#LATE-SE COMO SE MORRE, TUDO É OFICIO DE CÃES# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA SATÍRICA
Lembraram-me
as gargalhadas por dois ou três dias, quase que contínuas, não necessito de
exagero nem de situação vivida, nem de recurso de estilo, nem de tripúdio,
aquando lera em Memorial de Aires, Machado de Assis: “Meu amigo, não lhe
importe saber o motivo que me inspira este discurso; late-se como se morre,
tudo é ofício de cães, e o cão do casal Aguiar latia também outrora; agora
esquece, que é ofício de defunto”. E muitas vezes, diante de alguns
acontecimentos, situações, circunstâncias, digo o mesmo “late-se como se morre,
tudo é ofício de cães”.
Eis o corvo,
o nunca mais, chegado tardio a um mundo velho. Creio que tentarei reunir as
duas imagens, a de “late-se como se morde, tudo é ofício de cães", "a
perfídia da serpente e da desobediência do homem, tudo são seduções,
bolinações...", dizendo que agora estou completamente só diante dos sonhos
e desejos, o de que mais careço é de uma canção lírica, a canção que o silêncio
entoa para mim, revelado em meu íntimo. Enfim, a desobediência da serpente é picar
o fruto de seu prazer, a perfídia dos cães é engolir os ócios do ofício. O
segredo do sarcasmo, da ironia, do cinismo com esta verborréia e falácia em
uníssono não está nos papéis no cofre, nem nas conversas de esquinas e bares,
está no grito da busca de res-posta, entendimento de seu sentido mais
inter-dito.
#riodejaneiro#,
29 de maio de 2019#
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