**TABERNÁCULO DO ETERNO - ELEGIA AO NADA** - Manoel Ferreira
O espírito do nada per-vagando solícito a estrada de acesso a outros
sítios, a outras realidades, per-seguindo as abóbodas do tempo, poeira deixando
nos pretéritos da distância, pisando outras poeiras, sentindo-as presentes na
sola dos pés, companheiras de peregrinação as margens.
Sendas, veredas, trilhas...
Nada solitário, nada silencioso, nada introspectivo, nada circunspecto.
Nada que se projecta além da ponte partida, além do mata-burro, além do abismo,
além das águas do rio, trans-cender as con-ting-ências, trans-cender o campo
que é de queimada, envolver-se na colheita do trigo, do arroz, do feijão, das
frutas que saciam a fome, a sede, o seu eidos não tem limites, o seu
"it" é o in-finito, onde entregar nas mãos feitas concha do silêncio
in-fin-itivo o húmus para a luz do verbo, para o som rítmico e melodioso do
ser, para a iríase do espírito.
Nada que re-nasce do encontro com o In-finito, encontro de volúpias e
ex-tases do que é o eterno. O nada traz em seu alforje o sonho, em sua mochila
as utopias da liberdade, em sua algibeira a esperança do pleno. Por que
percorreria as con-ting-ências do não-ser não fosse o projeto de re-nascimento,
re-fazimento? A vida não lhe estenderia suas mãos para caminharem juntos não se
comungassem, no In-finito serem uno-verso do verbo eterno do absoluto que é a
dialética do trans-cendente que trans-cende a trans-cendência do eterno,
trans-cendência e eterno.
Nada silêncio, nada solidão, nada in-finitivo do tempo, nada pretérito
das imperfeições e indicativo do vir-a-ser.
Nada herege à luz dos dogmas e preceitos, nada proscrito à mercê dos
preconceitos e discriminações, mas nada que eiva o coração de dimensões de
sentimentos outros do inter-dito da sensibilidade, inter-dito que são
visão-do-espírito, visão-do-ser. Nada que re-conhece o coração ser o templo da
espiritualidade, ser a efígie dos ideais da perfeição.
Quanto mais o nada peregrina na metafísica das poeiras da estrada mais
sente a presença do vale florido do In-finito. Quanto mais a vida, sendeira da
luz, trilha a gnose do há-de ser mais sente o desejo, o volo de no In-finito
uni-versar o pleno. Quanto mais o nada e a vida entrelaçam as mãos na jornada
verbo-do-ser-adentro mais evangelizam as sendas silvestres da esperança do
"Ser", essa dimensão trans-cendental que inscreve a ec-sistência no
TABERNÁCULO DO ETERNO.
Manoel Ferreira Neto.
(25 de fevereiro de 2016)
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