PENSAR E PENSAMENTO DA MESTRA E AMIGA Rita Helena Neves NO OBJETO "O ARMÁRIO, O PORÃO E O SÓTÃO"
"O escritor tem como tarefa desvendar os mistérios do verbo em
todos os níveis de mundos: do inferior ao superior. Cabe ao escritor a árdua
tarefa de desvendar os mistérios dos mundos: inferior, terreno e superior
etéreo, infinito, divino, através do verbo... E, você, Manoel Ferreira Neto,
faz isso com maestria! Por isso a minha identificação e admiração à sua obra
magistral! " (Rita Helena Neves)
**O ARMÁRIO, O PORÃO E O SOTÃO**
Dedico com amizade e reconhecimento esta obra à Mestra Rita Helena
Neves.
Nas prateleiras da memória - versos versais trans-versam ritmos e
melodias do soneto de imagens - e nos templos do armário - versos trans-versais
versam acordes do poema um espírito racional não quer atingir.
O armário era sem chaves!... não foram perdidas, não foram escondidas.
Era sem chaves o grande armário que guardava as minhas vestes limpas. Por
vezes, olhava sua porta cinza sem chave! Era estranho aquele armário não ter
chaves. Era esquisito observar a fechadura, o orifício por onde introduzir a chave,
era um orifício virgem, permaneceria virgem por sempre. Sonhava muitas vezes
com os mistérios adormecidos entre os flancos da madeira, mistérios
insondáveis, mistérios inauditos, tão simplesmente mistérios. Como poderia lhes
des-vendar? Era um armário sem chaves. Acreditava ouvir, de dentro da fechada
fascinada, maravilhada, um barulho distante, vago e alegre murmúrio.
Deixei o armário. Nunca poderia saber o porquê não tinha chaves, era um
armário sem chaves. Mergulhar nos mistérios adormecidos entre os falncos da
madeira era quimera, era fantasia, sorrelfa deslavada.
Observava os poucos livros na estante ao lado de minha cama. Dormia
observando os livros, o que lhe havia dentro, as palavras.
Como uma amizade, a palavra às vezes se enfuna, ao sabor do sonhador, na
argola de uma sílaba.. As palavras - imagino-o frequentemente - são casas com
porão e sótão. O sentido comum reside aquém do orifício da fechadura, reside no
nível do solo, sempre perto do "comércio exterior", no mesmo nível de
outrem, este alguém que passa e que nunca é um sonhador. Subir os degraus da
escada na casa da palavra é, de degrau em degrau, abstrair. Descer ao porão é
sonhar, é perder-se nos distante corredores de uma etimologia incerta, é
procurar nas palavras tesouros inatingíveis. Subir e descer, nas próprias
palavras, é a vida do escritor. Subir muito alto, descer muito baixo; é
con-sentido ao escritor unir o terrestre ao aéreo, a contingência à
transcendência, o Nada ao In-finito. Só o filósofo será condenado por seus
semelhantes a viver sempre ao rés-do-chão.
Surpreendo-me a viver nas palavras, no interior de uma palavra, momentos
íntimos.
Manoel Ferreira Neto.
(25 de fevereiro de 2016).
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