#AFORISMO 14/IMAGEM DA SOMBRA NO CHÃO QUE É DE GIZ# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Sim,
mas agora, enquanto dura esta manhã de ideais e pro-jectos além dos lotes vagos
da inconsciência e alienação, além dos jardins de delícias da terra maculada de
idolatrias fúteis, reverências indecentes, este tempo de após chuva por toda a
madrugada, esta neblina que cobre a montanha, esse friozinho ads-tringente, as
flores, as folhas respingadas, essa paz que sinto no mais profundo de mim,
quiçá por querer, ter vontade de cavalgar noutros prados, embora seja
inacreditável, seja-me con-sentido crer o que jamais poderei ser, seja-me
permitido nada saber do que já sei, do que desejava saber.
Ser de
sou, em mim o verbo,
Que
re-nasce, re-nascendo o re-nascer,
Que,
re-nascendo o re-nascer, re-nasce o ser-da-vida,
Sou de
ser, nos re-cônditos da alma,
A luz que
alumina a morte e vida do verbo,
Iluminância
que ilumina a vida e o eterno-do-ser,
Ilumin-idade
que dessedenta a carência
Ilumin-itude
que des-fomenta as ausências
Da
sabedoria das Palmeiras do Inverno.
Ergo-me
para uma nova manhã, manhã docemente viva, manhã efetivamente presente em todas
as coisas, especialmente nas minhas retinas – quem dera pudesse con-templar as
imagens que perpassam as minhas pupilas! quiçá as volúpias e êxtases fossem
mais pujantes! A minha felicidade é pura, é o reflexo do sol na água, é a
imagem da sombra no chão que é de giz. Cada acontecimento vibra em meu corpo
como pontas finas de estalactites que se espedaçassem, que se tornassem
simplesmente pó ou areia. Depois dos momentos curtos e profundos, mínimos e
abismáticos, vivo com serenidade e calmaria durante longo tempo, quase
impossível conceber a sua extensão, diria em termos dos alhures aos augures,
com-preendendo, recebendo, resignando-me a tudo, sendo-lhe indiferente de todo.
Parece-me fazer parte do verdadeiro mundo e estranhamente haver-me distanciado
dos homens, haver-lhes desconhecido, ser indiferente a eles, se existem, se são
frutos de imaginação fértil, isso muito pouco diz-me respeito, isto muito pouco
me desperta para outras jornadas em busca da verdade. Embora neste instante
consiga estender-lhes a mão com uma fraternidade e solidariedade de que eles
sentem a fonte viva. Falo-lhes das próprias dores, falo-lhes dos desejos e
esperanças, falo-lhes dos sonhos e da fé, e eles, embora não ouçam, não pensem,
não falem, têm um olhar bom, um olhar compassivo.
Ser de
quem sou...
A
verdade me falta na continuidade do tempo,
O
eu-de-mim é a busca dela:
Vivo
manuscrevendo as entre-pedras de suas estradas,
As
pedras em fileira das peças artísticas dos tempos de Martha Moura,
Sinto-me
tecendo as linhas poéticas
Do
diamante que risca o éter do apocalipse
Dos
pretéritos das genesis às luzes das etern-itudes...
Distante
da margem do rio de águas turvas, o impenetrável bosque de fetos verdeja ainda;
é um bosque de folhas ondulantes, no qual o gado, pisando, traça permanentes
veredas. Como nos dias da meninice, abria passagem violentamente, através da
espessura, fundindo-me entre as plantas altas, nadando com as mãos, e
procurando, às apalpadelas, onde pôr o pé. Inseto e répteis assustavam-se à
minha aproximação.
(**RIO
DE JANEIRO**, 06 DE JULHO DE 2017)
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