MATULA DE INCRÉDULOS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Em
princípio, e já de antemão, não quero de modo algum qualquer referência a
senhores e senhoras ilustres, mesmo as não ilustres donzelas e pirralhos, devo,
desde agora, sublinhar, a menos que eu possa, aqui nesta egrégia e ignara
matula de incrédulos, estar desfrutando dos prazeres mais mesquinhos e idiotas,
e isto é sim um discurso de quem não sente a menor sintonia e harmonia com
estes digníssimos senhores a quem em verdade reconheço todas as honrarias e
merecimentos a cada uma de suas condutas e comportamentos com os outros homens
e indivíduos, com quem têm um delicioso e fino prazer de interromper os
afazeres e compromissos, um dedo de prosa nas esquinas e bares da sociedade,
clubes e instituições de toda a particularidade com um único princípio e projeto,
não fazerem coisa alguma e ainda mostrarem os vencimentos com todos os direitos
e reconhecimentos; sentia-me enobrecido por condutas tão vigorosas quanto
verdadeiras, se alguém metesse o focinho a investigar de todos os modos e meios
possíveis, iriam encontrar coisa alguma registrado, creio que nem o nome no
registro de nascimento, houve um incêndio no cartório, e muitas situações não
viram inda uma inóspita sabedoria do que de fato e de circunstância como
aconteceu isto, o Cartório de Registro haver simplesmente pegado fogo. Não sei
se já acontecera de alguém investigar, contudo, não sou homem de andar à solta
colhendo informações e sussurros da vida alheia, realmente não tenho coisa a
ver com esta situação.
De repente,
alguém sobremodo de conhecimento aproxima-se e de xofre coloca estar eu me
referindo a uma corja de pessoas que nada sabem ou conhecem de si mesmos, e o
que prego, ah, desculpem-me a seriedade, mas neste covil onde me refestelo com
um cigarro no canto direito da boca, acocorado ao parapeito da janela, as
portas interiores acham-se inteiramente abertas, mas não arrisco tentar o voo,
pois não sou louco nem pretendo um suicídio, mas contemplo o final de um dia de
outono, e isto para mim é com efeito sobremodo importante e, em verdade, tenho
de agradecer.
Sendo assim,
neste covil onde me encontro agora com o cotovelo enfincado na mesa de
trabalhos, pensando que tudo é menos impossível ainda de desfazer os nós e as
esperanças.
Não tenho
qualquer insatisfação com quem quer que seja, mas é de nossa convivência e
essência não andarmos em bando e sim solitários pelas ruas da cidade. Não há o
que queixar sobre a atitude e mesmo matulice de alguém, enfim os homens vivemos
as nossas individualidades e merecimentos no interior de uma casa ou residência,
já que uma é o antro do esquisito e do risível, e mesmo estes homens não
incomodam quem quer que seja, pois nada dizem sobre coisa alguma e ainda
palitam os dentes de tantas palavras que usaram nas últimas horas e não há como
interrompê-las, e sim dar-lhes asas e mais asas para enfim romper os últimos
sonhos e esperanças de um encontro com o não-risível, e isto ninguém, em
hipótese alguma, pode dizer que não, pois lhes apresento logo o que é modo
dizer em nossa cidade, se colocar uma lona por cima, é circo; se cercar é
hospício, e também ninguém há de negar que somos todos cercados por serras e
montanhas, um hospício de risadinhas e sorrisos de cumprimentos e felicidades
com tantos prazeres e realizações do amigo ao mais cúmplice em todos os sentidos
e paradigmas que observarem e decidirem contemplar.
Desculpem-me
todos desta corja de quem não se conhece em termos algum, esquecendo que os
pastores e rebanhos são levados ao longo do ridículo e do risível , e mesmo eu
quanta vez deitei-me ao sofá de minha sala e levantei as pernas, completamente
nu, e estremecia-me todo de tanto rir, até que as lágrimas começavam a descer e
eu sentia que o corpo necessitava de perjúrios e blasfêmias para o seu próprio
movimento. Devo respeitar e considerar os ensinamentos que me fizeram a
gentileza e docilidade de ofertar-me, como se oferta um excelente charuto,
importado sei lá de que lugar, e isto é início de uma confabulação e dedos de
prosa que farão a todos começarem a se coçar até que feridas intensas são abertas
em suas peles, e aí começa o espetáculo das lamúrias e das lamentações até
mesmo pelos sonhos mais lindos e maravilhosos que habitaram as suas mentes
desde toda a eternidade.
Seria até
ridículo apresentar-me como quem conhece bem e profundamente a alma de meus
irmãos e irmãs, reconhecendo também que há mistérios da alma humana que só Deus
pode saber e conhecer, nossa espiritualidade pode também aproximar-se, mas
nunca ser aquele deus que imaginávamos em doces dias da juventude, tomando um
lanche num saloon, próximo a um cine, olhava os transeuntes,. Sentindo-me que
estava bem inerte numa cadeira de bar, olhando os circunstantes e suas
circunstâncias, até que felizmente outras oportunidades surgirem,
enveredando-me por elas, conseguindo construir esta minha vida que consiste em
tratar de minha espiritualidade e consciência.
Em verdade,
é sobremodo interessante ir aprofundando mais e mais as nossas convivências com
as coisas, os objetos, os homens de toda a crença e de crença alguma que andam
pelas ruas e à noite recolhem-se em seus covis e vão viver de suas realidades a
troco de quê ninguém sabe e isto também não importa a quem quer que seja. Seria
sobremodo risível e infelizmente não está sendo, mas creio que ainda não
despertaram para uma fluência de consciência tão eloqüente que não paro um
segundo sequer e as palavras, situações, circunstâncias, lembranças e sonhos,
desejos e vontades, um homem por demais completo e cheio desta realidade que se
me apresenta a todo instante e que eu dignamente vou interiorizando e pensando
que devo ainda mais buscar esta vaidade e este escrutínio de minhas faculdades
mentais e emocionais. Isto ninguém ainda percebeu e pelo fato de que estou a
ler este escrito na rádio para um imenso público e eles às vezes consentem e perdoam,
e muitas vezes parece-lhes uma dúvida de se estou a dizer o íntimo de mim, ou
simplesmente aprendi e exercito este dom recebido gratuitamente das mãos de
Deus, este dom de saber mui bién lidar com as palavras, mesmo que algo seja
muito sério e delirante há sempre alguém que abre um sorriso enorme, fazendo-me
até lembrar da águia que grita nas alturas, o momento de ela estar abrindo a
boca, um universo de ensinamentos e desejos de os vôos serem cada vez mais
edificantes e uma lição de conhecimentos.
Seria
ridículo, e reconhecendo de antemão e em principio que não têm mais domínio do
riso e das lágrimas que afloram lenta e suavemente ao fluxo do riso, devo
interromper e apenas agradecer os nobres e egrégios participantes e convidados
especiais desta matula de incrédulos. Desejo-lhes com afeto a referência e
pontos de vista.
#RIODEJANEIRO#,
22 DE MAIO DE 2019#
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