EM AMPLOS ESCRUTÍNIOS DE ESTRELAS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA
Os Gregos,
mais do que os Romanos, não se limitaram a procurar, como Vésper, o presente
nos oráculos de Pítias e das Sibilas; puseram-se a cogitar de mil maneiras.
Atribuía-se à alma de Vésper, não sempre sem razão, o dom da previdência
desnatural, mas exagerava-se essa qualidade adivinhadora, dando-se-lhe o
caráter de guarda interior do corpo, desprendendo-se às vezes de seus laços, e
vindo, ora no êxtase, ora nos sonhos, desvendar ao homem e à mulher os
des-segredos do presente.
Quem não
amaria de paixão desvendar os segredos, decifrar os enigmas que envolvem as
criaturas no mundo, desalgemando das mãos as correntes de despeitos, invejas,
ciúmes? Creio não haja quem. Seguir a jornada tranqüilo, despreocupado,
finalizando, sereno, faz um bem enorme, inestimável.
Se é algo
que gostaria de desvendar e decifrar é a inveja, compreende-la, a fim de ser
compassivo com os homens. Lugar-comum ou não, a inveja nasceu da incapacidade
de alguns e o talento e dom dos outros. Pergunto: se o outro é incapaz, por que
invejar o outro? Seria benigna a inveja, se o incapaz pudesse superar os seus
limites, o talento dos outros. São incapazes, não podem. Quem sabe é por não
saber as estratégias são outras que não o desejo, que vem acompanhando a
inveja, de o outro não conseguir realizar os seus sonhos, ideais.
Seja o
segredo outro: desconhecer o vencedor, entregar-se a conhecer poucochinho de
si, desenvolver o que conseguiu esclarecer. Resta-lhe a esperança
imprescindível de superar o seu oponente, quem é o responsável imediato por seu
desconhecimento da existência dele, coisa que magoou muito o seu coração
desprotegido. Possível a superação.
Há quem
jamais possa ser imitado ou plagiado, todas as tentativas resultarão em nada.
Mas, se houve o desconhecimento, por que se preocupar. Importa-lhe realizar os
seus ideais. Assim, até mesmo o desconhecimento, uma dimensão negativa, por ser
de lei a compaixão, estará vencido.
Reconheço
não haver nem criatividade nestes pensamentos, tão imbecis e descabidos são.
Sou eu o invejado, desejam os outros intimamente ser inteligentes, criativos.
Preocupar-me-ia, se fosse eu a inveja. Aí, sim. Pai, afaste de mim este cálice.
Terei alguma culpa se recebi de Deus talentos e dons, pus-me a desenvolve-los,
estou indo? Seria eu responsável pela incapacidade dos outros. Não compreendem
que esta incapacidade só existe, tendo eu ou o outro como referência. E eles?
Não nasceram desprovidos de qualquer validade.
Cruzo as
mãos atrás da cabeça, os braços abertos, recostado à cadeira de balanço, enquanto
fumo um cigarro, pensando bem o que acabo de dizer, qual fora esta inspiração
de com outras palavras, outros arranjos os mais esquisitos e estranhos à
compreensão de homens quem, ao olharem para o horizonte sem limites, imaginam
logo a proximidade dos mesmos e ousam estender os braços.
Incrível
isto de estender os braços, esperando os amplexos da vida e do destino,
desejando o encontro com o que há de mais sagrado. Incrível por não serem
realizados e acontecem sempre. Quem sabe seja o fundamento de a esperança ser a
única que jamais morre, e na morte é que tais amplexos são dados com todo
ardor. De que adianta? A necessidade deles era para a vida.
Confesso não
imaginar o que possa estar sendo revelado com ênfase, ousadia. O que possa
transcender as parcas tendências de entendimento das coisas, não as posso
encher com as mãos feitas concha. Não sou homem nu e débil, para finalizar,
imbecil, quem, diversamente de Lúcifer, não consentira o incesto.
Não há
razões que me consigam persuadir, convencer, de que a barbárie não viva e,
viva, constrói outras imagens, realidades. Não existe o lado de lá e o de cá, o
ser e o não ser. O que existe é o homem, e já é o suficiente. Carregar esta
cruz até ao Monte das Oliveiras, ou quaisquer outros, imbuído do mesmo
espírito, alma, é ofício de muito poucos, creio até que possam ser definidos
apenas com os dedos de única mão. Três, quatro, por exemplo. Ousaria até dizer
cinco, tomando em conta notícias e considerações novas que obtive de fonte
fidelíssima.
Negar, seria
o pior, que não digo palavra única que seja coerente com o resto delas. Não
está havendo concatenação das idéias. Negar que me tornei um insano, isto já
não consigo mais. Colocaria em dúvida, se negasse, a minha própria insanidade.
Alguém,
acaso, colocaria em dúvida estar eu sentado a uma cadeira de balanço no
alpendre de minha residência, olhando a ampla visão das serras, um cenário e
paisagem sem igual na natureza. Duvidar disso é pura insanidade, mas, se o
quiser, posso afiançar que as glórias serão incontáveis.
Não sei se
assim me é permitido expressar, mas o que me parece - claro, refiro-me a estes
poucos que conseguem carregar a cruz até ao Monte acima referido: o que existe
é somente o que pode existir, somente o homem. Tomando em consideração estas
palavras, posso dizer que o animal não existe, ele vive. Isto não está muito
claro – quem sabe por esta idéia descabida e esquisita possa mergulhar profundo
no exame de sentimentos que poeticamente me habitam, só consigo neste
emaranhado anunciar em palavras de não.
Emaranhado!
Sim. Qual a dúvida? Iniciei este pensamento me referindo a Vésper, a
previdência desnatural. O que me fora surgindo à mente, não tive pejo, incluí
nesta reflexão, sem me preocupar com os inúmeros ângulos de visão, pontos de
vista, sobre muitos assuntos, se se quiser tema ou temática, isto dependendo da
insigne inteligência a ser desenvolvida para se chegar à sabedoria,
estabelecendo-a num oráculo. Emaranhado, sem dúvida.
Isto é o que
me é descabível de entendimento, tão descabível que repito a palavra para
enfatizar e também me ser enviado à mente outras que vão preenchendo o espaço
vazio da folha de papel. Nada se me revela, preferindo, então, seguir este
caminho por me parecer mais acessível de desequilíbrio e insanidade, se é isto
que penso, sinto nas entranhas absurdas de artífice da glória, alguns homens
fazem valer nas ruas ou tabernas a glória, antes que haja mundo, para mim.
Se isto
terminar nalgum deserto, a sede se manifestará de imediato, e só resta, então,
começar a criar ou recriar fontes de águas cristalinas. Não é necessário ser
inteligente, possuir inteligência quem sabe invejada, não o sei bem, para saber
que só um milagre poderá salvar. Quem sabe o imbecil possa responder a esta
idéia que de chofre busquei a sua expressão, verdade é que seria a água
cristalina a saciar a sede, e esta é não ser verdade.
Quem sabe o
insano possa responder: será que o não-inteligente, com a sua inveja do
inteligente, possa se tornar inteligente? A ênfase aqui conclui a idéia: quem
sabe só o não inteligente possa desvendar este mistério, decifrar este enigma.
Aconselharia que o não inteligente, e por isto mesmo, se preocupasse em viver
este mistério, enigma.
#RIODEJANEIRO#,
18 DE MAIO DE 2019#
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