ANA JÚLIA MACHADO POETISA ESCRITORA E CRÍTICA LITERÁRIA ENSAIA A FENOMENOLOGIA DA PROSA '#NADICA DE NADA#
O escritor
Manoel Ferreira Neto com o texto-
*NADICA DE
NADA** fez-me regressar há 33 anos atrás. O nadica é muito utilizado em
Trás-os-Montes, em que se verbaliza em Mirandês, e que querem que regresse aos
programas escolares de lá.
Confesso que
quando a minha comadre falava com a mãe não compreendia rigorosamente nada.
Achei muito interessante quando vi esta locução empregue no texto do escritor.
Um texto que
serve de crítica como por exemplo nesta frase dele… a ignorância pura e dura.
Na precisão
a locução perfeita é: "Nanica de nada." Isso porque outrora falavam
para não se manjar nem um escasso de banana previamente a repousar.
A misera
desgraça sentida e a agnosia... e que em um texto literário qualquer verbo pode
ser utilizado, desde que com significação
Percebo que
para avassalar na existência e imbuir apreço reputa-se de ser sisudo. Porém,
não somente me é complicado atingir idoneidade como não a possuo em fina-flor
importância.
Nas
realidades austeras, compraz-me a integridade por escassos minutos, ou
idêntico, a uma, duas, três momentas por dia.
No
excedente, compraz-me os aludidos humorísticos, as facécias, o sarcasmo e as
falsidades (humbugging) lúcidas.
Mas não são
proveitosas.
Atrapalham
os comércios.
Pois a mais
das ocasiões possuo de harmonizar-me com criaturas iletradas ou ignorantes.
Elas são constantemente austeras. Carranca de uma honradez repugnante: como
chalacear com elas se não apreendem facto algum? Suas trombas austeras são o
instintivo disso. Tudo é enigma e obstáculo para a sua agnosia e selvajaria
porque, como nos cornúpetos e nos sepulcros … os bichos possuem semblantes tão
sérios! A honestidade se veicula pelos seus lineamentos fisionómicos.
O indivíduo
alegre é frequentemente espezinhado, não logra superior apreciação, não induz
muita segurança.
Daí que eu
me arrisque em exibir aos distintos um cariz sisudo. Auxilia muito os acordos.
No intímo, todavia, estou gargalhando e me regozijando à larga.
Um dos dons
dos desmedidos estilistas é causar com que, pelo seu jeito de aplica-las,
verbos arcaicos cedam de decisão desusado. Eles sucedem com a maior ingenuidade
nos teores deles, ao passo que nos de outros alvitram lesadas ou extra de loco.
Isso se incumbe à sensatez e juízo de tais autores, que possuem erudição se –
tão-somente se – o vocábulo em prescrevo pode ser utilizado e patentear-se
primorosa encantadora ou glotologia imprescindível: e nesse caso ele somente é
arcaico de designação. Encaminharam- no de regresso à existência as inatas
imposições de uma tendência robusta ou Imperceptível. Não é um defunto exumado
-como na circunstância de autores senão competentes, mas um sublime físico
atiçado de uma inércia durável e restauradora.
E concluo
bem ou mal a análise do texto com locuções do grande escritor: Nadica de
ignorância, daquela que associa a eloquência Ser constantemente no
"era" cede de ser grosseira, converte-se irrepreensível, se o
iletrado entrega-se de físico e espírito a merendar e saborear as salsinhas da
idiotice, aquela que resume o anseio imaculado, patente da natureza do nada do
intelecto e sentimento e o íntegro das realidades.
Ana Júlia
Machado
Devo
confessar que nada me é sabido do que escrevo, e mesmo que após a escrita leia,
releia não me é dado sabê-lo, no momento da inspiração, intuição, percepção no
instante da escrita - confessá-lo não é vergonha alguma para quem respeita os
mistérios da Arte, da Literatura.
Tinha em
mente uma sátira prosaica, mas não me passara nem por átimo de segundo esta
profundidade da obra que você, amiga e discípula Ana Júlia Machado, e é a sua
crítica literária de excelência a auxiliar-me a saber, compreender, entender o
que há de profundo na minha obra, e com este conhecimento posso inda mais
mergulhar na obra e criar outras dimensões de meus pensamentos, ideias, ideais
e utopias, a filosofia que tanto sonho em estabelecer.
NADICA DE
NADA É ISTO AÍ! De excelência o seu ensaiar a fenomenologia esta prosa
satírica.
Gracias
muchas, querida por tudo!
Beijos
nossos!
**NADICA DE
NADA**
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira Neto: PROSA
Engolir o
nada inteiro, mesmo mastigando bem, é difícil: pode ficar atravessado na
garganta e levar a egregíssima pessoa à morte, pode ser indigesto, causando
indesejável diarréia, daquelas que é melhor ficar sentado no vaso o dia
inteiro, gritando alguém: "Traz um gole de café para mim!" ou
"Traz o meu suquinho de jenipapo". Então, como o nada é delicioso, só
de falar nele a boca fica saturada, o aconselhável é comê-lo às nadicas,
pedacitos pequeninos, sente-se-lhe o gostinho, um primor. Nadica de nada à
passarinho com um aperitivo faz-se necessária a moderação.
Não é só
comestível o nada, a nadica de nada, serve a outros propósitos sutis e são mais
que recomendáveis para a vida fresca e saudável.
Nadica de
palavras para dizer o que se pensa e sente, não um resumo, não uma economia,
não uma síntese, mas a essência, mais ou menos o "dizer na lata" dos
paulistas e paulistanos.
Palavras à
nadica de nada frontalmente é pior que o sacratíssimo sapo seco na garganta por
sempre, jamais se terá resposta, a nadica obstrui os neurônios, necrosa os
miolos e o cidadão por toda a eternidade ficará con-templando ao léu do vazio a
imbecilóidia. Deus me livre de palavras à nadica.
Nadica de
preconceitos, discriminações... Conforme forem eles a Lei bate com o martelo,
ver-se-á o sol nascer quadrado, as estrelas convexas e côncavas. Mas
preconceitos e discriminações à nadica, dose a dose, côdea a côdea, soma o
absoluto da verdade, e nem Deus vai negar: de bago em bago enche-se o papo.
Nadica de
preceitos morais e éticos: o bem não vence o mal, o mal não é vencido pelo bem,
o eterno é a redenção das contingências, o efêmero é a ressurreição das náuseas
e vazios, nossa, a vida no mundo e no além é a plenitude do tempo, de trigo em
trigo, de joio em joio, a bestialidade dos conceitos e definições se fazem
presentes, presentificam-se nas frestas do vazio das nadicas do nada, do nada
de nadicas.
Nadica de
valores eternos, do absoluto das verdades imortais, temperada com sal grosso,
pimenta malagueta, se se quiser, pimenta do capeta, limão galego, desperta e
alimenta os instintos do coice afiado para as hipocrisias e simulações, só a
sombra delas, ainda que furtiva, já leva um tão, tão bem dado que atravessa
todas as fronteiras do inferno, indo parar nas terras serenas do
"PQP". Aconselha-se o temperado moderado porque as orelhas da pessoa
podem ficar em pé, tempestade de vento não as abana mais.
Nadica de
poemas de amor endereçados à amada, sem revelar o nome do remetente,
acelera-lhe o coração, faz-lhe sentir aquele frenesi na libido, só lhe restando
ler as obras de Apuleio ou as do satírico Manoel Ferreira, para o clímax
perpétuo.
Nadica de
solidariedade, com tempero à moda gaúcha de churrasco, de maledicências,
farsas, dissimulações, é asseverar com garantia e segurança, depois do Juízo
Final, frente ao eminentíssimo São Pedro, refestelar na sombra da Árvore Proibida,
antes de ir para as prefundas do inferno, o paraíso celestial é apenas
baldeação.
Nadica de
taradice, temperada a molho pardo de frango ou galo velho, canela de perdiz de
preferência, faz a vítima do estupro gozar de paixão e êxtase, a violência é
fissura do capeta por estar no lugar do tarado. Aconselha-se ao tarado colocar
meia xícara de açúcar no molho pardo ou na canela de perdiz, caso contrário
jamais, em tempo algum, sua "coisinha" se erejerá... De tarado a
viado o limite é ínfimo, num átimo de segundo a ruela gira.
Nadica de
analfabetismo, daquela que conjuga o verbo Ser sempre no "era" deixa
de ser imperfeita, torna-se perfeita, se o analfabeto entrega-se de corpo e
alma a comer e degustar as salsinhas da estupidez, aquela que sintetiza o
desejo incólume, insofismável da essência do nada da inteligência e sensibilidade
e o absoluto das verdades.
Nadica de
nada - leitura não assídua, pois que o risco de nadicar pilhérias, mangofas,
sátiras, sarcasmos, ironias, cinismos, assim isentando-se por completo da
consciência de que o mundo e as coisas são risíveis, dizem haver sido castigo
de Zeus por o considerarmos o deus dos despautérios, e nadica de nada é o
manifesto da humanidade em prol da liberdade e da fissura por criar o mundo -
existe e sempre existirá, mesmo que o Tempo seja abolido, o futuro é para a
frente e para trás e para os lados.
Nadica de
quem sou, de quem vive de mim e por mim, só no nada do efêmero; vazio, náusea
do ser e não-ser satisfazem o meu apetite do eterno, ressurreição, redenção, na
contingência mesma estarei degustando o sabor das concupiscências da liberdade
e do livre-arbítrio.
#RIODEJANEIRO#,
04 DE MARÇO DE 2019#
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