**CANTO DAS RÃS** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA METAFÍSICA
POST-SCRIPTUM:
As línguas de trapo cantam interpretações errôneas que é uma beleza.
Esquecem-se a interpretação de Sátiras só são verdadeiras se o for na
**Terceira Margem do Inter-dito**, senão "Canto das Rãs" do gauche
brejo do bosque.
Oh liberdade
de mim, uma noite de só língua cansa! Antes língua a noite inteira do que
dormir sem língua alguma - sono com carência linguística é desagradável: a
noite custa a passar.
A primeira
língua do homem, a língua mais uni-versal, a mais enérgica e a única de que se
necessitou antes de precisar-se persuadir homens reunidos, é o grito da
natureza. Mas haja natureza para uma noite só de língua. Os instintos mais
prementes reclamam por outra coisa.
Como esse
grito só era proferido por uma espécie de instinto nas ocasiões mais prementes,
para rogar socorro nos grandes perigos ou alívio nas dores violentas, pujantes,
não era de muito uso no curso comum da vida, onde reinam sentimentos mais
moderados.
Quando as
libidos dos homens começaram a estender-se e a multiplicar-se, e se estabeleceu
entre elas comunicação mais íntima, procuraram sinais mais numerosos, gestos
mais excitantes, e uma língua mais extensa com a pontinha mais fina, assim
podia tocar o brotinho dos sentimentos e das emoções com mais desejos, mais volúpias,
e as palavras silenciam-se todas, os suspiros comedidos ou estapafúrdios diziam
a língua do prazer, do gozo.
Dizem as más
línguas que assim nasceu o cantar das rãs à beira da lagoa, os suspiros
comedidos ou estapafúrdios que diziam a língua do prazer e do gozo as
emocionavam e agradavam pois que não havia na respiração delas interferência
alguma de pronomes, elas não procuravam pronomes para o coaxo, nem os usava
mesoclítica, enclíticamente nos verbos da tonalidades aguda dos coaxos, não
procurava performances dos sons para o coaxo resplender-se inda mais, apenas
colocavam o som nos devidos lugares, nem se viam nalguma moldura pintadas no
instante do canto. Mas até a travessia do coaxar, que é a língua das rãs, ao
cantarem, quantas noites de só língua foram necessárias.
Sinceramente,
fico estupidificado com a força, com o poder da língua: faz a rã cantar ao
invés de coaxar à beira do brejo gauche.
Todo o cais
é uma saudade de pedra!
E quando o
navio larga do cais
E se repara
de repente que se abriu um espaço
Entre o cais
e o navio,
E quando os
barcos chegam da pescaria noctívaga
As gaivotas
sobrevoam e vão se alimentando
Dos restos
do pescado servido aos homens,
Saborear o
peixe sob pratos diferentes,
Vem-me, não
sei porquê, uma angústia recente,
O que eu sou
hoje é terem vendido a casa,
Restam as
lembranças, re-cordações de todos os instantes,
Vividos,
vivenciados, presentes nos sentimentos e emoções,
De quando em
vez aparecia uma rã coaxando no quintal,
É terem
morrido todos,
É estar eu
sobrevivente a mim-mesmo como lareira no bosque a ascender as chamas das achas…
Estar
vivendo, convivendo, existindo chamas
Que acendem
da liberdade o sentido da realidade....
#RIODEJANEIRO#,
24 DE MARÇO DE 2019#
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