#AFORISMO 53/ZÉFIRO DE ALJOFAR INCANDESCENTE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"Esta é a minha solidão: que estou circundado
de sonhos e utopias do Ser, da Verdade" (Manoel Ferreira Neto)
Epígrafe:
"O ver-se no estreito âmago do existir, o
incontestável paradoxo existencial torna-se arrebatador, fomentando e fundindo
todas as inspirações" (Graça Fontis)
Nas minhas trevas de veredas sumidas, enveladas,
escondidas, rumorejo uma cantilena, ou discorro na perpetuidade de ânimos
derradeiros e restantes que residem o seio clemente, e repiso pianinho, quase
em calada, uma designação, quase em mudez, uma resignação.
A sós comigo, através o meu redentor e as boninas
apanhadas no lusco-fusco, que adornei o servente-cosmos de meu cubículo, o
engenheiro-caos de meu casebre, submerjo nas lágrimas bentas transformadas em
sortes e jucundidades, na aragem escuridão diluviando sobre mim a compadecida
umidade da pacificação e de todas as angélias excelsas e sagradas.
Às costas dos sábios e doutos de plantão, por
inter-médio da compulsividade e esganação, características do ser rebelde,
insolente, que ornamentei outros modos e estilos de con-templar as
contingências, colhendo as inspirações, intuições e intenções da vida como ela
em verdade, cabendo-me criar-me, re-criar-me, inventar-me linguagem de
aspirações do Ser.
Tantos devaneios de riqueza, tanta expectativa, que
do talento o sucesso, desejando a zéfiro de aljôfar incandescente, incita à
rogativa imponente, entoando dos períodos as notas e mercês da imperecível
realidade, recitando das frases de inteligência e sensibilidade os ritmos e sarapalhas
do inolvidável real, verdades que regem a vida - "É preciso ter vontade da
verdade, caríssimas ovelhas de rebanho. Caso contrário, a mentira e a
hipocrisia elevam-se ao topo do Olimpo."
Alongo-me eu, perplexo e repleto de hesitações,
aperto sem términos, entre a eternidade e o érebo com as energias activas e
impetuosas, nada mais consigo avistar [quem sabe não cobice confeccioná-los,
não tenha querer de distender os olhos até o infindo, esplender a voz até o
inacabado] senão um portento que consome incessantemente todas os interesses,
completando-os após ressurgirem, para de novo desbaratá-las, as hesitações,
esparramá-las por todos os cantos e recantos.
Não foi à cata de deleite ocioso e condenável que
principiei de me assistir dos eventos da existência, não somente me assistindo
de uma dádiva que me foi entregue, de uma tenção desassisada com que sustentei
o âmago, não foi à busca de arrebatamento fugaz que principiei de me cuidar das
concepções do harmonioso, acepções das sensibilidades sedentas de pulcritude
que residem, não simplesmente me favorecendo dos devaneios que em mim acarreto
interiormente. Foi para considerar o distinto de mim que fundeei cavado no
incógnito, em pesquisa de quem sou que me cedi ao eterno de poemas e opostos,
de aforismos e contramãos.
Geladas são as mais íntimas fontes da morte na
alma: um bálsamo para as mãos quentes e criativas, atuantes.
(**RIO DE JANEIRO**, 22 DE JULHO DE 2017)
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