DUPLA CONGRUÊNCIA DO ESPARSO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Encontro-me
a um passo de exceder os absurdos acumulados da carne, quiçá até dos ossos -
uma sensação mista de culpa e profusão - e nada é capaz de dominar os ímpetos
de entrega. Quero-me em nível da duplicidade carne/desejo, da ambigüidade
corpo/vontade, e nada mais obstacularizando os ímpetos de um clímax eterno e
efêmero.
Sensações
unívocas e equívocas de uma angústia, tomando as rédeas da claridade,
evidência, emergem lúcidas do fosso dos desejos constantes de prazer e astúcia.
Sou uma miríade de sentimentos a transbordar-me, exceder-me, ultrapassar-me, e
caminho consciente pelas veredas da vontade de interação. Devo crescer e
vicejar a partir de mim próprio, livre e sem medo, numa independência inocente.
Todo aquele que intenciona ser livre só deverá sê-lo por intermédio de si
mesmo, pois a liberdade não cai no colo de ninguém, como se fosse um presente
divino.
Desejo-me
cúmplice de uma consciência embasada nos desejos da carne - a razão cumpriu sua
elaboração na fantasia, o logos cumpriu sua organização na imaginação, o
intelecto cumpriu seus deveres na inspiração... O edifício imaginário reviu
suas bases, desmoronando desejos seculares de uma vida sem raízes. Qualquer
coisa distendeu-se nas sensações carnais, e agora sinto uma dispersão enorme de
sentimentos e emoções a tomarem-me por inteiro, e sou sentido em medos e
euforias, sou-me inspirado em devaneios e certezas.
Inclino-me
ao rés-do-chão, iniciando os passos por alamedas íngremes e viçosas das
percepções de um seio viril. Os pênis duplos do desejo e da razão, desfacelados
e insatisfeitos de realização, aglutinam-se e dispersam-se num diapasão
sensível, e o corpo afigurar-se a dissolver-se, deixando as sensações
abrirem-se. O erotismo próprio do que é vivo, do que vive, está espalhado na maresia
do mar, espalhado na veemência de minha voz.
Emoções
espelhadas numa congruência fácil e espontânea de carícias e ternuras
colocam-me livre e escravo de vontades nunca dantes nem mesmo imaginadas. O
medo excêntrico dos absurdos da carne, vividos na cabeça do tempo, faz
sobreviver um refúgio, faz viver uma fuga, e o homem mergulha na insatisfação.
Surgida da insaciabilidade, a impetuosidade de uma lembrança de sangue a jorrar
nas veias da razão, um confronto da esperança e a angústia do inominável.
Mergulho-me
fresco e volútil nas ondas do ímpeto de uma metamorfose viva, a engolfar-me,
retirando-me fundo das obscuridades dos sentimentos ambíguos. Sou impetuoso, de
modo a rasgar-me as vísceras dos sentimentos de ternura e carinho pelo viver o
mundo. Minha própria força liberta-me, libera-me, essa vida plena que se me
trans-borda.
Sou uma
dispersidade nos sentimentos de viver um ímpeto da carne e dos desejos, uma
univocidade nos interstícios dos sentimentos volúteis de uma vida de sangue
profusivo e disparatado da consciência. Até o instante presente, perambulando
pelas alamedas do sensível, buscando a elucidação e entendimento, estive a
envelar uma profusão enorme de tesão e desejo pelo clímax. Afigura-se-me este
sentimento, úmido em seu interior, suave em suas bordas, ser uma ambigüidade
amena e triste de um desejo não realizado e o viver girando assiduamente sem
qualquer ponto de segurança.
Se,
interiorizado e hermético nas associações à busca do entendimento dos enigmas
da carne, segredos do sangue, mistérios do corpo, sinto estar esgarçando e
ampliando as emoções, há um engano incorruptível e irreversível presente na
sombra de uma manifestação. Se, imerso em ondas de calor e volúpia, sou trazido
em nível deste desejo da carne e do corpo, as associações livres empreendem
sentimentos espontâneos e suaves.
Um vento
ameno e suave surge nas antípodas de minhalma, percorrendo os labirintos das
vísceras e veias. Se faz aparecer uma sensação de prazer e júbilo pelo
inusitado desejo?...
Se vivido de
modo lúcido na intimidade um amor dilacerante, logo sou envolvido por um êxtase
latente de dores e prazer, e sinto logo um amofinamento do corpo. Suave e
contínua é a linguagem desta alegria ora surgida nos interstícios de desejos
por desfrutar e estar desfrutando de mim. Há dúvidas de se me encontro em nível
de uma compreensão do minuto presente de sentimentos ou do entendimento carnal
de emoções. Não penso como os cristais não pensam. Tenho dois olhos que estão
abertos. Para o nada. Para o vazio. Para o nada vazio, para o vazio de nada.
Veredas
lúcidas de uma consciência a habitarem-me o íntimo - surjo-me à luz do sol e o
rosto inicia a ejacular um suor quente. A língua do tempo, a ofuscar-me a
visão, traz-me este obnubilamento dos desejos e sou inteiro recolhido no medo.
Tempestuosas carícias e ternuras vêm residir-me o peito em busca de encobrirem
uma angústia de entender o medo do amor, uma agonia de compreender a
resistência de amar.
A solidão
habita-me os recônditos do espírito e só encontro a sua superação no desejo de
liberdade de entregar-me inteiro. Fecho-me sensível às posturas da abstração de
ser indivíduo, conservando um profundo amor pela constituição das ternuras.
Abro-me consciente às colocações da contingência de ser sujeito/verbo, elaborando
os sentimentos ávidos de afetividade/carinho no seio de conteúdo humano.
Impetuosa
paixão pelo sentimento de viver os resultados contingentes do prazer vem
surgindo saltitante pelos interstícios de olhar, buscando as sensações alegres
do peito. Impulsivo amor pelas emoções de agir a alma feliz do desejo inicia-se
aproximando alegre nas veredas da consciência, procurando os desejos reais do
espírito. Profusivo carinho pelas ternuras de sentir o espírito alegre da árdua
tarefa de instituir os caminhos do amor e da liberdade começa aflorando-se
contente nos labirintos da capacidade, manifestando a calma real da linguagem.
Ávidas
carícias desta postura de ir pensando e organizando as ações em conformidade e
harmonia com a esperança. O corpo, ambíguo em suas sensações de desejo,
postula-me a percepção do olhar as situações antes da intuição de decidir as
ações. Tempestuosos sentimentos de doação dalma e intercâmbio de carícias
habitam-me fundo o seio, e sou quase uma alegria absoluta.
Invade-me
enorme volúpia e desejo de ir residir inocente e puro nas alamedas de um amor
efusivo e real. Surge-me angústia a perambular e deslizar no sangue vivo: serei
apto a realizar este amor? Quisera-me lúcido e louco a tergiversar pelos
labirintos nítidos e nulos de desejos. Sou felicidade translúcida a transbordar
a garganta da linguagem, Intencionando inda mais a completude do corpo e sentimentos.
Sou uma iminência de clímax no pênis real de prazeres, intencionando o gozo na
vagina de desejos evidentes. Sou um gozo no pênis simbólico da consciência,
reivindicando a formação do ser homem.
Quisera-me
uma alegria da linguagem de desejos, ejaculando a completude dos prazeres, e
tudo o que é elaborado são repetições de adjetivos e advérbios. Sinto a nitidez
de instituições, aspirando encontrar-me com a lucidez de viver. Pudera-me o
retorno lúcido às perdas, re-elaborando o sujeito, fazendo a completude clara
do verbo de viver a singularidade.
Efemeriza-se
a sombra tênue dos sentimentos efusivos da imensidão de viver, deixando-me
perplexo e contente com as forças resolutas da completude. Evola-se o
ensimesmamento frágil do sentimento de inferioridade frente às conquistas do
mundo, revelando-me um sujeito perspicaz e atento às intenções prioritárias.
Esvanece-se o clima denso de angústias instituídas no seio de um medo
contundente de a vida haver sido perdida nos instantes absolutos da ociosidade.
Esvaiu-se de
mim a similitude das formas de abstração, buscando o instante pleno do
espírito, o momento perene da alma. Habita-me a solidão implícita da esperança
de uma universal formação da consciência, tornando-me os caminhos um simples
modo de ir construindo os desejos de empreendimentos e lutas. A ternura
excêntrica de desejos sensíveis e frágeis reside-me o peito efusivo de uma
linguagem voltada para a realização de carências e a instituição da
intersubjetividade.
A meiguice
diferente de conteúdos inocentes e ingênuos da alegria de ser sujeito, estilos
simples e resistentes do contentamento de revelar o "sou" de mim, vem
morar no íntimo, indicando-me as veredas da forma de constituição de viver.
Institui-se o som nítido dos ventos suaves e frescos da felicidade de o homem
inscrever a si no epitáfio dos desejos realizados.
A frescura
da manhã solene de meu corpo tranquilo nas arestas de suas sensações de gozo,
mas uma inquietude solene no seio da carne. As ondas tênues de carinho e
solitude por todos os estilos de amar e inteirar-me das formas de mergulhar-me
no sangue efusivo da contingência humana.
Simples
ardências carnais nos desejos viris mergulham as satisfações plenas num mar de
fluídas emoções de amar.
Primeiros
ardores da paz submergem-me num oceano frio e úmido de emanações paradoxas da
felicidade. Os amores da fisionomia a resplandecerem suaves os contornos de
características sempre susceptíveis de uma excêntrica metamorfose em busca do
real.
Substituo as
dúvidas latentes da emancipação, trilha emotiva das carícias de vontades
eternas, pelos efusivos processos emancipados da latência do amor. Recupero as
evidências do espírito em transbordar-me frágil e consciente no finito das
emoções sentidas. Mostro a nitidez do olhar, perspicácia indubitável da
formação sensível do real, identificando a profusão de eternas ternuras.
Fósseis
susceptibilidades conceituais do corpo a ejacularem sentidos e significados
dalma - sou uma postulação das sensações. Veias de amores sentidos no real das
reformas, abrindo o sangue quente e imanente dos "sonhos de Verbo
Inteirar". Contingências testamentárias dos sentimentos insólitos surgem
efêmeras da consciência, e sou manifestação ardorosa de insolências fundas.
Tristes horizontes resplandecem imortais nas linhas sensíveis das posturas
conscientes da elaboração emocional. Arregalam-me os olhos o universo nítido do
substantivo amor nas tábuas translúcidas da percepção e intuição. Flácidos
olhares perscrutam os insolentes infernos da angústia, perpassando os liames
loucos das inquietudes, adelgaçando as vertentes insanas das perquirições, em
perene busca do íntimo ingênuo da felicidade. Infernais concepções do belo e
nítido estilo da esperança indagam-me as definições percucientes das
postulações de consciência e ação nos interstícios de viver o "Amar".
Nítido
inferno resvala-me o íntimo, perpassando os recônditos sítios da
intranquilidade, trazendo-me a consciência de uma eterna necessidade de
compreensão e diálogo das emoções vividas em confronto com as reveladas na
fisionomia e olhar. Insolências frágeis e flácidas de uma indagação abstrata e
real do sentido humano nas revelações de júbilo e prazer de enfrentar o mundo.
Profundezas de mim, emergidas nas revelações fisionômicas e oculares, dizem-me
a paradoxalidade perquiridora dos sentimentos.
Superfícies
imersas nas elaborações do espírito, imergindo nos subterrâneos da ternura e
insolência, dialogam lúcidas com as inscrições conscientes de um viver eterno.
Sonos fáceis nas bordas do nada refestelam-se confortáveis, mergulhando nos
interstícios absolutos da vigília.
Loucuras
indolentes escondem as lágrimas puras, os sorrisos inocentes, e instituem a
seriedade no rosto do tempo inócuo e iníquo.
#riodejaneiro#,
27 de maio de 2019#
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