#AFORISMO 39/PÔQUER DOS INSTANTES-LIMITES# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"Esperança:
tirar a carne do tempo, deixar o osso do eterno, aliviar as pernas de tanto
andar, nunca ficar passando a noite, madrugada, observando os idílios".
(Manoel Ferreira Neto)
Epígrafe:
"Saber-se
no limite é o grande salto para a completude da iluminação" (Graça Fontis)
Curvilíneos
fragmentos de pretéritos abismos nítidos, nulos, trans-versalmente ardentes, cintilando
aos raios de numinoso sol, não seria fantasia, idílio porque entardecia, tempo
neblinado, melancolias, nostalgias de efígies e imagens que me habitavam o
íntimo, sorrisos furtivos e amareliçados de saber era infeliz e não sabia,
conhecia a infelicidade, restava-me a atitude insofismável, mas fui criando
quimeras para envelar as tristezas e a-gonias, mas no verbo delas, que gira o
catavento do morro de ventos uivantes, saciasse a sede da liberdade. Quiçá
necessitasse descobri-la nos interstícios da alma, dando-lhe segmentos para a
jornada rumo ao que trans-elevasse, trans-cendesse a mim.
Nonadas
de vazios eram carências nos recônditos dos sentimentos de amar o verbo de
sonhos que se localizam no mais inter-dito do ser. Vivencial e vivenciária era
a infelicidade, mas as chamas de velas no castiçal no parapeito da janela
aberta para o in-finito mostrava-me por intermédio de vocábulos apocalípticos a
felicidade acenando-me de longe, chamava-me para o suculento banquete, regado a
vinho português, lá do Porto, onde as águas do mar, tocando as docas, concebiam
a música das etern-itudes, sorria circunspecto, os olhos brilhavam de
introspecção. E, num instante, manhã de chuvinha fina - esta chuvinha fina está
presente em mim sempre, quiçá seja ela o símbolo, metáfora da inspiração, como
o rio de águas límpidas é o signo da iluminação, como o re-verso e in-verso e
re-verso, a síntese, são linguagem e estilo da vontade de estética; alfim a
consciência-estética-ética só é possível, só se realiza com a síntese entre
"inspiração" e "iluminação" -, recostado à janela, perguntei-me, absorvendo
a nicotina do cigarro com tanta paixão que me engasguei com a fumaça, tossi de
modo enrouquecido: Onde este amor? Onde esta paixão? Onde este carinho e
ternura, amor lá das entranhas uterinas do uni-verso pleno da verdade? Onde
esta felicidade? E quando? E quando desvelar para realizar?" Seguia o
destino, destino este o útero do tempo e ideologias da vida me reservaram, o
olhar projetado ao além dos pretéritos aquém do vir-a-ser. Este amor, quem
sabe, revelar-se-ia, meu corpo aquecer, trouxesse quem sou, imperfeito e louco,
não enclausurado numa cela do perfeito e imaculado.
O
verdadeiro amor, concebido no silêncio da madrugada, far-se-ia presente, alfim
mesmo que a nonada do silêncio versificada de solidão do não-ser, a liberdade
haveria de se a-nunciar na luz da manhã, no trans-correr da temporal-eresis,
não iríadas, na simplicidade e humildade, sempre a mesma praça, sempre o mesmo
jardim, a esperança incrustada no meu ser. "Esperança: tirar a carne do
tempo, deixar o osso do eterno, aliviar as pernas de tanto andar, nunca ficar
passando a noite, madrugada, observando os idílios".
A
esperança não é só a luz pro-jetada ao in-finito, cântico dos cânticos do ser
por verbalizar o acontecer da verdade - que é aquilo que sobe do deserto como
colunas de fumaça? também ela tem o seu pretérito imperfeito, o mais dos
gerúndios que postergam as circunstâncias, mister, sine qua non deixá-las nas
curvas de poeiras que as estradas levam ao vento, alfim nascem num idílio de
segundo de angústias, tristezas, náuseas, medos, vômitos, e tudo à frente são
reflexos de luzes para olvidar o crepúsculo da morte.
Cumpre
des-vencilhar os subjuntivos desta esperança pretérita, não mostrará as
perspectivas do absoluto, não a-nunciará os ipsis dos pers de silêncios e
solidões, simples esperança por nada, o nada efemerizando o há-de perene ser.
Esperança trans-lúcida, esperança sem margem que abre os caminhos para a água,
águas seguirem livres e seren-itudináriais... A liberdade precede a esperança
originária da fonte primeva, da vida, vivê-la é o des-velamento do mistério do
silêncio das ipseidades na solidão de peregrinar pelo deserto. A liberdade tem
os seus ases, quatro, de por baixo do punho da camisa res-ad-jacente à
superfície da mesa de jogo.
Então,
primeiro ser livre, brincar como criança com as cartas, depois sentir plena, na
mente do ab-surdo o ser em-si mesmo, de estar em verdade à busca do
mais-que-pretérito, do mais-que-infinitivo, do presente mais que nada da vida
em essência da ipseidade do efêmero, dialética do nada e absoluto.
Hoje
- que palavra divina é esta! Que palavra surda do "ab" particípio da
gnose da genesis! Contudo, sinto, verdadeira e espiritualmente, o espaço do
inter aos "stícios" do sempre estar andando, caminhando re-verso e
in-verso as imagens refletidas atrás do ser-espelho das nonadas do tempo
esquecido de memórias, lembranças, recordações do efêmero de ser.
Liberdade!
Alfim sou livre, resta-me a esperança ao longo do tempo sob os longínquos e
distantes pre-nuncios do nada e da náusea do jogar o pôquer dos
instantes-limites.
(**RIO
DE JANEIRO**, 14 DE JULHO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário