#AFORISMO 32/TRAVESSIA DO TEMPO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
EPÍGRAFE:
"Viver
por si já é sem tempo" (GRAÇA FONTIS)
Quem
me dera fosse eu a poeira da metafísica de um poema e que os meus pés pisassem,
tocassem o solo da vida!
Quem
me dera fosse eu o sem-margem, o sem-pressa do rio e que con-templasse o
itinerário das águas que versejam a travessia do tempo, do caminho, do espaço,
do que há-de vir de veredas e sendas!
Quem
me dera pudesse crer a verdade do verbo é a verdade do verso para além daqueles
que o encontram no sonho que tecem de encontro e alegria!
Quem
me dera ser eu o Respeito à Vida, à Paz entre as criaturas, as Mãos
Entrelaçadas entre proscritos e pessoas de bem, todos vivessem, envelhecessem,
morressem livres e serenos.
Quem
me dera pensar no que há nos confins de horizontes d´alhures e sentir na
memória as estrelas não são senão estrelas, a lua não é senão a lua, o brilho,
a cintilância de ambas não são senão brilho e cintilância!
Quem
me dera pensar o pensamento que pensa o in-audito, o in-cognoscível,
tornando-lhes chamas calientes do coração, fluindo sentimentos de entrega,
doação, afago, ideais de koinonia do desejo e da verdade, utopias de
con-templação das con-tingências, ECCE HOMO!
Quem
me dera o que permanece velado, quando adoto a perspectiva das ciências não
fossem apenas as atividades que têm lugar no espaço das razões, as atividades de
intérpretes racionais e agentes!
Quem
me dera trazer a alma vestida de palavras que trans-cendem o verbo do
substantivo aforismo, aliás, categoria da regência da vida, perguntando a mim
próprio, em voz lenta e serena: por que sequer atribuo eu ritmo, musicalidade,
melodia aos sentidos de mim, ao que me define com uma precisão redondinha de
notas?
Quem
me dera ouvisse os sinos de uma capela pequenina a que fossem à missa
crisântemos, samambaias e os córregos. As almas plenas da exegese do amor e da
cáritas!
Quem
me dera a existência verdadeiramente real do proprietário da vendinha de secos
e molhados que fuma o seu paieiro, olhando macambúzio a água da chuva que corre
para o bueiro da rua!
Quem
me dera o destino de minhas águas escondesse o rio que corre alegre e
saltitante como quem se cansa de estar triste!
Quem
me dera!... Quem me dera!...
(**RIO
DE JANEIRO**, 12 DE JULHO DE 2017)
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