#AFORISMO 52/CENTELHAS DE PRIMAVERA NA FLORAÇÃO ORQUIDISIACA DO AMANHECER DE SIMPLES ESTESIAS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
"De vozes que ecoam nos lamentos, os cânticos de
melancolias..." (Manoel Ferreira Neto)
Epígrafe:
"Pretéritos perdidos no tempo afloram sinfônicos saudosismos no
presente" (Graça Fontis)
Falas silenciosas, vozes mudas...
Sabe, viajante do sublime, acreditava poder ser feliz. Acreditava num
mundo grande, onde os homens pudessem se saber solidários, compassivos, onde de
mãos dadas se satisfaziam com as conquistas dos outros. Acreditava que a minha
rua daria nas estrelas... a fresta de uma árvore, em verdade, um mangabeira,
daria no infinito, na eternidade.
Fios de outono nos anéis do orvalho, centelhas de primavera na floração
orquidisíaca do amanhecer de simples estesias, pormenores tão menos são cobras
que se auto-devoram pelo rabo, nuanças de dores e sofrimentos adentro longas
noites de insônia, vigília de letras e sons, de vozes que ecoam nos lamentos,
os cânticos de melancolias, nuances de verdades e vazios que se entrecruzam.
Que saudades têm os homens da fronte em busca do poente, do riso atirado
na luz de orquestra e flores. Que saudades têm os homens do antiquíssimo fora
de si, do turbilhão lento de velhas canções, serestas, na imaginação sobre os
olhos da vida regrada, acompanhada de linhas que traçam a essência da Vida
revelada como Amor, um amor total destituído de todo egoísmo, particularismo,
sentimentalismo – é este amor absoluto de um homem por outros seres, onde
reside o poder de criação, mergulhando raízes na mais Verdadeira Tradição.
Arrebiques de raios de sol crepuscular incidindo na soleira da montanhas
onde as ondas tocam, batem, que espetáculo de fino esplendor, poente de imagens
nas nuvens, pássaros sobrevoando o vale, parece um homem passeando ao léu...
quiçá o talento de plasticiar na tela a pintura desta re-velação
artística-espácio, recolheu-se, outras nuvens cobrem o espaço, outra imagem se
a-nuncia.
Imagine, viajante do sublime, arquitetei dizer o que habita a alma em
todas as suas dimensões, arquitetei ouvir o silêncio, ouvir-me sendo.
Arquitetei, de passo a passo, descer os degraus da escada, arquitetei o
conhecimento de quem sou, de onde a-colher, re-colher as seivas de sonhos e
utopias, do espírito da vida. Cri poder compor a sinfonia da liberdade.
Peregrino estelar, seguindo a luz diáfana em ondas de raios faiscantes,
luminosos, a busca itinerante de a-nunciações de estrelas cadentes que mostrem
o sítio inicial de outras definições, concepções, acepções da verdade,
in-versas metáforas e estesias dos princípios de relíquias do eterno-divino,
liberdade absoluta à luz dos tempos.
Assoma-me que só subsisto em momentos de ápices eternamente invulgares.
Alvoroços e sensibilidades são distintos. Como se experimenta no mundo,
a veracidade é o isolamento. É o ser quem aporta sofrer e comover-se,
estremecer-se mesmo. Terá aprofundado por integral em seu âmago, Integrado
dele, pesaroso. Isto a que cognominam jazer-se, é-me um inexecutável
encavacamento, exíguo confrangimento. Atinjo-lhe a profundeza, submergindo mais
e mais no que está despontando em mim. Não alcanço perceber mais o termo
isolamento.
A comparência breve no tempo. Agenceio a singularidade no imo e alma.
Atalham-me de achar um adeus genuíno, causais a plangência e a insipidez de tão
imensuráveis são.
(**RIO DE JANEIRO**, 21 DE JULHO DE 2017)
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