#AFORISMO 67/INSTANTE DE INTROSPECÇÃO DA ALMA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: Aforismo
"Imagem espelhada, mas que não se vê refletida, não se lhe vê a
face..." (Manoel Ferreira Neto)
Epígrafe:
"É nas faces do tempo o inscrever-se angustioso do olhar
ininteligível dos sentidos multifacetados do próprio existir."(Graça
Fontis)
Mas onde encontrar o silêncio indispensável à força, o longo hausto
graças ao qual o espírito se recompõe, a coragem se mede a si mesma, a
liberdade pensa a si nos auspícios da abertura completa às outras dimensões da
dignidade e da honra, re-fazer-se, pós tremeliques das consequências, pré
arrogâncias e soberbas das decisões?
Mas onde encontrar a pura solidão, atrás do silêncio, às custas da
desértica re-flexão do ser-só na solidão da id-ent-idade do estar-no-mundo, o
halo divino de outros nós graças ao qual a eternidade e a imortalidade se me
afigurem a entrega por inteiro, somos feitos para a graça?
-*TEMPO*
São todos os sítios,
São todos os olhares,
São todos os sonhos,
São todas as utopias,
São todos os desejos,
São todas as esperanças,
São todas as vozes,
São todos os silêncios,
São todas as solidões
Persigo a multidão.
Estivesse eu em uma fase de profunda angústia e depressão, aliás, isto é
bem verdade, de nada iria adiantar fugir, engabelar-me, não me superaria de
modo algum. Precisava sim assumir-me. A intenção era sim de identificar esta
depressão, desde o início de minha atitude, fundamentada e fundada, de
proscritar a indecência, e desejo sim expandir a sua compreensão, dizendo
coisas que não o fiz antes por uma questão de não estar disposto a seguir outra
trilha, outra vereda, senão a compreensão e entendimento da depressão.
Acontecesse o que acontecesse comigo.
Mas onde encontrar a nostalgia em seu estado lídimo e probo de delírio,
devaneio, desvario, nutrindo-se dos éritos das vãs esperanças, dos medíocres
sonhos, ridículas utopias da glória, para o insofismável mergulho na náusea da
verdade nas sinuosidades do eterno e efêmero, do bem e do mal, da in-verdade e
mentira, quando se re-vela nítida e nula a alegria breve da consciência de que
o "paraíso" se faz na continuidade das persistências, insistências,
das labutas?
-*TEMPO*
São todos os desenganos,
São todos os erros,
São todas as ilusões,
São todos os fracassos.
São todas as vitórias,
São todas as decepções,
São todas as glórias,
São todas as desilusões,
São todas as faces iguais,
São todas as horas sem paz,
São todos os humanos indo
E vindo na multisolidão.
Alma de sombras e brumas, crepúsculos de desejos e vontades envelados de
tristezas, melancolias, o trem da glória segue os seus trilhos, passando pelas
pontes, águas correndo, seguindo a trajetória dos caminhos, no alvorecer
nublado, a glória continua na linha férrea, passeando vazia pelos dormentes,
nas ruas ainda desertas, os boêmios levam a guitarra no ombro, dedilham nos
sentimentos das nostalgias pre-cursoras das notas das utopias efêmeras.
Fecho o diário. Os olhos param num sítio qualquer. Observam e nada
percebem. Vão cair na armadilha das coisas. Não fossem os olhos, a condição
seria tão só vaga idéia, abstraçãozinha medíocre. Existem. Jamais reparei que a
existência estivesse nos olhos. Penso, sinto e raciocino através deles. Saíram
do lugar em que estavam localizados. Dor horrível nas órbitas. Saí trucidado.
Dilacerado até ao fim. Imagem espelhada, mas que não se vê refletida. A
superfície plana.
-*TEMPO*-
São chaves erradas,
São lágrimas vertentes,
São trancas trancadas,
Preciso socorrer-me.
Persigo o Tempo!...
(**RIO DE JANEIRO**, 28 de julho de 2017)
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