**POST-SCRIPTUM** - Manoel Ferreira
Fantasia, utopia ridícula de quem pensa que de imediato matéria escrita
e publicada tudo se modifica, quanto mais de personalidades da cultura. Levam
anos e anos para alguma modificação. E não modificam porque houve a publicação,
a personalidade da cultura escreveu, mudam por outras razões. Aliás, na
mudança, é que muitos vão saber da matéria publicada.
Sou mais conhecido que notícia ruim na comunidade curvelana, por meu
caráter e personalidade incisivos, digo o que penso sem pestanejar, publico,
desde que o diretor do tablóide con-sinta. Aquando desta matéria, só se viam
olhares de esguelhas, punhos armados, comentários e mais comentários desde
esquinas, portas de botequins, interior da igreja, hora da missa. Queriam me
crucificar. Recebi até conselho de amigo: "Saia de Curvelo por uns
dias". Não fiz isso. Mas ninguém, ninguém mesmo teve cor-agem de chegar a
mim e questionar, agredir fisicamente. Sabiam que a língua era destilar seus
ácidos ainda mais pujantes.
Passaram-se anos, oito anos em verdade. Ao longo deste tempo, amigos
comentavam comigo: "Putz!... Aquela matéria sua no tablóide E Agora?,
Covil de Gênios, deixou os acadêmicos de espartilhos na mão". em 2015, a
grande notícia; a Academia Curvelana de Letras foi desativada. Nada mais há lá.
Não há mais encontros entre os confrades, não há mais eventos. Mas continua
registrada no Cartório. Espero que futuramente o registro no Cartório seja
eliminado. Espero pacientemente.
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**COVIL DE GÊNIOS**
A genialidade outrora era conhecida fundamentalmente através de homens
que criaram, fizeram de seus patrimônios artísticos e culturais alimentos para
os homens de suas gerações, para a posteridade, obras que são raízes para a
nossa transformação cultural e humana, obras que engrandecem o mundo e a
existência humana, obras que são Vida.
Vivemos num mundo onde os paradigmas sofrem mudanças, e por isso nos
encontramos perdidos e vazios, os valores essenciais aos homens e ás
comunidades tornaram-se desprovidos de senso.
Falando de genialidade, de gênios que engrandeceram o mundo e a vida, a
transformação é sublime, numa palavra, “genial”. Se outrora os gênios tiveram
de criar, fazer suas obras artísticas, culturais, na música, nas
artes-plásticas, literatura, científicas, sofreram na carne o
“diabo-que-o-pão-amassou-o-rabo”, sofrimentos contundentes e pujantes para
revelarem seus valores éticos, morais, culturais, artísticos, na atualidade a
questão é outra. Que outra! - vale enfatizar, ressaltar e sublinhar.
Dizendo respeito exclusivamente à Literatura, a genialidade adquiriu
mais força, mais êxito, mais transparência. Não se é mais necessário escrever
obras, expressar-se através das letras, obras que engrandeçam o patrimônio, que
revelem valores morais e éticos que atendam às necessidades de nosso tempo, de
tempos vindouros. Suficiente ser membro de academia de letras e já são
imortais, eternos.
Há aqueles que nada escrevem, não escrevem nem bilhetes, e ocupam
cadeiras de escritores sem o serem. Interessante é que não sofrem na carne
problemas de toda ordem, não têm visão de mundo, não sabem nem por onde passam
os valores literários e artísticos. Academias de Letras têm como função e
objetivos valores eternos, valores que sustentem as necessidades estéticas, éticas,
morais dos homens. As academias imortalizam, eternizam tais valores.
Na atualidade, esses são os “oportunistas da imortalidade”, ocupam
lugares que não são deles, imortalizam-se, eternizam-se pelo nada, nada
deixaram de obras literárias, nada deixaram de valores eternos nas letras, nada
deixaram de visão de mundo e de necessidade da humanidade no estilo e na
linguagem. Tais academias são os “covis de gênios”, usando metáfora sutilmente
reveladora.
Bem, a questão se fundamenta no concernente às gerações futuras, às
gerações de todas as épocas. Impossível saber o que outras épocas dirão a
respeito de nossa época. Mas, com certeza, dirão de nossa literatura atual que
era uma verdadeira farsa; referindo-se às academias, dirão que fulano,
beltrano, cicrano eram membros de “covil de gênios” – enquanto os verdadeiros
gênios tiveram que construir seus valores, estes já eram imortais sem qualquer
construção. Sugeriria eu que tais academias de gênios, que possuem sede,
construísse um cripta para eles serem enterrados nela, com uma placa de mármore
suspense na parede: “cripta de gênios” ou “cripta de oportunistas da
imortalidade”. Isso é bastante sério.
Muitas vezes pensamos que isso acontece apenas em academias de cidades
do interior, não isto é uma realidade nacional e mundial. Quanto a mim, quem
questiona isso com incisividade, conheço essa realidade no Brasil inteiro. É a
minha responsabilidade com a comunidade que represento. Por exemplo, tenho
notícias fidedignas de que estudantes e professores de faculdade, de curso
fundamental e médio, quando se fala na nossa literatura curvelana, ambos viram
os rostos e desconversam, numa atitude clara e transparente de repúdio e
preconceito. Não lhes tiro a razão, ao contrário, parabenizo-lhes por essa
atitude, pois que os nossos verdadeiros artistas, escritores, artistas
plásticos estarem desconhecidos por que não se lhes valoriza, não se lhes
reconhecem os méritos, dons. No entanto, há os que nada escrevem e são
conhecidos, adquiriram até renome. Isso é um absurdo.
É necessário que a nossa comunidade curvelana tome consciência dessa
questão assaz comprometedora para a nossa memória cultural e artística,
interferindo, exigindo responsabilidade e compromisso com a nossa cultura, com
a nossa arte. Cultura e arte são nosso patrimônio, o que temos a legar ás
gerações futuras, ao nosso patrimônio.
Infelizmente, poucos são os que conhecem tal realidade, não por culpa ou
responsabilidade deles, mas por tal métier ser acessível só a alguns. Se a
literatura está em mãos de pequenos grupos, obviamente não é literatura, são
ideologias e interesses.
Quando se fala de “escritores”, “artistas”, deixa-se logo revelar que
são pessoas, homens com valores éticos e morais que podem transformar a nossa
realidade, pode tornar nossa vida repleta de realizações não egóicas, egoístas,
egocêntricas, mas universais. Ser escritor é buscar, é desejar, é querer outra
realidade que não essa que estamos vivendo e, portanto, sofremos bastante. Ser
escritor é transformar, e trans-cender o meramente quotidiano.
Se estamos questionando, é que sabemos o valor de um patrimônio
cultural, estamos preocupados com a nossa geração futura e não apenas com a
nossa.
Manoel Ferreira.
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