#REQUINTE E RIGOR NA ANTECIPAÇÃO DE ACONTECIMENTOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto/Graça Fontis: PROSA
Meus olhos
fixos na lâmpada suspensa no teto do quarto, não piscam, estão fixos... Em mim
dentro, sentimentos e emoções ad-versos fluem, assisto ao espetáculo sensível
com respiração comedida. Lua solidão. Estrela solidão. Uni-verso silêncio.
Horizonte silêncio. In-finito vazio. Verbo vazio.
"Você
precisa de alguém?", ouço voz quase silenciosa diante de seu sussurro
perguntar-me. A voz penetra-me: afigurou-se-me a voz da sabedoria, que só em
instantes mui especiais se revela. "Não preciso de ninguém.... Preciso de
amor, não me serve qualquer amor." Se me perguntassem com que voz
respondi, em que tonalidade, diria com voz de carência acompanhada da ausência
de compreensão, não conhecia esta carência tão profunda; não sussurrei, não
murmurei, voz de quem está com amigos jantando num restaurante, aquele diá-logo
tranquilo, um "causo" no ar. Aprecio um causo. Armo as minhas
próprias armadilhas com ele. Viver é um perigo.
Centelhas de
tremores reverberam nos interstícios d´alma o que ínfimo mostra-se, representa-se,
chamas de ousadias configuram medos e entrega, o que silenciar de solidões,
estrangeiras idéias das coisas, dos homens, se não perquirir recônditos de
passagens e momentos, se não in-vestigar a liberdade de con-sentir ser-me quem
de mim artificiar... serpentes aninham no recanto de becos sem saída, estarão
seguras e protegidas dos passantes, gaivotas pousadas nas canoas, bem
empinadas, sentindo o vento a perpassar-lhes o corpo, crepúsculo de sol ameno,
sombrio, o que ad ogivar as perspectivas de agora e aqui, que de vista alcançar
e retirar sentimentos, emoções, suspira o coração, o sangue efervesce nas
veias, a mente estende as nuanças de ideais às tangências de ventos que sopram
desejos, aspirações, anseios, sibilam danças e bailados de ocasos da Antiguidade,
quiçá não sejam asas das águias que registraram no espaço as lácias quimeras
que perpetuam o caminho de primevos sussurros, primitivos murmúrios, defasados
cochichos de antanhas perspectivas do aqui e agora...
Feto,
féretro... A claridade me fere os olhos, mãos cheias de dedos no ar, os dedos
movem-se como a digitarem letras... O abismo é fundo, muito fundo, estou
caindo... Antanhas perspectivas vistas ao léu de quase desdém, mas caminhar é
preciso em apoio à conciliação às crises inexplicáveis do coração e alma no
mesclar de tristes lamentos e nas alternações proporcionais à realidade cuja
vida refuta imitações do real inda a ser explorado com requinte e rigor na
antecipação de acontecimentos que descambam pretéritos na confragração dos tempos
contemporâneos ao deflagarem esperanças e fé...
... que como
as flores do pântano ao saírem ilesas dos impactos causais de seus semelhantes
humanos, necessários, feitos moinhos de ventos ao moverem exemplos inequíveis e
inexplicáveis entre novas mazelas num linguajar melodioso e altissonante na
interação criativa dos momentos.
Por
favor.... por favor... me socorram: caindo, estou caindo, as mãos tremem... Meu
Deus, meu Deus.... Estou caindo, o buraco é muito fundo.... Quero o mundo,
quero, quero o mundo... Por favor, tirem-me daqui, tirem-me daqui...
Grito...
Lá na venda,
lá na vendinha, é lá que tem aquele caderninho de linhas pretas... Palavras sem
nexos, nexos sem palavras... Meu Deus, me tire deste lugar... Não quero sumir
neste buraco sem fundo... Há uma neblina a cobrir os objetos... Parece que o
quarto está girando.... Mas o que é isto? Um cachorro em disparada, rabo entre
as pernas, corre e late, corre e late... a rua deserta...
Ave Maria,
cheia de graça... cheia de graça... Não sei rezar, as palavras me faltam...
Por favor,
me ajudem, peço que me ajudem... Mãe ouviu meu grito na madrugada... Correu.
Estava deitado no chão, olhos estatalados em direção da janela que dormiu
aberta... Com dificuldades me colocou na cama... Deitou minha cabeça no colo...
Começou a rezar.... Minha mãe já é falecida... Estou sozinho no meu casebre.
Vivo de mim, vivo sozinho...
Meu Deus,
quero o mundo... Por favor, estou no vazio... Não me abandone, por favor. Ave
Maria cheia de graça, cheia de graça entre as mulheres... Não sei rezar. O
ventilador está ligado, não sinto o ventinho dele no corpo, toco-me, os dedos
tremem, nada sinto em mim... tudo me fugiu, tudo me foge... Minha Mãe
Santíssima me ajuda... Estou dentro do vazio, o mundo se esvaiu inteiro...
Preciso
escrever, não consigo me levantar da cama... se é que estou deitado numa
cama... Não sinto nada debaixo de mim... Preciso escrever...
É a minha
salvação... Ave Maria, cheia de graça... Estou caindo num buraco sem fundo, sem
fundo, sem fundo, sem fundo...
Deixo-me a
con-templar o cadáver sobre a cama, com simpatia e carinho. Tudo me foi, fora
morrido... mas a vida... seria que continuasse?
#RIODEJANEIRO#,
26 DE MARÇO DE 2019#
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