#AFORISMO 26/O SILÊNCIO, EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, GUARDA UM SENTIDO QUANDO OS OLHOS FALAM...# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"A
idéia de mundo é o esgarçar da fantasia, entre os caprichos de Bovary e o
Medalhão de Judas, o Eucariotes." (Manoel Ferreira Neto)
A fuga
da morte confere inautenticidade à existência que se desenrola em meio a um
faz-de-conta, dissimulador da irrefutável possibilidade... A vertigem é
silenciosa. O silêncio, em última análise, guarda um sentido quando os olhos
falam... compreende a dinâmica do Ser no Velar e Des-velar, na identidade e na
diferença, na unidade e na multiplicidade, no invisível e no visível, no
indizível e no dito, no silêncio e no discurso. Alucina a busca – ímpetos de
estrangular o que nunca emagrece, ossos decompostos estralam unhas que
desviaram no regaço e na alcova.
Bem
fundo em mim – à face do “Eu Sou”. Meu Deus!... À face do “Eu Sou”. Muitas
águas têm de passar debaixo da ponte até isto real-izar. Apreender o processo
de sou-quem-sou na elaboração do verdadeiro. Aí, sim... São as estradas
percorridas em busca das águas, seguindo o rio sem margem, sem pressa.
Estreito-me em toques. Conscienciado ser. Sou água seguindo em águas. Sou
silêncio em busca do além de mim. Penso, logo admito.
Trilho
o des-facelamento. Confusão. Perdição. Caminho para o vazio. Escravo nos
pensamentos, atitudes de não... São os primeiros passos, então é a experiência,
tenho de aprender as coisas na lida, passo a passo, problemas, dificuldades,
medos, angústias, pequenas alegrias e prazer, a felicidade está distante. A fé
de que irei encontrar as águas, sigo o rio sem margens, sem pressa. No meio do
mundo, sendo-em-sendo, em ida e volta. Música, luz semimorta.
Carinhos
roçagam a carne vermelha e em chamas. A palavra resvala o sentido de mim.
Rasgar-me por inteiro, vomitar as entranhas, sangrar-me, destrinçar-me,
tirar-me inteiro de mim, iniciar tudo, desde as origens. Palavras árduas,
contundentes. Cinto batendo em mim e resultando em carne viva. Realidades
multifacetadas e dispersas. Atravessar o projeto de mim no retorcer do vento.
Como enfrentar-me?
Minúcias
recontadas... Por ser quem sou, o que projetasse de mim, não seria quem sou.
Eu, quem? Comecei disperso e ansioso, um tanto medroso, hesitante... Ah, deixa
isso pra lá. Ah, se tivesse podido. Orçava a boa despesa de meus mortos.
Onerava a máxima dívida. Equilíbrio. Forjava a forma do falso. Dialogo,
exercitando censuras, negligencio arbitrariedades. Dissimulo solidões. A idéia
de mundo é o esgarçar da fantasia, entre os caprichos de Bovary e o Medalhão de
Judas, o Eucariotes.
Refletia
a vivência, este Crucifixo de São Paulo:
“Ainda
que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou
como um bronze que soa, ou como um címbalo que tine”
A vida
é sempre um primeiro instante, o minuto, o segundo primeiro, não a hora e o
relógio que a indica, somando a outros dias e anos. As águas do rio tinham
parado, assim como os pensamentos; o barco estava virando, tocando a sereia. As
janelas manchadas nada deixavam ver, a não ser a luz fria da água. A máquina
ficara silenciosa. Só a noite chorou consigo a sua dor, com uma esperança
longínqua de chamas e silêncio.
Equilibrar
a sombra com a luz, enquanto branco do cisne, da página, ou enquanto nudez, é
apenas uma revelação, talvez até demasiado lúcida e óbvia em sua nitidez, de
algo intrínseco e inerente ao desafio que... Como se não fosse ocorrer um dia
na sombra.
Morrer
é um só detalhe – pensando neste detalhe, percebe um pouco além de conseguir a
caminhar. A decisão parece-lhe inconsequente, absurda, radical. Sugere-lhe o
prolongamento de suas dores, angústias, tristezas.
(**RIO
DE JANEIRO**, 10 DE JULHO DE 2017)
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