#AFORISMO 25/TEMPLUM EXILADO NO TABULEIRO DE XADREZ# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Centelha de verdades...
Que brilha momentaneamente, o que são as in-verdades no palco quotidiano
das tragédias e comédias, tragicomédias de sofrimentos, ideais, dores,
angústias, prazeres, felicidades, inseguranças, nada mais sabendo em que solo
trilha os passos, nos picadeiros os riscos de queda do trapézio, no instante do
espetáculo, no "set" de apresentações e de-monstrações de dons e
talentos das trevas de todas as ausências, coisas que re-presentam e são
testemunhos, assim pisa a humanidade os seus pés no solo de poeiras, trincado
pelos raios fortes do sol assíduo e constante, nas alamedas e becos de dejectos
dos princípios, normas, regras, dogmas e preceitos, vestes à vontade, às
sara-palhas das tradições, de sujeiras que a massa deixa nas suas andanças,
criando e re-criando costumes e hábitos, crenças e credos acorrentados e
algemados a visões que não permitem a entrada da liberdade, "abaixo o
livre-arbítrio", "... as ovelhas devem seguir o pastor...", a
escolha de um piquenique nas idéias e pensamentos individuais, re-colhendo de
seus in-auditos a presença, a verdade que abre todos os uni-versos e horizontes
para outras utopias, desejos e vontades, sonhos e esperanças...?
O que são estas in-verdades, oh centelha de verdades?
Centelha de liberdade...
Re-trospectivas imagens re-fletidas no espelho, intros-pectivos
pensamentos re-velados à luz das chamas de achas no fogão a lenha,
circuns-pectivas idéias e ideais a-nunciando-se por inter-médio de uma chama de
fogo na vela, o castiçal sobre a mesa, a janela aberta, a estrada coberta pelas
galhas das árvores, uma reta de quinhentos metros, instante propício e singular
para um mergulho nas ausências e vazios, o que falta, o que falha, de que
carece, e o vôo solene para outros projectos e utopias...
Poetas, seresteiros, boêmios, solitários, vagabundos, toda a gente comum
perambulam pelas ruas à cata de alguém, de companhia que lhes possa desvirtuar
dos problemas inúmeros, da solidão e dos medos, do silêncio e da cor-agem. Os
apaixonados contemplam as estrelas e a lua sentados à varanda de suas casas,
trocando palavras de amor e carinho, até que os séculos se consumam, e eles
sejam símbolos da Vida, isto é, a Vida é amor, eles amaram e como amaram.
Já que a flecha foi atirada, cuidar para que ela não tenha sido atirada
inutilizando o arco, solapando um dos movimentos necessários para tensão.
Oh, centelha de liberdade, projectos e utopias são as vossas origens, o
que com-preender de vossos passos, traços e marcas?
São as dialécticas, contradições, nonsenses!
Dialécticas das in-verdades e verdades, silêncios e algazarras.
Contradições das causas e efeitos, das decisões e consequências,
Nonsenses do belo e do feio, do artista e do tigela alguma, quê
espectáculo dramático!
Centelha de pensamentos conscientes...
Choveu o dia inteiro; por volta das cinco e meia da tarde cessou. Por
entre os sulcos, onde o milho está nascendo nalgum lote, a água corre em
riachos. Os homens hoje não foram ao mercado, ocupados que estão em abrir os
sulcos para que a água encontre novos leitos e não arraste consigo as
sementeiras tenras. Andam em grupos, navegando pela terra encharcada, sob a
chuva, quebrando com as pás os torrões macios, reconstruindo com as mãos as
sementeiras e tentando protegê-las para que o milho cresça sem dificuldades,
sem problemas.
O tempo nublado. O céu escuro, carregado. À noite, o céu sem estrelas,
lua... aquela sensação de... Não sei o que dizer, expressar que identifique o
que me perpassa a alma. Pesar? Desgosto? Tristeza? Desolação?
Tais sentimentos vez ou outra se anunciam, revelam-se, cumprimentam e se
apresentam para o grande espetáculo, sem limites para terminar, sem fronteiras
para as conseqüências dentro dos homens. Não importa se os olhos nublem, a
respiração quase não se mostre, o coração se reduza, se aperte, queira sair do
peito, deixar aquele lugar de todos os sentimentos e emoções vazio, está
precisando de um momento de sossego e paz. Admiremos, curtamos, louvemos ou
odiemos os homens, e têm aí a pachorra de responder: “Dependemos de você.
Chamou-nos, não? Se querem que vamos embora, depende de vocês?”. Não deixa de
ser verdade. Mas a petulância com que nos dirigem a palavra é insultante,
ofendem-nos muito fundo. Noutras palavras, tais sentimentos são normais na vida
humana.
Centelha de Sentimentos...
Qualquer ruído de vozes.
Qualquer altissonância de sons.
Qualquer desafino de ritmos e melodias.
Chamas atingem gritos.
Qualquer silêncio
Do abismo.
Qualquer solidão
Da colina.
Vôos alçam as esperanças todas
De liberdade,
Inda que endossando com sangue
Os subterrâneos de hoje, ontem, amanhã...
Há pensamentos de futuro, longe, na fadiga cúmplice dos insurrectos,
Proscritos, hereges, súcias.
Templum exilado no tabuleiro de xadrez.
Enfrente à mancha da parede e da marca de luz inerte.
No berro das coisas
Só uma serpente pode acasalar-se
Com outra serpente.
Assim como o fogo queima o fogo,
o veneno envenena o veneno
e as tempestades arrastam as tempestades.
Verdade
Que decifra a vida em perigo.
E do vento das tempestades
Arrasta a morte para a morte.
Até que defronte aos meus olhos
O inimigo enxergue a sua própria morte.
Noite.
Nada jorra. Algo perdido, e quase mesmo tornado cinzas, retorna ao
sibilo de sons coníferos. Cinismo, hipocrisia, tudo silencia.
(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE JULHO DE 2017)
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