AO VIÉS DE IN-VERSO ZERO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Digo-vos eu!
Diante do ab-surdo, in-inteligível, o que espero de todos os que me ouvem,
porventura me ouvem, acaso leem-me, o que desejo expressar, embora as palavras
que ante-cedem nada digam, apenas ritmo e arranjo de palavras, quem sabe modo e
estilo de despertar a sensibilidade e intuição para o que de profundo existe
nelas? Há mais profundidade no nada que professam do que no vazio do silêncio a
que aspiram tão fervorosamente. Nada deveria esperar, melhor dizendo, deveria
estar silencioso, presenciando as muitas palavras que se apresentam,
anunciam-se em mim, impossibilitado de poder registrá-las, apenas desfilam
frente aos meus olhos, à retina de tempos e outroras de outros episódios
anteriores a quaisquer outros...
Outroras de
outros episódios, viés de modéstias, limites, anteriores a quaisquer outros,
inventando detalhes e pormenores de motivos, entregando-me de corpo e alma à
dimensão imaginativa, criativa, nas ad-jacências do sono crescente que existe
entre honrarias e precipitações, entre glórias e expectativas.
Nada além de
sombras do aquém, não sei se ao fim haverá sol para estar sob viés de
sinceridade sem limites, paradoxos e “nonsense”, contradições e mentiras.
Todo mundo
age assim. É precisamente das modéstias, limites, impossibilidades que cada um
tira proveito e glória, e eu, certamente, ainda mais que outros e outrem atrás
de mim, olhando-me de esguelha, ao viés de suas considerações e
reconhecimentos. Não haja qualquer discussão.
Esquisito
isso de, de imediato a estar buscando justificar, explicar-me través atitudes e
ações, querendo até convencer de sinceridade sem limites, não estaria
dirigindo-vos a voz caso não estivesse consciente de algumas verdades minhas,
inda que mui poucas, segundos depois dizer quase ao contrário, ao contrário
mesmo, nada restando de dimensão racional, imaginativa, criativa, justificando
os erros e condutas, inventando detalhes e pormenores de motivos, explicando as
crapulices e safadezas da inteligência que sempre encontra meios e modos de
sair pela culatra.
Talvez
tenha, sim, aquele ar misterioso, peculiar das pessoas das quais se aproxima,
poder-se-ia dizer “se anuncia”?, não o sabendo eu, assim decidindo diante de
tantas dúvidas e hesitações, espontaneamente um certo poder mágico, ou ainda de
algo que os “samanas” tenham empenhado em adorar, o sono crescente que existe
entre honrarias e precipitações, entre glórias e expectativas.
Podeis rir,
se quiserdes, ou permanecerdes inertes e em estado de inépcia para não
denunciar o que trazeis no íntimo, o que as situações comprovam a partir de
investigações as mais rigorosas possíveis. Podeis rir a bandeiras soltas.
Aliás, o que se pode fazer ou agir? Não há alternativa por estar eu
completamente fora de mim, no início de um desequilíbrio sem pés e cabeça, a
insanidade se anuncia com toda a sua eficácia, volúpia, entregando-me de corpo
e alma por assim sentir haverá alguma mudança peculiar e singular que mude o
estado de espírito.
Sou quem
gargalha a respeito do que vou dizer, mas já me sinto em ab-soluto confortável
no mundo com as ambigüidades e dubiedades, paradoxos e “non-sense”,
contradições e mentiras. Aliás, estaria sendo sobremaneira ingrato com o mundo,
se não dissesse que é muito simples prosseguir vivendo deste modo.
Não há como
me sentir desambientado, inadaptado: se o que penso e sinto não significa
serdes vós, se o que vós pensais a meu respeito não significa ser eu, fico no
meu canto, vós ficais no vosso. Se não gostais de mim, se o que digo não possui
o menor cabimento, se o que penso é despautério, deixai-me a ver navios, sem
único olhar de esguelha. Confortabilíssimo!...
O que
ocorre?
Com certeza,
estais a indagar-me. Estais a dizer para vós mesmos, para os comparsas,
cúmplices, álibis, lacaios, nada estar eu a dizer, muito mais querendo chamar a
atenção, a puxar o saco de farinha para o meu lado, em suma, mostrar as
capacidades e dons que me foram doados gratuitamente.
O que ocorre
é que a inteligência é tão perspícua, e seu sentimento é tão discreto, o vazio
noturno revela-se como uma cortina estirada de um canto ao outro da parede, que
re-constituir e partilhar outro palco onde habita esse sorriso que é o do
paradoxo saboreado, da ironia amarga, do distanciamento, abre o ápice gelado
que leva do imaginário ao simbólico, do compreensível ao ininteligível.
Ápice gelado
que leva do imaginário ao simbólico... Que saudades tenho eu do antiquíssimo
fora de mim, do turbilhão lento das velhas baladas no imaginário sobre os olhos
da vida regrada, acompanhada de linhas que traçam essências da vida...
Através da
vidraça, a manhã, toda a serena, nítida e sorridente sabedoria de que sou
dotado, embalado pelo vento, destino cuja simples intensidade seria a
experiência do júbilo, deixando presença nítida de desejos e vontades de
in-verso zero estremecer nas entrelinhas - onde reside o poder de criação, onde
habita a magia da intuição -, mergulhando na mais Antiga Tradição da destreza e
perspicácia, buscando encontrar o torvelinho de inocências, re-colhendo de além
confins a vida inteira dos idílios abertos e dilatados, da ociosidade e
preguiça, perpassando a alma de prepotências e insolências, cuja experiência da
singela farsa seria de viés a escolha entre um espírito livre e uma saudação
amigável.
Difícil, às
vezes, ser capaz de expressar, sei lá se pensamentos, idéias, fantasias,
sonhos, teorias, que surgem, que perpassam a alma deixando uma presença nítida
de desejos e vontades, ser capaz de tornar inteligíveis e perceptíveis alguns
sentimentos e emoções que me fazem estremecer a coluna dorsal, de tão absurdos
e inconseqüentes são, que me fazem pensar estar a faltar-me não um parafuso,
mas uma ruela.
Então, nada
dizer é estar dizendo alguma coisa, embora não se relacione com o presente, não
haver condições de justificar com o futuro, um instante de suspensão tal que
nada há que possa afirmar e dizer coisas sem sentido que possam esclarecer nas
linhas o que vem nas entrelinhas, na razão o que habita o íntimo.
O grito
antigo indubitavelmente cai no abismo, e dele se terá qualquer lembrança nem se
adquirirá esquecimento algum, em verdade – brilha um momento e se esvai, para a
continuidade deste caminho que me conduz cada vez mais à busca de união de
todos os ideais e sonhos...
Dizer isto
significa que tudo em mim são farsas, a falsidade maior consiste em trocar as
letras de uma palavra qualquer com a intenção de um neologismo, mas atrás estar
inscrito, fácil de ser observado por qualquer olho que não tenha o dom do
lince. Dizer isso significa, ademais e a curto e/ou longo prazo, dependendo dos
interesses de interpretação e análise, que toda esta prepotência e insolência
da autenticidade nada mais significa que chamar a atenção para a destreza e
perspicácia da linguagem e do estilo, no interior outra coisa não habita senão
o in-verso zero, melhor dizer, zero à esquerda.
Terei de
recolher no presente os instante de sonhos e ideais, que estender os braços em
sintonia com as pernas, buscando encontrar o torvelinho de inocências. Terei de
recolher no futuro a vida inteira dos desejos abertos e dilatados, para chegar,
quem sabe, a morrer todas as mortes.
Pudesse eu,
como gostaria de nada construir, nada realizar, nada fazer, fosse por rebeldia,
despeito, revolta, ou mesmo unicamente por ociosidade e preguiça!... Bem que
gostaria de nada fazer por unicamente preguiça!..
.
Estaria
justificado e explicado diante de tanto non-sense que se acha escrito e
inscrito nesta página, até abrindo caminhos para o questionamento de se estou
ou não em minhas condições normais, lúcido, ou coisas assim, e, como não posso
dizer sobre, quem pode é somente um especialista, e todos os que com quem me
consultei disseram a mesma coisa: “alguma coisa está completamente distorcida;
você tem sérios problemas psíquicos e emocionais”, o que me fez sentir
confortável e alegre diante desta realidade, sem necessitar de enfatizar com
“vivida”, ou seja, “realidade vivida”...
#RIO DE
JANEIRO#, 23 DE MAIO DE 2019#
Comentários
Postar um comentário