#AFORISMO 31/A MICAGEM DA DIGNIDADE ENSINA AO MICO QUANTO É MACACO O HOMEM DIGNO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Se
eu entendo, se eu a-[preendo], com-[preendo]. Se há na verdade com que
idealizo? É a manhã que desvela tudo, exaustões e amores, inépcias e paixões.
Ignaros cochilam, encarcerados também. A terra afundada, a universalidade
imagina destemor e volúpia, a eternidade fantasia cor-agem e covardia. Único
objeto, numa rocha de treva circulada de tudo, é este sítio que anuvia, vazio
de seus mistérios. Amores, ódios não nos são ditos. Aliás, itens... Emudeceram
vontades e histerias.
O
arvoredo sombrio de além confunde-se na generalidade das trevas. E, no meio
deste negrume universal, distingo apenas luzes disseminadas, que são
convidadas. À distância, na superfície de tudo, há reflexos de fogo descorados,
verdes, vermelhos, amarelos.
Não
fosse o convite, assim tão rápido e compulsivo de atenção, desejando fazer as
cenas, como seria este arvoredo sombrio de além? Estivesse sim diante de uma
árvore e fosse tomado por estes pensamentos? Deva de ser mui lindo e
charmoso!...
“Ainda
que as diferenças conheçam o oráculo obscuro da luz,
Se
o enigma das mãos unidas não reunir o espírito,
O
toque será vazio,
A
carícia reconhecerá escuridões;
Ainda
que os sonhos particulares timbrem apelos à eternidade,
Se
as dúvidas cortam os corpos vulcâneos,
Esperanças
avizinham mortíferas flechas,
Gritos
despojam mortes transcendentes.
Se
hei-de usar o amor e a verdade
Para
com a vida, desço à fonte e tiro a água;
Se
não, fico des-obrigado de minha presença e, então,
Toco
com as mãos os estatutos do obsceno”.
Sinto
um frio intenso no olhar. Olhar as coisas intensamente de modo frio seja o mais
difícil de ser feito, entra-se nelas por inteiro e talvez a mente não deseja
mais retornar. Não é só de desfrutar a presença o desejo. Não é só de degustar
as palavras a vontade. Com evidência, mesmo sendo eu o único a reconhecer isto,
a Paz tem um Sabor. Não é só um anseio a sensibilidade pura. Habito-me e sou
habitado. O desejo de quem sou daí me expulsa. Sou levado às antípodas do
infinito, onde só a subjetividade é capaz de perceber-me. Creio dever pedir-me
desculpas, e por que não o devido perdão?, por ser homem extremista,
compulsivo, e, sendo assim, preciso carregar bem no sentimento para que seja
capaz de sentir com todo o seu esplendor e resplendor.
Trago-me
ao mais longínquo aquém do ventre, de onde só a intuição é capaz de revelar-me,
de onde, no entanto, deixo escapar o sendo, e, tornado sentido, continuo a
tecer imagens, como antigamente.
A
mais linda recordação só se revela como um escombro da paz. A mais bela
lembrança só se manifesta como um vestígio da felicidade. A mais excêntrica
melancolia só se envela como um resquício da alegria. Os olhos brilham
intensamente. Antes, o mais difícil era olhar as coisas intensamente, o frio
que se sente nele, agora, o mais simples é o brilho do olhar. E quem dera eu
pudesse saber desta transformação que se foi elaborando no espírito, soube as
veredas por onde caminhou, as alamedas por onde andou!... Não o posso, a lacuna
é suficiente para se perceber que não se é possível mesmo esclarecer todas as
meiguices insolentes do inferno. Não lhes posso destacar dos repiques dos
sinos. Vivem um amor, sentindo a sua presença. A mais exótica e estética
lembrança só se apresenta como um resquício de calma. Crio-me para en-velar a ausência.
Crio para velar a presença que promete vir a ser de algum modo. Quiçá
vers-ifique as contingências, ipseidades, facticidades, solipsismos para fugir
léguas de quem estrofa melosidades do amor e da vida de solitário, carente,
abandonado no mundo de amores não-correspondidos. Semelhança há, mas se referem
à superfície. Sorrio na profundidade – “A MICAGEM DA DIGNIDADE ENSINA AO MICO
QUANTO É MACACO O HOMEM DIGNO", - um perfeito sorriso infantil: só me
resta manter uma relação de realidade com quem sou.
O
menor pingo de orvalho da noite, lágrima que seja, em me umedecendo a
fisionomia, já se me torna amável realidade. A mais estilística memória só se
aflora como um real abstrato. A respeito da alma, fico apenas como uma
interrogação. Uma paixão flameja como uma chama por todo o ser. Não me importa
a mim, sendo uma correspondência íntima. Nos sentidos e significados, da alma a
presença não sinto. Por estar envolvido, por não aceitar, o que está sendo
revelado despercebido passa.
A
antiga devoção renasce, cheia de fervor sentimental.
(*RIO
DE JANEIRO**, 11 DE JULHO DE 2017)
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