanentes
Do juízo milenar e secular, nasce
A vontade de criar, inventar o próprio destino
Com as venturas, des-venturas da condição humana,
Com as venturas, aventuras do estar-no-mundo.

De tudo, de nada, o nada seivando
O tudo de miríades e espectros de dúvidas
Da morte ser o complemento ou acessório
Das contingências da dor, imanências do sofrimento;

De nada, de tudo, o tudo regando
De solstícios da estesia do vazio
De morrer a plenitude nos braços
Das meiguices insolentes do Hades
Enamorado da divina comédia do imortal;

Nada de tudo, os princípios se imiscuem
Com as bordas fronteiriças dos fins
Tudo de nada, os meios se prostituem
Com as soleiras do genesis
O caos seduz o cosmos a conceber o vácuo
O cosmos persuade o sem-fim a gerar
O apocalipse das angústias compulsivas
O sem-fim cafetão das ilusões do divino
A darem a luz aos escrutínios do sem-nada;

De nada o tudo, de tudo o nada...
Tudificar os versos do ser
À soleira do infinito que multiplica
As perspectivas pers dos vestígios
Multifacelam as prospectivas pros das pectivas;
Tudificar os verbos do ser,
Desejar, querer, ansiar, aspirar, sonhar
Às fronteiras das sorrelfas da verdade;

De nada, em tudo con-sagra os inter-stícios de tristezas
Em tudo, de nada en-grandece as alegrias de conquistas,
Em nada de tudo glorifica as carências e ausências
Se o peito vazio, os olhares nublados, a alma circunspecta,
A língua inerte na boca, a mente sem pensamentos e idéias
O tudo de nada reverbera ilusões e quimeras, a morte idílica.
O nada de tudo amplia e alarga as possibilidades do silêncio.

O nada é a dimensão mais funda que existe,
Mister olhá-lo no espelho eivado de percuciência,
Da solidão também voltaria a refletir
Que é sine qua non entender a violenta ausência
De um espelho para poder re-criá-lo,
Deixar nele o vestígio sensível da própria imagem,
Tão sensível é o espelho na sua qualidade
De reflexão levíssima,
Espelho em que contemplo, vislumbro, observo,
Em que veja o nada já sou eu, só espelho vazio
É que é espelho vivo, imagem do que é o tudo.

Nad-ificar as estrofes da estesia do belo
Às cavalitas das ovelhas pastoreando
O silvestre dos campos campesinos do sublime
Nadificar as métricas dos inauditos ritmos
Às évoras dos pássaros que trinam
A melodia do alvorecer,
Sentimento elo e trans-lúdico da felicidade;
Tudificar os sonhos do prazer, sonhos do gozo
Aos barcelos da vontade, desejo
Da plen-itude do eterno.

Nad-anular os sonetos do vácuo do inconcebível,
Os idílios do inteligível, as fantasias do cognoscível,
Os devaneios da intelecção,
As epopéias do racional, do certo e do errado,
Da certeza e do engano,
A origem do nada são o sonho e a utopia
Da liberdade e das glórias,
In-vestigar-lhe nos seus vestígios mais íntimos
Abre o in-finito e as infinitudes a todos os horizontes
Estéticos, multiplicam-se as visões-de-mundo.

Sou eu cinzas
Sem dogmas e preceitos sagrados
Sem princípios e verdades des-con-tingenciais,
Re-nascerei, re-nascerei, re-nascerei
Cinzas dentro de outras cinzas, dentro de outras cinzas.
Carne e ossos, corpo, eternamente mistério
Não fiz da autodestruição construção de vida, de obra?

Ipsis cinzas...

No tempo não se revelam segredos; segredos revelam-se com o tempo.

#RIODEJANEIRO#, 03 DE DEZEMBRO DE 2018)

Comentários