ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ANALISA E INTERPRETA A PROSA #RESTIA DE LUZ#, ENVIADA COMO "MIMO" À NOSSA NETINHA ANINHA RICARDO
No texto do
escritor Manoel Ferreira Neto RÉSTIA DE LUZ, como uma prenda para a netinha Ana
Ricardo, que um dia ainda quero mostrar-lhe, peguei em uma frase dele” A
criança sintetiza a indispensabilidade humana”, para fazer uma análise a este
respeito. Mais concretamente na cidadania de que tanto se fala e pouco se faz e
onde as crianças seriam um grande pilar para a formação da tal “cidadania” que
se aparenta-me cada vez mais longe e ineficaz…vejo tão pouca cidadania que
tanto apregoam. E a principal lacuna consta-se no ensino e na família.
A ponderação
da mediatização das sociedades em geral e do grupo da meninice em específico,
nas finais décadas, constituem novos reptos à difusão da cidadania,
especialmente a inserção das crianças. Isto incumbe- se em parte aos
arquétipos, às imagens e ao conhecimento da infância que ainda vivificam no
espaço-tempo da globalização. Protege-se, a melhoria de um novo protótipo que
pondere a comunicação das crianças e uma geração de cidadania estimulada e
apreciação que gera as crianças e adolescentes como agentes sociáveis
indispensáveis e participativos na sociedade, incluindo não somente a
autenticação formal de direitos mas igualmente as situações da sua prática
através de uma e verídica absoluta participação, em todas as competências da
existência social.
Em síntese,
residimos a fortalecer a reflexão de que habitámos num tempo em que é
necessário reclamar, altercar e persistir num juízo de cidadania
multidimensional e multicultural, que envolva os direitos sociáveis,
estadistas, civis e outros grupos sociais.
As novas
espécies de cidadania não podem solucionar-se com um procedimento lícito
exclusivamente regular, nem mediante um procedimento deducional a partir de um
juízo pré-existente da cidadania e do cidadão.
No que se
compara à meninice, podemos asseverar que para um esboço de cidadania que
aprecie as crianças citadinas será imprescindível, entre outras
características:
Que não
sejam vistas como “um enigma” ou “residindo em enigmas”, ou seja, isentar uma
focagem afirmativa na feição de encarar as crianças e entender a meninice;
Centralizar-se
nas actividades existentes das crianças de molde a acautelar a língua do
“porvir”, ou seja, fomentar a ideia da autenticidade das suas prestações,
afirmativas e/ou impeditivas, nas suas correspondências diárias, na atualidade;
Prezar os
direitos da criança, porque unicamente através de uma cultura de apreço pelas
crianças enquanto sujeitas de direitos se poderá incrementar posturas e rotinas
adequadas com a reflexão e o ascendimento de uma cidadania da meninice;
Escutar as
crianças de maneira adequada, o que abarca transformações expressivas em muitas
rotinas, organizações sociais e institucionais.
O movimento
da cidadania deve poder igualmente exprimir-se no poder criador das orlas nesta
circunstância das crianças. Segundo Roche, encontrar-se incluído numa rotina
com crianças e jovens na qual lhes é dada esclarecimento apropriado, na qual
podem expor os seus entendimentos e sensibilidades acerca do tema em assunto
num tempo e espaço ajustado, na qual as diversas faculdades de atuação são
inteiramente sondadas por eles e na qual as suas ópticas, além da sua
proveniência social ou situação, são escutadas e reguladas deveras, serão
empregadas na alteração da prática de crianças e de profissionais.
E quem
sustenta as conclusões de não escutar as crianças? São e serão sempre as
crianças a sustentar tais valores. Aditaría que, para além dos valores para o
grupo da infância, anos sem prática de comunicação serão pouco para trabalhar
com as imputações de cidadania popular.
O facto de
ainda não ser translúcida a necessidade de encarar as crianças como homens por
direito inerente visa a ser aclarado, com alicerce em características
inerentemente ligadas ao agente tempo, como a precocidade e vulnerabilidade, ou
seja, um conjunto de características biopsicológicas que não concedem à criança
o conjunto de proficiências que os adultos apreciam essenciais para a prática
da cidadania que tanto se fala hoje, e pouco se vê.
Ser cidadão
consiste em representar e encontrar-se assistente, reclamar participação nos
procedimentos sociais e estadistas da sociedade. Homem é aquele que atribuir-se
esse costume em todas as competências da vida social, ou seja, no subúrbio onde
reside, na empresa ou instituição onde labuta e no ensino. A obtenção de
procedimentos cívicos é uma tese que não é nem inerente nem de catequização,
mas algo que se arquiteta no costume dos direitos e das incumbências de
cidadania: descobre-se a democracia exercendo-a. Não pode permanecer cidadania
participativa sem socialização popular. O discipulado da cidadania, mais do que
uma interiorização de nascimentos ideólogos, presume a organização de um saber
em que interferem as correspondências familiares, os ajuntamentos de pares, o
campo de acção manifesto do ensino, os meios de intercurso, as indagações
instrutivas, entre outras. Cogitar numa panorama de cidadania para a infância
incluirá sempre um empenho para fomentar a inclusão infantil, encarando as
crianças como agentes partilhados nas afinidades sociais, basicamente incluídas
no procedimento de correspondência social. Instruir no membro de um Estado de
democratismo e não para a cidadania e democracia, ponderando que as crianças
possuem uma função estimulada no procedimento, implica a ascensão de espaços e
possibilidades que fomentem idoneidades e concebimentos elas adequadas
democráticas e cidadãs, contraindo direitos e deveres vistos como uma herança
cultural e a interiorização e adequação por lugar dos agentes tratáveis dessas
experiências. Isto fomenta inclusão activa nos métodos patentes, ter ingresso
aos conhecimentos e saberes indispensáveis à participação citadina, possuir
desenvolvimento, alcançar saberes e saberes sobre direitos, envolvimento,
cidadania e democracia. Só assim poderemos presentear um episódio avante no
desenvolvimento de homens dinâmicos e envolvidos. A necessidade de uma ideia de
cidadania activa, em transmutação e com um enérgico elemento daquilo que
reflete e censura. Desta maneira, dominar – se--á contender protótipos,
alegações, compreensões e posições adultocêntricas que não enaltecem o que as
crianças verbalizam e compõem.
Contender
uma concepção de cidadania advogada – o paradigma preponderante onde somente se
autentica sujeitos com proveitos, com uma pujante presença do mercado e uma
assistência minúscula do estado – e impulsionar uma cidadania livre e
independente, ou seja, a cidadania pensada como libertação dos sujeitos
socialmente traçados, onde criaturas e ajuntamentos não são vistos favorecidos,
usuários incessantes de planos e programas de ingerência assistencialista:
relaciona-se com uma consulta socialmente admitida para as crianças, em que
elas originam parte da conversação e desenvolve-se pelo processo de se tornar
móvel ou fixa no processo social, por um processo de aprendizado social.
Ana Júlia
Machado
Aquando
escrevi esta prosa, Aninha Júlia, pensava em meus dois filhos SACHA LUCIEN
MOSER FERREIRA E KAYROS CHRISTIAN MOSER FERREIRA. Exatamente como pensava o
futuro deles, mas a Vida entregara-me em mãos outro futuro, que tão bem você
analisou e interpretou, um primor de interpretação.
Agora que
ganhamos uma netinha, Ana Ricardo, pensei em enviar-lhe como um Mimo, e sei que
a vovó real e legítima, você, juntamente com sua filha irão saber educar a
nossa netinha nesta dimensão da cidadania, abrindo portas e janelas para a
HUMANIDADE DO SER.
Beijos
nossos a você e à nossa netinha ANINHA RICARDO.
Manoel
Ferreira Neto
RÉSTIA DE
LUZ
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira Neto: PROSA
A água é o
grande poder da subtração. Por onde passa, limpa, lava.
Imaginei,
então, ritual para a celebração, não da duvidosa passagem de ano, mas para o
alegre acriançamento do corpo: o mergulho nas águas. As águas têm o poder de
subtrair do corpo e da alma, da psique, as coisas pesadas a passagem do tempo
foi neles sedimentando. As águas nos reconduzem ao esquecimento. Lavam o corpo
envelhecido e ele volta a ser criança.
Torno-me
linguagem aberta em que se me pode ler o interior. O mais recôndito enche-se,
enfim, de paz, que a solidão exaspera, o tempo afadiga. Sou palavras nítidas e
nulas que se re-velam e escondem, vontades e desejos elencam sonhos. Sinto isso
absurdamente. É desejar ser autêntico, atingir nível de originalidade e
singularidade. Sirvo-me da espera do belo futuro, e o caminho que a este conduz
jamais se me afigura interminável, e por ele me desloco a passos largos.
Aproveito-me do campo que se me coloca à vista, imaginando o verde da grama,
branco dos lírios e orquídeas, vinho das rosas.
Criança é
mistério humano vestido de ternura. É o grandioso escondido no pequeno. O
consistente abrigado na fragilidade. O longo amanhã encolhido no hoje. O
original ainda não visto, dito, encontrado. A verdade ainda não verbalizada. O
humano com mais interrogações do que respostas. O núcleo de vida que vale mais
do que todo o universo físico.
A criança
condensa a essencialidade humana. Não é apenas promessa de homem. O que lhe
falta é desenvolver-se, amadurecer. Toda a densidade do homem está pulsando na
criança. E, ontologicamente, ser pessoa. Não bastam visão psicológica e
percepção moral para compreender a criança. É precisa vê-la como "clareira
do ser". Há que reconhecê-la como pólo do mundo, centro da história. Não
pode ser reduzida a elemento cósmico, a filamento social, a objeto lúdico. É
"Parousia" antropológica. É a manifestação do ser que está chegando,
no ser que já chegou.
Se soubesse
o significado e sentido do amor!... Nem seriam somente lembranças e
recordações, horas felizes e alegres, fontes de água límpida, momentos de
inteira realização. Seria a luz que brilha, trazendo na retina o horizonte de
além, na íris a metáfora da fonte originária.
O orvalho
cai sobre a erva no momento de maior silêncio da noite. Tudo é silencioso. Até
onde se elevam os meus píncaros?! Até onde descendem os meus abismos?! Há
volúpia no deserto. Afigura-se-me haver gosto suave no calar-me. Encho a boca
de gosto de mel, de deliciosa amargura. A solidão, nesta janela do paraíso, é
bálsamo para o coração fremente, que transborda ao frio exuberante do inverno.
A não ser
que retorne para amar o amor que ficou... Esta imensa extensão, este infinito,
onde não há lugar para ninguém, bastam para me estrangular o desejo, saciar a
sede. Amar é desejar, é a liberdade em questão. O que sinto e digo de ser
desejado não é o ser, mas o ser bom. A mão para rebuçar nos bolsos o jogo de
sonhos que sentimos com o timbre inequívoco.
Ombros frágeis
são os meus para adormecer no tempo a graça da Criação de Deus. A réstia de luz
que perpassa o tempo, espaço, envolve mistério de doação escondido na Beleza,
desejo do Sublime, busca do Sagrado, volúpia, quebra da solidão, a-núncio da
esperança, afastamento do medo, presença e re-velação do silêncio.
Um mergulho
nas águas: água do mar, chuva, cachoeira, rio, lagoa, piscina, banheira,
esguicho, qualquer água - ou, se por qualquer razão esses mergulhos não forem
possíveis, o mergulho na água da imaginação.
É mergulhar
no ser, captar a nossa sintonia com a totalidade, é sentir que somos chamados
ao ser pleno, e não ao pedaço do ser, à fatia da consciência.
#RIODEJANEIRO#,
20 DE MAIO DE 2019#
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