#ÚLTIMAS LETRAS DO VERNÁCULO DE ERUDIÇÃO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Estou só,
nauseabundamente enchecido de mim. Existir é simplesmente estar
pres-"ente"? Pres-"ente" a quê? Os entes permitem que os
encontre, mas não se pode deduzi-los. Sozinho na madrugada, apenas a lâmpada do
quarto acesa, não oscilo entre o espelho das palavras, a memória em dissipação
das metáforas verbais, nominais. Não intenciono negar horas nem palavras só
letradas antes com voz peremptória, pensamentos maduramente elaborados,
trabalhados a critério e rigor, atos que deixaram atrás de si o nada azul fosforescente
suspirando de delíquios divinos e hereges, o cinerício vazio resfolegando de
desvarios pagãos, lendários, gestos esbranquecidos preenchendo os lapsos de
ideais que acaso transmitem arrepios de violino ou vento.
Tirando as
vestes, nu diante do tempo e dos universos. Andar aos mil num corpo só, em
becos e alamedas destituídos de quaisquer graças, como se outros seres, não
mais os que me habitam, con-duzissem as vias a serem trilhadas, comandassem-me
os passos.
É no
silêncio que ec-sisto, aprenderei outra linguagem? Verdes silêncios absorvem
entre palavras inertes glórias feitas de mistérios. É na solidão que prolongo
os dias, aprenderei outro estilo? Lilases solidões deixam-se enlaçar, tontas às
carícias dos ventos pretéritos, intenso fragor níveo denuncia o instante entre
tudo e nada. Rosáceos cantos radiosos não deixados reticentes, mesmo suspensos
nos áditos de templos profanados.
Não há
palavras ainda para inv-"ent"-ar o mundo novo. Não há inda verbos
para abranger os interstícios do novo homem. Não há sentidos ainda para
re-velar o outro dos sonhos, utopias, dos tempos que hão-de ser. Inda não há
metafísicas que precipitem no rio espesso os peixes cegos do tempo. Inda não há
cognoscíveis segredos inconscientes que perdurem um elemento mágico.
Silêncio de
morte perpassando instantes de vida. A morte do silêncio não cabe nos raios
violetas da solidão. A claridade do ser só não é prosa da ausência, forclusion.
Não é poesia do ato falho, do manque-d´être. Não é prenúncio do infortúnio. O deserto
do tempo na poesia do verbo concebe a regência do sublime. O rumor do mar nas
ruas junto à linha de espuma soletra o mundo de ênfases do poema que se esvaiu
na alma. Solidão do silêncio pres-en-tifica movimentos de ideais.
Protelem-se
as melancolias!
Posterguem-se
as nostalgias!
Suprassumem-se
as saudades!
Crepitem as
achas de lenhas na lareira das etern-itudes! Incinerem-se as páginas vazias de
razões e sentimentos do ad-vir!
Des-amarrem
os corações do romantismo do amor não cor-res-pondido, e mesmo do romantismo do
amor plenamente cor-respondido!
Rasguem a
pronúncia dos medos no abismo dos sentimentos coléricos!
Des-aguilhoem
as abundâncias das accepções de saberes e agires voláteis que insinuem olhares
desviados dos puros orvalhos da alma!
Des-algemem
o espírito do subjetivismo da liberdade de vislumbrar o horizonte de costas
para o universo da estesia, do esplendor da magia da pureza!
Prosa de
solidão silenciando a música da luz, sonorizando os rituais místicos e míticos,
erudição que epigrafa de letras góticas o símbolo, signos supremos do perene,
linguística de sons que epitetam o expressionismo e o simbolismo, que não foram
apetecíveis, antes despiciendo a dor do caos, da coisa indistinta e universa,
acordando de notas altissonantes o último vernáculo de lácias sin-estesias,
alegorias que cintilam inter-ditas de volos, querências, desejâncias da
esperança primeva do apocalipse incongruente de raios cintilantes de sombras em
meio a tantas carências, brumas, trevas.
Poema de
pura música da luz não se escreve no crepúsculo povoado de memórias do
pré-visto, lembranças do além, recordações do perpétuo que des-velam in totum
mistérios, enigmas, segredos do verbo sob a luz da carne que se arde de
volúpias, êxtases, prazeres, gozos, clímax. Prosa de singela luz da música não
se epitafia na madrugada de solidão, do silêncio, presentes todas as carências
e mortes do instante-limite. Símbolo de sin-estesias sin-crônicas com o
realismo das desesperanças da liberdade, da alma no crepúsculo das ilusões,
sorrelfas da plen-itude in-fin-itiva da felicidade suprema.
O nada
morre, morre nas defectivas sinuosidades do abismo pleno de ressonância da
vacuidade. As nonadas desfacelam-se, turvas e minuciosas, prelibando o momento
bom da vontade que, já de si volúvel, se encerra em dom futuro, subjacente às
labaredas de ouro das fogueiras dos símbolos fálicos da fertilidade das
inspirações. Erudição sensitiva ao conhecimento lógico para aniquilar o
raciocínio presente, erigindo-o a um raciocínio não só da mente, mas do Ser por
completo.
Derradeira
palavra do classicismo de perfeições estéticas. Signo de metafísicas
sin-tônicas com o futurismo de cores ultra dilacerantes ad-jacentes ao in-verno
que re-versa a carência do amor, à primavera que se cerra semelhante às flores
reticentes.
Ontem de
quem me fui carente de silêncio, solidão. Ontem de quem me pres-ent-ificavam
poemas, prosas, vislumbrando o nonsense de tudo que é perfeito, essência.
Últimas
letras do vernáculo de erudição.
(**RIO DE
JANEIRO**, 14 DE MAIO DE 2019)🐝
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