AS CRIATURAS DA NOITE SÃO APAIXONADAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO SATÍRICO $$$



As criaturas da noite são apaixonadas.
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Fazem anarquia, fazem comunismo, fazem liberdade, fazem libertinagem, fazem nonsenses e ridículos, fazem baladas e footings, fazem promessas de amor sob a cintilância das estrelas, bebem drinks à saúde das quimeras. Uma farra que descobre sentimentos, que en-vela dores e sofrimentos, que omite mágoas e ressentimentos, que eleva os fracassos e frustrações às antípodas da terra e do mundo. Que amam a madrugada, o latido dos cães, o zurro dos jegues puxando carroças. Que cantam com fervor, cânticos os mais di-versos na esperança de a aurora nascer, tabernáculo de novo dia, performando novos passos de dança, à luz do corpo, constituído de carne e ossos, de sensações e calafrios, de instintos e medos, suspiros e panes indescritíveis. Que somem sem deixar quaisquer vestígios, sem quaisquer mínimos traços inda que invisíveis. A inconteste alienação talvez não seja mais do que a própria sabedoria que, exausta de des-cobrir as vergonhas do mundo, tomou a inteligente resolução de ensandecer.
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À hora de nada, preâmbulos inusitados seduzindo os pensamentos e o mundo, configuram de reflexões circunspectas quimeras, fantasias, nenecas de falácias inda que longínquas do profano e sagrado, de longínquas colinas canções de singela finesse, dos doutos singulares, do espírito maligno e herege, da alma ambígua e profética... À hora de nada, simples assim, verborreias a preencherem os baldios recônditos da tristeza...
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Por que crer me não será legado o privilégio de arrematar as costuras, melodiar e ritmar os ventos que sopram os vestígios de folhas secas ao longo das calçadas, isto devido ao fato indiscutível de que não possuo dons tão singulares? Dir-se-ia haver algo mereça ser considerado a quaisquer antemãos para a glória, entender com sabedoria o que é isto guardar profundamente o que há de maior sigilo? À hora de nada, então, tecer com perspicácia as contas dos terços dos inter-ditos do som e silêncio, para explicitar, elucidar a alma ambígua e profética que se conjuga com os verbos defectivos das vozes? À hora do nada, o nada. Colocar os pés sobre a mesa, escrachar ao máximo nas costas da cadeira giratória, expelir a fumaça do cigarro, o desleixo solene com as coisas do mundo. O silêncio enclausurado rompe os limites da terra e retumba no in-finito ondas sonoras do coração em êxodo. Vou de nada às costas reverberando cochilos e ideais.
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Empalidece e cai a noite que num murmúrio, sussurro, cochicho, martiriza uma parte adormecida do UNI-VERSO, e como cantam as aves cantam os sinos, novamente batendo, acordando o abismo que arregala de olhos vendados. Se todos sonharam? Sonharam, sim, e neste sonho supuseram as mais lindas histórias da escravidão e desrespeito aos direitos humanos, e como numa fábula resplandece a paz que mais uma vez julga inter-mediária da conquista e do resplendor, da glória e êxtase.
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Ali, à face da montanha, vejo sumir-se, nos pingos dágua, expressando de outro modo, asco e náusea que me habitarão, enquanto for vivo, mesmo debaixo de sete palmos, mesmo por toda a eternidade até a consumação dos tempos, e serão sentidos por qualquer indivíduo, embora a sua sensibilidade seja apenas para sobreviver no mundo, a mentalidade bem menor que o salário do egregíssimo Prof. Raimundo, o milagre da obra humana, a magia das esperanças de algo ser construído à luz da verdade e do amor.
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Na minha voz tranquila, impérios ruíram, orgulhos e vaidades escusas desmoronaram, ostentações de moral e ética indevassáveis quedaram sem direito a único suspiro, até as letras, em princípio, uni-versais e eternas, conheceram o nada e o vazio do nascimento da razão, uma luta de morte pré-cede todas as mudanças, no sil-êncio da ordem uni-versal rigor da razão cobre o tempo novo, a fé nova que nasceu, as velhas que se transformam, mudam de fisionomia, mudam as faces. Esse cenário, se as câmaras cinematográficas filmassem em todo o esplendor e magia, transcenderiam a contingência de oitava maravilha do mundo, o mundo inteiro conheceria a divinidade do espírito e sensibilidade da imagem.
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Continuo escrevendo para um mundo distante, ofuscado, para mentes longínquas, de sermos nós, mas amplo de nossos pensamentos, mitos, ritos e história. E que minhas escritas caem num lugar vazio, num abismo sem fundo, onde este vácuo esteja imune da podridão, do odor fétido, muitas vezes ocupando a mente e a alma... Pensando, orando, ou a cantar, encontro em mim uma libertação, prazer que e-nuncia outros sentimentos e emoções, às vezes uma liberdade que esconde e liberta com sua única arma de defesa: “O LAZER”.
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Todo dia, faça chuva ou faça sol, há o jogo de luz e sombra, jejum repleto de gula, o réptil subreptício com sua gosma de íntimo. Quem não sabe dos buracos negros nas profundezas do poeta? Quem não conhece os vazios e nadas nas pré-fundas do escritor? Se os homens e a humanidade, mesmo que nos olhares de esguelha, não sentissem pena e comiseração de nós, o que seria de nossas vidas? Em verdade, humilhe-nos e ofende-nos, somos todos dignos de dó. No observatório do coração alucinado, perdido nas costelas das constelações, nas costas das estrelas e da lua, de sonhos e atônitas realidades, o escritor, o poeta são galileus no breu das inquisições, nas trevas da Idade Média.
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Todo cair da tarde a toada de medo, de insegurança, poema ou prosa, o morrer que começa feito cócegas nos dedos.
#RIO DE JANEIRO(RJ), 06 DE JULHO DE 2020, 10:37 a.m.#

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