**NA RELVA DOS OÁSIS** - Manoel Ferreira
Quem sou, o que sou? Quiçá isto não tenha o mínimo sentido, menor valor.
Se sei quem sou ou o que a criação de quem sou faz-me ser, leva-me ao ser.
Terei respostas para quem sou? Se hoje sou o verbo de meu ser, amanhã serei o
nada do verbo.
Talvez um dia eu venha a saber quem sou, o ser de mim se me revele
trans-parente e límpido. O que a minha razão insolente, inquieta e ao mesmo
tempo meiga e perspicaz sabe é que nada sei de mim. Sou o quê? Não sei. Não sei
se sou.
Como os grandes valores do ser e do não ser são difíceis de situar! O
silêncio, onde está sua raiz, é uma glória do não-ser ou uma dominação do ser?
Ele é "profundo". Mas onde está a raiz de sua profundeza? No universo
onde rezam suas preces as fontes que vão nascer, ou no coração de um homem que
sofreu? Em que altura do ser devem aguçar-se os ouvidos que escutam? Ah, de que
silêncios precisamos nos lembrar na vida que passa!
Sou separado, sou pai, sou divorciado, sou amante, sou amigo, sou
namorado, sou filho, sou irmão, sou ex-professor, escritor, poeta, sou dócil e
grosseiro, sou disperso, sou perspicaz. Sou tudo isto e nada sou. O ser é,
alternativamente, condensação que se dispersa explodindo e dispersão que
retorna até um centro. Um mundo imenso ainda me escuta, mas não existo mais,
transformado somente e unicamente em um ruído, que vai rolar séculos ainda, mas
destinado a apagar-se completamente, como se nunca houvesse existido.
Na relva dos oásis o silêncio do "sou", de quem
"sou", me faz repousar, dirige-me às águas do repouso, no repouso me
faz repousar... Ah, ah, no repouso me faz repousar. Meu ser ele restaura e
conduz-me nas sendas do amor, nas veredas dos sonhos.
Manoel Ferreira Neto.
(28 de fevereiro de 2016)
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