#REVERSO DO AVESSO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: GAIA ARTE ----



Epígrafes:

"Num rápido clarão, a mente extrai/capta imagens preconcebidas na sintetização harmônica e sensível a jorrarem sobre o leito do inaudito" (Graça Fontis)

"... na efervescência dos corpos nus e libertos vozes a abrigarem revoluções por novo ângulo, detrás dos rostos e razões abstratas em que tudo cabe ao tempo neste vazio que nos ouça o espaço em que habitamos."(Graça Fontis)

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Recíprocos reflexos redimensionando vertentes da visão das coisas íntimas - se os penso único instante, mesmo que fugaz, fronteira cobre sombra de contingências árduas, o que me silencia não me é dado devanear-lhe as conjugações de idéias adversas e regências de ideais controversos, lanço-me desvairado às lembranças, eram desejos singelos de expressar solenemente o que reside no regaço da alma, que mistério os envelam... Nada persuade haveria algo que justificasse esta atitude de lançar-me às lembranças. Perco-me nas dúvidas, equívocos. Revestidas de vestígios de pensares introvertidos, perspectivas de devaneios, sentindo-lhes presentes. Onde con-templar as carências e ausências? As tramóias de linguagem deixaram-me perdido, não posso mais lançar tudo numa via outra; o avesso do reverso, vice-versa, as comunhões e ligações, estão estabelecidas. "Atravessado", sigo na carruagem a via dos verbos dos sonhos. Este título de "atravessado" cabe-me com perfeição, merece de mim tiara na cabeça como reconhecimento de tamanha veras.
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Liames do sublime e sentimentos do silêncio, seivados e eivados de solidão e entrega, lâminas de luzes a alumiarem mistérios e in-auditos, rumo ao eterno... Do estético e filosófico, respondendo ao estilo moderno, quebrando a linguagem difundida no momento, a do nonsense, ridículo, ninguém se refestela na cadeira do Olimpo de graça, todas as coisas são efêmeras. A arte-plástica, Pintura, viveu o apogeu da futilidade, logo fora esquecida. As Artes são em demasia exigentes.
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Águas a-colhem de nossos prazeres a alegria de instantes, a paz de entregas e mortes, desejando a felicidade que afagamos no íntimo, neblinas e neves re-colhem de nossas vontades e questionamentos a visão do tempo e do ser, a sensação dos ventos e dos chuviscos matutinos. Resta olhar o acinzentado do dia de chuva, a certeza, quem sabe, de erguer uma taça ao som de silêncios e vozes que percorrem o espírito, um cálice à arquitetura de solidões e sentires que correm as quimeras do "Existir" e do "Ser", desejando o paladar da alegria e realização, sabor do prazer e glória, fumar cachimbo, até brincando de fazer bolha de fumaça, sem tragar as futilidades do quotidiano das relações exteriores com os homens(onde imperam todas as hipocrisias, falsidades, farsas, mentiras), coisas e objetos, aspirando aos sentimentos de além, além fronteiras, cancelas, obstáculos, a liberdade vernácula das utopias a ser artificiada, o retrato do destino na moldura suspensa na parede do tempo.
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Lembra-me de como,
no silêncio
de um monólogo
interior,
a afetividade de mim
aguçava os sentidos inteiros,
Erguia as mãos, re-colhê-los,
Dizer-lhes com perspicácia,
Esqueciam-me as experiências do tempo,
Esvaeciam-se os movimentos dos dedos.
Aquando? Quem poderia a isto responder?

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Re-cordam-me o estilo, linguagem
nos interstícios
de uma inspiração,
as dimensões sensíveis habitam-me,
criavam, artificiavam os sonhos plenos
da veras.
A erosão do tempo na solidão, no silêncio,
Livre, restava-me ver-lhes construído nas jornadas
Apenas o início... começo... preâmbulo... epígrafe.
Exíguo o tempo,
Contudo a estrada continua...

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Recorrem-me os sentimentos, sensações
no corpo, carne e ossos,
de re-conhecer a vida,
sob que circunstâncias
do quotidiano das coisas,
mister a luta,
num instante de risco de morte,
a labuta pela existência
Falácia?:
sendo luta digna, honrada
três são as chances,
patenteadas,
persistência,
liberdade,
coragem,
a que advir
será efetiva!

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O significado
é des-ordenado, in-vertido,
despido de caracterização,
des-nudo de significação
pouco aceite na expressão
da arte e de si mesmo.

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Busco com a
sinceridade radical e exigente...
ego imperativo...
(psiu!)
de um olhar a quem se ama,
olhar de soslaio, o que não tem a revelar, hein!
um espairecer de ideias,
à procura de sítios,
segredos, episódios, causos,
lendas, mentiras,
invenções,
não relatados em livros,
bíblias,
almanaques,
pasquins,
de que apenas as ondas marítimas
sabem as veras,
mostrar-me sob a serenidade
do vai-e-vem da rede,
micos brincando
no fio elétrico de alta
tensão.

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Uma gota de mais
e/ou
de menos
no corpo de minhas ausências
na alma de manque-d´êtres
forclusions.

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A vida, aos sons de imagens dispersas e sinuosas, mostra sua fragilidade, sua in-vestida em deixar não só re-cordações mas o orgulho de sua veras, seu projecto não só de memórias, mas o lançar-se a trans-literalizá-las, verbalizá-las. O difícil mesmo é aceitar e admitir a eternidade são esperança, amor, confiança. O amor trans-cende a tudo e, diante de seu poder, projecta sentimentos, desejos, utopias.

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Nos tabernáculos do tempo, letras do além-poiésis da alma, desejando a liberdade virgem e pura, poiética das facticidades, solipsismando os abismos e desertos. Como dissera-me a poetisa A.J.M., lá das terras lusitanas, num restaurante no Leblon: "Sem correntes, sem eventualidades, canalizo a/quimera na solidez que detona na minha alma." De um tom mais sombrio a um estilo mais delicado e fino, revelando as inquietudes, dúvidas, medos, angústias, depressões da alma, estilo mais sarcástico e satírico, mostrando a vaidade de encomiar descascando os pepinos, destilando os ácidos, enviando as bananas aos valores das tradições, conservadorismos.

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Nos seios nus, o fogo concentra a essência, trans-formando a luz em raios de sol – amor não são gestos ou atitudes, amor é melodia (não há música como dizer: “Desejo a vida dos homens e da humanidade; a liberdade do povo, da comunidade”, na voz clara, ardente, extensa, sendo expressão lídima e digna. Em longo mergulhar, descem os tesouros do oceano, que às margens do Cócito suspende o sol nascente. Derramando a consciência, sente o verbo de toda a humanidade.

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É belo que se glorifique até ao fim por derradeiro o triunfo do silêncio. Quem sabe assim, com esta glorificação, com esta continuidade, mais e mais este silêncio vá se tornando verdadeiro, essencial, até que me ouça silêncio e não somente vozes que o revelem, que afloram num susto a sua aparição, sinta-me sons da solidão, e não apenas a transcendência a música traz em seu bojo, em suas cordas de guitarra. Phylos-harmonica de ritmos e sons sublimes de júbilos do in-olvidável nos liames do tempo e verbos do visível invisível, nas sin-thesis e aes-thesis da uni-versalidade, katharsis e con-templação da sabedoria.

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Vínculos das melancolias, nostalgias e sandices, despautérios das falas e expressões, barafunda de confusões, perdições da alma, que para os seres especiais, importantes indivíduos são manifestações de despropósitos, mas não tendo qualquer noção eles de que as palavras da fala possuem dimensões outras que as corriqueiras, são aqueles famosos "de plantão", entregam-se às suas ciências, equívocos e intenções mesquinhas dos outros, abrem-se todas as porteiras das trafulhas e hipocrisias.

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Esqueceu-me referir aos olhos que entronizam as imagens que se vão formando e, aquando o coração, o corpo enviam aos dedos os seus sentimentos profundos, estes que ainda se revelam de modo lento, seguem as linhas captando as suas entrelinhas, seguem os traços dados na tela compondo as anunciações sensíveis da alma, o que profundo existe, através de lembranças, recordações, melancolias, de um lado, imagens, intuições, percepções, perquirições, utopias, contemplações, de outro, ansiedades, vontades extremistas, paradoxais, e o desejo é trazê-las à superfície, ver-me re-fletido em consonância e harmonia, assim me sinto no mundo, o estar-sendo que busco e tanto desejo.

#RIO DE JANEIRO(RJ), 21 DE JULHO DE 2020, 13:50 p.m.#

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